Dizia-se que o custo do desvinculador era de pelo menos um gal?o de sangue de um governante. Isla n?o tinha certeza de como a agulha iria recolher tudo isso, mas talvez n?o precisasse guardá-lo. A agulha provavelmente faria um furo que n?o fecharia até que a quantidade necessária de sangue fosse vertida. Isla tinha trazido o resto de seu elixir de cura para fechar suas feridas quando terminassem.
Um estalo soou na noite. Isla se virou para ver que Grim havia aberto caminho através das cascas das árvores mais rápido do que o esperado.
Eles se encararam através do vidro. Os olhos dele se arregalaram ao ver a agulha.
— Agora — sussurrou Isla, e Celeste enfiou a agulha em sua própria m?o, estremecendo.
— Cora??o, n?o! — Grim gritou antes que ela pudesse fazer o mesmo, alto o suficiente para fazê-la parar. Ele correu o mais rápido que p?de, entrando pela porta.
Mas Isla sentiu uma pontada na palma de sua m?o. Estava feito.
Ela gritou, algo decisivo correndo por ela, queimando como fuma?a em seus pulm?es, sal em sua garganta, faíscas em seu est?mago, mas n?o era sangue. N?o era nada que ela pudesse enxergar.
Isla se virou para encarar Celeste. Os olhos de sua amiga haviam mudado. Estavam mais sombrios, um tom de prateado profundo em vez de cinza-claro.
Ela sorriu de forma maligna.
Isla congelou. N?o reconhecia aquele sorriso. Os cabelos prateados de Celeste come?aram a flutuar ao redor de sua cabe?a. Suas costas arquearam assim que as de Isla se curvaram, subitamente tonta. Sua pele parecia fina demais, e, ainda assim, a pele de Celeste brilhava fortemente. O desvinculador estava tirando algo dela e dando para Celeste. Algo importante.
Grim agarrou a outra m?o de Isla, tentou puxá-la para longe da agulha.
E foi arremessado contra o vidro. Por Celeste, mas os poderes dela n?o deviam funcionar ali…
O Umbra se debatia violentamente contra as correntes que pareciam videiras, os bra?os tensos. Bem naquele momento, a porta se abriu mais uma vez. Oro. Como tinha encontrado ela? Seus olhos cor de ambar foram direto para o desvinculador, e ele empalideceu.
— Isla — chamou suavemente, parecendo mais em panico do que nunca.
Ent?o, se curvou, caindo de joelhos. A ilha estava se deteriorando novamente? Mas daquela vez era diferente. Grim caiu ao mesmo tempo. Ambos enfraqueceram em segundos, como ela, mas como?
De repente, ela foi empurrada para a pedra, longe da agulha, caindo no ch?o no momento em que sua cabe?a estalou contra o mármore.
Isla piscou, a vis?o turva, e Celeste deu um passo em dire??o a ela. O sangue escorria do furo na palma da m?o da governante Estelar.
Seis gotas.
Uma chiou. Uma flutuou. Uma explodiu. Uma ficou escura como tinta. Uma congelou. Uma caiu no ch?o e desabrochou em uma rosa vermelha.
O sangue de Celeste agora continha habilidades de todos os seis reinos.
Impossível.
Era como se ela tivesse acabado de drenar Oro e Grim de todo o seu poder, mas ela nem havia encostado neles… e isso n?o explicava todas as seis gotas…
A cabe?a de Celeste caiu para trás enquanto ela ria. Seus olhos encontraram os de Isla, e ela deu uma risada em zombaria.
— Você n?o é muito boa em seguir regras, n?o é?
Isla estava paralisada no ch?o, a boca aberta. Tinha mil perguntas e n?o conseguia formar uma única, exceto:
— O quê?
— Você deveria ficar longe de Grim, lembra? Eu te avisei… e o rei de Lightlark! Você n?o deveria seduzi-lo, esse n?o era o seu plano, era o das suas tutoras… — Ela sorriu. — Ainda bem que eu esperava que você quebrasse as regras, pequena Selvagem.
