Mas nada aconteceu.
Eles estavam na margem da floresta na Ilha Selvagem, sob o encanto do antigo poder Selvagem, que os protegia de todas as habilidades que n?o fossem dos Selvagens. Isla tinha uma teoria de que a floresta Selvagem era um pouco como ela, que a supress?o de poderes também significava que as maldi??es de outros reinos seriam anuladas.
E ela estava certa.
Grim ficou boquiaberto. Olhou para o céu através das copas das árvores, deslumbrado. Ele n?o conseguia acessar o poder sombrio que vibrava em suas veias, mas parecia que a vis?o do céu escuro acima dele era o bastante.
Isla agarrou seu punho.
— Rápido — ela disse, esperando que Celeste já estivesse lá dentro.
Isla mergulhou na floresta morta e Grim n?o se moveu um centímetro. Ele a observou. Os olhos cheios de algo como desespero.
— Cora??o — disse ele.
Ela parou. Algo sobre a palavra… sobre como ele disse…
— Você vai me perdoar? — ele quis saber, estendendo a m?o e colocando uma mecha do cabelo de Isla atrás da orelha.
O cora??o dela bateu uma vez. Duas vezes.
— Perdoar pelo quê? — ela perguntou, dando um passo para trás. Outro.
Grim balan?ou a cabe?a. Franziu a testa.
— Você me perguntou, apenas alguns minutos atrás, se eu confiava em você. Mas você devia ter perguntado se podia confiar em mim.
A floresta n?o fazia um barulho. As folhas mortas n?o farfalhavam. Como se estivesse atordoada, assim como ela.
Ela cambaleou para longe. Disse:
— Como assim? — Sua voz foi t?o baixa, ela duvidou que ele tivesse escutado.
— Cora??o — disse ele. Deu um passo mais perto. — Seus sonhos, aqueles que você queria entender… N?o s?o sonhos.
— O quê?
— S?o lembran?as.
Lembran?as.
Ele de pé diante dela em uma armadura completa. Suas pernas enroladas em volta dele. Seus lábios em seu pesco?o, suas clavículas, nas laterais de seus joelhos.
Os sonhos que ela teve por semanas, aqueles que tornaram difícil olhar Grim nos olhos.
— Do que você está falando?
Grim balan?ou sua cabe?a. Estendeu a m?o para ela, ent?o recuou quando ela se encolheu.
— Você apareceu no meu castelo um ano atrás. E voltou… várias vezes. Usando sua relíquia Umbra.
Isla estava se afogando, tinha certeza que sim. O ch?o se mexeu abaixo de seus pés. Ela agarrou um galho seco para se manter de pé.
— Eu nunca estive nas terras Umbras — ela disse, balan?ando a cabe?a. Recuando mais um passo.
Grim engoliu em seco.
— Você esteve. Só n?o se lembra. Eu tive que recolher suas memórias. Todas que você tinha comigo.
Ela estava ofegante. Como ele se ofereceu para fazer com Juniper.
Uma lembran?a veio à tona em sua mente, a segunda coisa que tinha saído da boca de Grim quando ela pisou pela primeira vez na ilha, noventa dias antes.
Já nos vimos antes?
Grim tocou seu ombro depois, e ela esqueceu tudo sobre aquilo. Ao vê-lo, algo deve ter espreitado o véu que ele colocou em suas memórias. E ele teve que extingui-las com o toque.
Isla piscou rapidamente. Nada fazia sentido. Embora fosse a coisa menos importante que ele disse, sua cabe?a estava cheia de algod?o, e tudo em que ela conseguia se concentrar era:
— Minha varinha estelar é uma relíquia Estelar.
Os olhos de Grim estavam tristes. Parecia estar desmoronando e fazendo esfor?o para n?o demonstrar.
— N?o, n?o é — disse ele. — é de Umbra. — Ele franziu a testa quando ela balan?ou a cabe?a novamente. — De quem você acha que vem o seu poder?
Ela estava sem ar. O dom de Grim era o poder de se transportar para qualquer lugar que ele quisesse. O mesmo poder da varinha estelar.
— N?o — ela disse. — Eu nunca estive nas terras Umbras — repetiu, sua mente girando, a voz embargada. Ela n?o ousara, n?o depois dos avisos de Terra.
A voz de Grim era gentil.
— Cora??o — ele disse firmemente. — Onde você acha que estava antes de entrar no portal para o seu quarto, antes do Centenário?
Isla lembrou-se de chegar em seu quarto através de sua po?a de estrelas, logo antes de Terra e Poppy entrarem. Logo antes de ajeitar a coroa na cabe?a e se dirigir ao povo.
Mas ela n?o se lembrava de onde tinha estado. Vasculhou sua mente, cavando, implorando para as memórias aparecerem.
Nada aconteceu.
Se o que Grim disse era verdade… ela estivera com ele naquela manh?. Ele havia levado suas lembran?as. Ent?o, poucos minutos depois, fingiu n?o conhecê-la. Isla olhou para ele como um estranho familiar.
N?o podia ser verdade. Nada disso fazia sentido. Nada disso.
Há mentiras e mentirosos por toda parte…
Isla n?o sabia o que fazer, o que pensar, em quem confiar, mas certamente n?o confiava em si mesma.
Ou nele.
Ent?o, correu para a floresta que seus ancestrais haviam criado. Grim esperou alguns momentos antes de correr atrás dela. E, fora destes bosques, ele talvez tivesse a alcan?ado.
Mas Isla era rápida como a flecha que havia perfurado seu cora??o. Silenciosa como um beija-flor. Antes, havia cortado a bochecha e os bra?os nessa mesma floresta. Hoje, ela pulava todos os galhos certos. Abaixava-se sob todas as árvores.
Até que viu a si mesma, refletida de volta.
Ela entrou correndo no Palácio de Espelhos, ouvindo passos e estalidos do lado de fora. Através do vidro, observou enquanto as árvores mortas se entrela?avam e formavam uma parede, prendendo-a lá dentro.
A floresta era encantada. Sentia o medo dela? Estava finalmente protegendo a governante Selvagem que n?o conseguia se defender sozinha?
Isla n?o teve tempo de questionar. Grim n?o podia usar seus poderes ali, mas era um guerreiro; levaria apenas alguns golpes bem calculados de sua lamina para passar pelo muro.
Ela quase caiu de alívio quando viu Celeste lá dentro, de olhos arregalados.
— O aconteceu? — ela perguntou, e Isla percebeu que ainda estava ofegante.
Celeste trazia algo nas m?os.
Parecia uma agulha de costura gigante, longa como uma adaga. Pontiaguda em ambas as extremidades. Era parte de ouro e parte de vidro, e brilhava intensamente, como o cora??o.
O desvinculador.
— Nada — ela disse, ent?o balan?ou a cabe?a. — Tudo.
Celeste assentiu, parecendo entender que Grim n?o iria se juntar a elas.
— Eu n?o sei por que você precisava dele, mas vou te ajudar com o que for. Vamos dar um jeito… juntas.
Juntas. Ela havia estragado tudo, mas acreditou em Celeste quando ela disse que encontrariam uma solu??o.
— Precisamos nos apressar, ent?o — disse Isla.
Celeste estendeu a agulha em dire??o a ela.
— é uma coisa rápida. Só precisamos perfurar a pele com isso.