Mas ela teria Grim.
— Acho que sei onde está o desvinculador — disse Isla. — E tenho um plano para usá-lo… mas n?o só nós duas. — Ela respirou fundo para se acalmar. — Deixe Grim fazer parte do nosso plano original. Vamos dividir o custo de sangue do desvinculador em três.
Ela o salvaria. E, em troca, ele teria que concordar em ajudar a salvar seu povo. Isla n?o sabia como era o amor, mas isso, esse sacrifício… Governantes apaixonados podiam compartilhar poderes. Se ele a amasse também, ela poderia trazer qualquer poder que compartilhassem de volta para suas terras, para salvar seu reino.
Ou, se isso n?o fosse possível, quando sua maldi??o fosse quebrada, Isla tentaria negociar as habilidades Selvagens que ela ganharia em troca de Terra e do resto dos Selvagens que foram levados pelo solo. A floresta na nova terra era conhecida por fazer acordos, e os poderes de um governante Selvagem seriam valiosos demais para serem recusados. Era um sacrifício que Isla estava disposta a fazer para consertar tudo.
Ela queria vencer o Centenário; queria aquele imenso poder prometido, ansiava por isso como um amante. Ela queria o poder Selvagem que lhe fora negado no nascimento.
Mas n?o escolheria isso em troca de Grim. Ou de qualquer outra pessoa com quem se importava.
— Eu sei que você n?o confia nele, mas, por favor… por mim — ela pediu. — Eu te imploro, Celeste. N?o temos muito tempo.
Demorou um instante para Celeste dizer alguma coisa. Isla esperou, imaginando mais raz?es para tudo estar errado, mais resistência, mas a amiga deve ter percebido o desespero dela, deve ter compreendido o qu?o importante isso era. Porque, enfim, Celeste disse:
— Onde está o desvinculador?
Eles tinham um novo plano. Uma última cartada. Celeste faria parte do castelo desmoronar, para atrair Oro para fora de seus aposentos por tempo suficiente para entrarem na biblioteca secreta e encontrarem o desvinculador.
— Precisamos de um lugar para usá-lo — disse Celeste. — Um lugar onde Oro n?o será capaz de interferir se descobrir que estamos com ele.
— O Palácio de Espelhos — disse Isla. Os poderes de Oro seriam anulados lá, mas os encantamentos como o desvinculador ainda funcionariam.
Celeste assentiu.
— Vou pegar o desvinculador. Você traz o que ainda restar do elixir de cura para fechar nossas feridas depois de o sangue ser derramado. E é isso. é tudo o que precisamos trazer para que ninguém suspeite. — Sua amiga engoliu em seco. — Se alguém descobrir…
Um deles acabaria morto. Isla sabia.
Oro parecia t?o frio. T?o ele mesmo, ela percebeu. Tinha come?ado a acreditar que o rei insuportável e desconfiado era uma máscara que Oro usava para proteger a si mesmo e sua ilha.
Agora, Isla se perguntava se a pessoa que ela havia vislumbrado, aquele Oro carinhoso, o parceiro de confian?a com quem ela trabalhou por meses, tinha sido a máscara.
Isla correu para o quarto. Tinha a sensa??o de que n?o voltaria. Depois que elas usassem o desvinculador para quebrar suas maldi??es e Oro descobrisse… ela teria que fugir com Grim. E Celeste. Pelo menos até que os cem dias terminassem e Oro escolhesse outra pessoa para matar e quebrar as maldi??es, ou a ilha desapareceria novamente. Talvez para sempre desta vez.
Isla estava ao pé da cama, tentando assimilar tudo. A parede de folhas. O banheiro de mármore branco.
A cadeira onde Oro se sentou e ofereceu a ela um acordo.
O sofá onde ela descansou a cabe?a no colo de Oro e escutou sua risada pela primeira vez.
A varanda onde ele a ouviu cantar e salvou sua vida.
Ela afastou as lembran?as, fechando a cara. Tudo o que importava para ele era salvar seu povo e quebrar as maldi??es. Ele n?o se importava com ela.
Algo quebrou nas proximidades. Tremores percorreram o palácio. Celeste. Gritos encheram os corredores, ecoando. Ela se apoiou contra o guarda-roupa e soube que n?o demoraria muito para que sua amiga encontrasse o desvinculador e chegasse ao Palácio de Espelhos.
Isla tinha que ser rápida. O cora??o era lindo em sua palma, uma fatia de raio do sol. Parte dela considerou roubá-lo e usar suas habilidades para curar Terra e seu reino, mas tomá-lo condenaria Lightlark oficialmente e os milhares que viviam na ilha. Ela queria poder, mas n?o era t?o egoísta assim.
E por mais que odiasse Oro no momento… Isla n?o iria machucá-lo.
Sua m?o tremia enquanto escrevia a carta para ele. Explicando o que podia.
Quando terminou, seu peito doía, a ferida ainda pulsando em dor. Isso a deixou de joelhos, e lá ela ficou por um tempo, até que a dor diminuiu o suficiente para ela se mexer sem gemer.
Satisfeita por ter dado a Celeste vantagem suficiente, puxou o colar.
Grim apareceu imediatamente. Ela quase desmaiou de alívio, vendo que ele ainda estava vivo. A determina??o nos olhos de Oro tinha sido muito clara.
Eles n?o tinham muito tempo. Mesmo enfraquecido, o poder de Oro era imensurável. E este território era dele. Ele queria que o governante Umbra fosse assassinado e, provavelmente, tinha mil maneiras de fazer isso acontecer.
Ela caminhou até ele. Segurou sua m?o.
— Você confia em mim?
Grim olhou para ela. Piscou.
— Claro, Devoradora de Cora??es.
— Oro vai matar você para acabar com as maldi??es. Celeste e eu nos conhecemos; temos uma relíquia antiga que vai ajudar a nós três. Nós vamos quebrar nossos vínculos esta noite. E depois… vamos ter que fugir.
Ela estudou o rosto de Grim com cuidado. Assistiu a suas fei??es se contorcerem, mas ele n?o pareceu surpreso. Ele tinha previsto que Oro tentaria assassiná-lo?
— Você faria isso por mim? — Grim perguntou, segurando a m?o dela com mais for?a.
Era uma tolice se importar com outros jogadores em um jogo t?o cruel quanto o Centenário, mas Isla n?o podia evitar seus sentimentos.
— Sim. E você vai precisar me ajudar também. Posso precisar de um pouco do seu poder para salvar o meu reino. Eu…
— Vou te dar tudo — ele disse imediatamente. — Tudo o que precisar. Tudo que é meu é seu.
Ela sorriu.
— Isla.
— N?o temos tempo — disse ela, apertando a m?o dele. — Precisamos ir. Agora. Para o mais perto possível do Palácio de Espelhos.
Os olhos de Grim dispararam para a janela, onde a escurid?o encobria tudo.
Ele n?o saía à noite havia séculos.
— Você confia em mim? — ela perguntou.
Grim n?o respondeu. Apenas tocou o cora??o dela. Ela estremeceu com os dedos frios, uma onda passando por ela.
— Seu cora??o — ele disse, franzindo a testa. Ele balan?ou a cabe?a. — N?o pertence apenas a você.
Isla n?o sabia o que isso significava.
Antes que pudesse perguntar, ela caiu no ch?o, em outro lugar.
Eles pousaram, e Grim se preparou. Se Isla estivesse errada, sua pele come?aria a se abrir, assim como a de Oro sob o sol… Ele morreria.