— Eu sei — disse Celeste tranquilamente. — Foi Azul.
Isla se afastou para encontrar os olhos da outra.
— Eu sei. Recebi sua mensagem. — Ela levantou a m?o, revelando o diamante em seu dedo mais uma vez. — Por quê?
— N?o fa?o ideia. Ele deve ter algum plano.
Isla queria sentar e conversar com a amiga, permitir-se sentir alívio por mais do que só alguns segundos.
Mas tinha coisas a fazer.
— Consegui — Isla disse, com a voz embargada. — é uma história longa, terrível, mas… eu encontrei o cora??o. E o usei.
— O quê? — Celeste disse, como se n?o tivesse ouvido direito.
Isla sorriu.
— Vou te contar tudo mais tarde, mas por enquanto… fique escondida e espere por notícias aqui. — Ela deu outro abra?o rápido na amiga. — Tudo isso vai acabar logo.
Ela se virou para sair, ent?o parou. Havia algo que ela precisava dizer.
— Sinto muito, Celeste. Por tudo. Tenho sido uma péssima amiga, uma parceira horrível, mas vou resolver tudo. Eu prometo.
Com um último aperto na m?o de Celeste, Isla correu pelo corredor. A amiga a chamou freneticamente, mas ela n?o parou. Estava anoitecendo. O sol estava se pondo.
Ela correu de volta para o quarto. Grim tinha partido.
Um momento depois, as portas da varanda se abriram.
Oro veio voando e pousou no centro do tapete, sua pele danificada se curando bem na frente dela. Ele tinha voado através da luz que come?ava a enfraquecer, ela percebeu, quando o sol ainda brilhava de leve. O suficiente para queimá-lo, mas n?o matá-lo.
Ela congelou, o encarando.
— Você está viva — ele disse bruscamente, como uma acusa??o, seu peito ainda ofegante. Seus olhos estavam enormes.
Ela assentiu. Houve uma pausa.
— ótimo. — Ele se endireitou. Engoliu em seco. Seus dedos se abriram e o cora??o estava na palma, brilhando como se Oro tivesse estendido a m?o para o sol e pegado um punhado de seu brilho. Parecia menos uma gema agora, e mais uma esfera. Dourada. Faiscante.
— Conseguimos — ela disse, sem f?lego, levando a m?o ao cora??o dolorido. Ela sorriu, embora seu peito parecesse ter sido cortado ao meio.
Oro entregou o cora??o para ela. Ele brilhava em sua palma, piscando.
— Tome um banho, Isla — disse ele. — Vista-se. — Só nesse momento ela notou o sangue seco em seus cabelos, a sujeira em suas roupas. — Ent?o me encontre na biblioteca.
Antes que ela pudesse dizer uma palavra, ele voou de volta pela varanda, desaparecendo noite adentro.
Ela agarrou o cora??o, imaginando como Oro poderia confiá-lo a ela. O rei de Lightlark, desconfiado de todos, tinha entregado o bem mais valioso da ilha para ela. A chave para acabar com as maldi??es. A chave para o futuro dela. A chave da ilha.
Até ela pensou que ele era tolo por fazer isso.
Isla n?o se separou do cora??o, levando-o para o banho enquanto se esfregava rapidamente, sem demorar muito na marca em seu peito, que havia curado ainda mais, mas ainda parecia rosa em sua pele. Uma ferida permanente.
Ela colocou um vestido. Vermelho, como o sangue que havia derramado.
Dez dias.
Eles encontraram o cora??o com dez dias de sobra, mas ainda precisavam correr. A ilha poderia desmoronar a qualquer minuto. Terra poderia morrer naquele mesmo dia. Isla a observara através da po?a de estrelas antes de ir em busca do cora??o com Oro. A única parte de Terra que n?o tinha sucumbido ao ch?o da floresta era a metade direita de seu rosto, um olho ainda bem aberto. O outro estava fechado.