Oro tinha conseguido se levantar de alguma forma, embora a cor tivesse sumido completamente de seu rosto. Ele deu um passo à frente, a m?o levantada…
E foi arremessado contra o vidro, ao lado de Grim. Por uma raiz selvagem.
Celeste n?o podia usar suas habilidades Estelares no Palácio de Espelhos.
Ela estava usando poder Selvagem.
— Como? — Isla perguntou. Devia estar sonhando… ou tendo um pesadelo.
N?o fazia sentido… Sua melhor amiga.
Isla estava aos pés de Celeste, encarando-a. N?o estava procurando saídas. Nem tentando alcan?ar a adaga em seu quadril.
N?o podia ser real.
O sorriso de Celeste só ficou mais perspicaz. O Centenário era um grande jogo, ela e Celeste tinham repetido essas palavras inúmeras vezes.
E Isla tinha sido enganada.
— Por que n?o pergunta a eles? — Celeste disse, apontando para Oro e Grim, que pareciam estar a um instante de cair em um sono de cem anos, seus músculos relaxados, pálpebras caindo. Ainda assim, eles lutaram em v?o contra suas amarras. Celeste suspirou. — O amor em Lightlark é uma coisa perigosa, n?o é?
Isla sabia bem disso. Apaixonar-se significava dar à outra pessoa acesso completo às suas habilidades.
— Eu realmente pensei que seria mais difícil… mas você fez sua parte muito bem. Esses dois governantes antigos e famosos caíram aos seus pés como frutos maduros. — Celeste caminhou até eles, zombando. — Grim era fácil. Ele já te amava… Vocês dois têm uma história e tanto… Contudo, acho que você n?o se lembra, n?o é?
Celeste virou-se para Isla em busca de confirma??o, e ela n?o fez nenhum movimento. Ela n?o reconheceu a amiga. N?o podia ser ela… Isla se recusava a aceitar. Celeste encolheu os ombros com a falta de resposta e parou na frente de Oro. As narinas dele se dilataram. Se tivesse seus poderes, apenas seu olhar seria capaz de atear fogo em todos ali.
Mas, no Palácio de Espelhos, apenas o poder Selvagem era permitido.
— O rei desconfiado e cruel… se apaixonou por uma Selvagem? — Celeste balan?ou a cabe?a, sorrindo. — Foi uma tortura, n?o foi, rei? Tentar lutar contra isso. Acreditando que estava sob seu feiti?o… sem saber que ela sequer tinha poderes Selvagens, até que ela lhe contou o segredo.
O olhar de Oro disparou para Isla. Ele parecia em panico, uma express?o que ela nunca tinha visto em seu rosto.
Isla olhou para ele, realmente olhou para ele. Se apaixonou? Celeste tinha que estar errada.
A Estelar se aproximou de Oro. Correu uma unha pintada de prata por sua bochecha.
— Claro, você nunca esteve sob feiti?o nenhum. — Ela deu de ombros. — Isso, pelo menos, deve fazer você se sentir melhor sobre perder cada gota de poder que já teve.
Oro lutou contra as amarras. Grim estava muito quieto ao lado dele, olhando para Isla. Ela sentiu.
Mas n?o sabia para onde olhar. Nada fazia sentido.
Oro n?o podia amá-la. Isla achava que ele nem gostava dela.
Tinha come?ado assim, pelo menos, mas quanto mais tempo passavam juntos, depois de tudo o que fizeram…
Celeste estalou a língua.
— E pensar que eles entregaram todo esse poder para você. — Ela olhou para Isla, ainda no ch?o, e suspirou. — E agora você deu tudo isso para mim.
Ainda n?o fazia sentido. Mesmo que Oro e Grim estivessem apaixonados por ela… Isla n?o poderia simplesmente dar esse poder a Celeste. O desvinculador…
Celeste deve ter lido a confus?o no rosto de Isla, porque completou:
— Nunca houve um desvinculador, passarinha. Isto é um vinculador. O único instrumento encantado que permite transferência de habilidades. Criado para ajudar os reis Solares a transferir o poder para seus herdeiros sem precisar morrer. N?o é mesmo, rei?