Isla agarrou o cora??o com for?a em sua caminhada até a biblioteca, e ele pulsou em sua m?o. Brilhante. Falando com ela em sua língua estranha, um canto de sereia que prometia poder.
Ele já havia come?ado a dar poder a ela, se sua cura milagrosa era alguma indica??o.
Oro estava sentado na biblioteca, perdido em pensamentos. Encarando um texto sem realmente lê-lo.
Assim que Isla entrou, ele se levantou. Assentiu. Sentou-se de novo e fez sinal para ela fazer o mesmo.
Ele estava estranhamente sério. O rei de Lightlark estava diante dela, n?o seu companheiro de muitas aventuras. N?o a pessoa em quem ela havia passado a confiar a própria vida.
Isla sentou-se e colocou o cora??o entre eles, com cuidado.
— Acho que o usei — disse ela com firmeza. — Acho que ele me salvou.
Oro apenas assentiu.
Ela repetiu a profecia de memória.
— Somente unidos as maldi??es podem ser desfeitas
Somente depois que um dos seis vencer,
Quando o crime original
For cometido novamente
E uma linha de poder ao fim chegar
Somente ent?o poder?o a história alterar
Isla engoliu em seco.
— Nós nos unimos… — ela disse. — Ao longo do Centenário. E todos os governantes estavam juntos na ilha. Essa é a primeira parte. Ent?o, cometi o crime original ao usar o cora??o.
Oro se recostou, as pontas afiadas de sua coroa apontando para os fundos da biblioteca. Ele devia tê-la recuperado, junto com o cora??o, depois que o sol se p?s.
Ele n?o havia devolvido sua coroa. Sua cabe?a parecia vazia sem ela… e também leve. Isla percebeu que n?o tinha pressa de usá-la novamente.
— Você receberá o poder que foi prometido. Vai ser oficialmente a vencedora — ele disse, parecendo despreocupado com o fato. — Quando completar a parte final da profecia.
Isla assentiu, o queixo erguido.
— O último passo, ent?o, é a quest?o de qual reino perecerá. — Oro recostou-se na cadeira. — Como prometido… você deve escolher qual reino salvar.
— O Estelar — ela disse de imediato. Seus ombros se acomodaram um pouco. Ela estava em seguran?a… e sua melhor amiga também. As sobrancelhas de Oro se uniram, em surpresa. Por quê?, ela pensou.
Ent?o seu sangue gelou.
— Quem vai morrer? — ela perguntou rapidamente, sem se preocupar em esconder o medo. N?o mais.
Os olhos de Oro suavizaram, mas o resto de sua express?o permaneceu firme. A face de um rei.
— Umbra, Isla — ele disse gentilmente.
Algo perfurou seus pulm?es, outra flecha, talvez. Sua respira??o ficou ofegante. Ela estava se afogando de dentro para fora.
— Mas você disse que ele n?o podia morrer. Disse que era a única coisa entre nós e um perigo ainda maior.
A partir disso, ela presumira que Grim estava seguro.
Oro assentiu.
— Isso era verdade… Até encontrarmos o cora??o.
A compreens?o foi uma pedrada no peito. O cora??o abrigava um inigualável poder Umbra. Com isso, o rei n?o precisava mais de Grim. Poderia matá-lo e ainda proteger a ilha contra o misterioso perigo.
— E Cleo? — ela perguntou, sua voz zangada, os dedos se curvando. — Eu n?o sei como, mas ela lan?ou as maldi??es. Ela deve ter se unido a outra pessoa que pudesse controlar o cora??o. Ela é a raz?o por trás de tudo isso. — Sua voz tremeu. Seus olhos arderam com lágrimas que n?o caíram. — Ela tentou me matar. Duas vezes.
A express?o de Oro n?o mudou.
— Talvez. E se tiver lan?ado as maldi??es, será julgada.
— Se? — Isla gritou, se levantando.
Oro também se levantou, elevando-se sobre ela.