— As emo??es de uma pessoa têm cores, aparentemente, e as de “Celeste” tinham o mesmo tom que as minhas. Ele descobriu minha identidade imediatamente e estava prestes a me matar, sabendo que minha sobrevivência significava que tinha sido eu a responsável pelas maldi??es. Só que, antes que ele o fizesse, eu disse a ele que a única raz?o pela qual eu continuava voltando para o Centenário com um novo rosto era porque n?o podia descansar até que a linhagem de Egan fosse destruída para sempre. Apresentei a ele um plano que mataria o rei sem condenar todos na ilha, quebraria as maldi??es e daria a ele o controle de Lightlark. Tudo que ele precisava fazer era me ajudar.
— Devoradora de Cora??es — Grim disse, tentando chamar a aten??o de Isla, mas ela n?o conseguia nem mesmo olhar para ele, que e rosnou, lutando contra suas amarras, mas era inútil. — Ela me disse que o crime original tinha sido um governante Solar ter se apaixonado por uma governante Selvagem; Egan apaixonado por Violet. — Sua respira??o estava difícil. — Para quebrar as maldi??es e cumprir a profecia, o crime original precisava ser repetido novamente. Você tinha que fazer Oro se apaixonar por você, mas já estávamos apaixonados. Você teria recusado. Ent?o, precisei roubar suas memórias de nós dois.
Isla mal conseguia respirar. Tinha sido por isso que Grim a evitara durante as semanas em que ela e Oro estavam trabalhando juntos. Ela pensou sobre seu estranho comentário, encorajando-a a dan?ar com Oro no baile.
A voz dele assumiu um tom desesperado enquanto ela ainda se recusava a encará-lo.
— Foi a decis?o mais difícil que já tomei, Devoradora de Cora??es. Saber que ter sucesso significava que você estava seduzindo outra pessoa. Fazer você esquecer a nossa história. Nosso amor.
Foi aí que Isla finalmente encontrou seu olhar.
— A decis?o mais difícil que você já tomou?
Sua voz tornou-se resoluta.
— Eu ia devolver suas memórias. Quando Oro se apaixonasse… e você se lembrasse que me amava… nós poderíamos pegar todos os poderes de Lightlark e governar juntos.
Aurora apertou os lábios.
— E, uma vez que Oro tivesse sido drenado de suas habilidades e de sua liga??o com a ilha, eu estaria livre para matá-lo — completou.
Grim se pronunciou novamente:
— Eu fiz isso pelo meu reino. Seu reino. Por nós, Cora??o.
Aquilo se encaixava perfeitamente na profecia. Governantes sendo unidos. Ganhando imenso poder. Um governante e sua linhagem familiar morrendo.
Aurora suspirou.
— Você tem que admitir… foi um grande plano. — Ela sorriu. — Pena que era tudo mentira.
Grim se debateu contra suas amarras, berrando de raiva. Imediatamente, espinhos das videiras que o amarravam penetraram em sua pele, tirando sangue. Ele estremeceu, já enfraquecido. Agora Isla sabia o porquê. Tanto ele quanto Oro tiveram seus poderes drenados.
E Isla também. Embora ela n?o tivesse sido enfraquecida… n?o como os dois. Afinal, ela nunca tinha dependido do poder.
Ela n?o podia sentir falta de algo que nunca soube que tinha.
— Preciso te agradecer — disse Aurora, olhando para Isla. — Você n?o só encontrou o vinculador para mim… mas me entregou todos os seis poderes de uma vez só.
Isla estremecia.
Tudo tinha sido orquestrado. Um jogo muito maior do que o que ela pensou que estava jogando.
Isla finalmente se levantou. Grim tinha feito tudo pela mesma raz?o que ela havia tentado ganhar o Centenário: salvar aqueles que amava e trazer poder de volta ao seu reino. Em todos os níveis, ela compreendia.
A diferen?a era que Isla estava disposta a desistir de tudo por ele. Quando, o tempo todo, ele a usara como um pe?o. Ela cuspiu na dire??o dele.
Isla olhou para Oro e esperou que ele lesse o pedido de desculpas em seus olhos. Por causa dela, porque ele tinha sido tolo o suficiente para amar uma Selvagem, seu pior medo havia se tornado realidade. Ele havia perdido seu poder.
Oro estava certo em n?o confiar nela. Em n?o confiar em ninguém.
Isla deveria ter feito o mesmo.
Ela sacou a lamina e encarou Aurora. Tudo fazia um sentido aterrorizante agora.
Aurora matou Juniper depois que ele escreveu sobre saber quem tinha lan?ado as maldi??es. N?o Cleo ou Ella.
Azul devia ter de alguma forma descoberto que Celeste era Aurora e tentou detê-la durante o Carmel.
Isla engoliu em seco, sabendo que precisava terminar o trabalho.
Ela foi rápida, mais rápida que um raio. Sua lamina levou um segundo para alcan?ar a garganta de Aurora.
Mas, antes que pudesse perfurar a carne, a lamina se quebrou.
Isla e Aurora se entreolharam. N?o fazia sentido. Aurora n?o poderia exercer suas habilidades naquele lugar. A governante Estelar riu.
— A adaga que você escolheu na loja Estelar. A que eu coloquei lá. Uma que eu encantei para nunca me ferir, caso você descobrisse minha trama. Claro que você escolheu aquela com uma serpente… Você é t?o previsível, passarinha. T?o fraca… t?o tola.
Aurora ergueu os bra?os e as videiras quebraram o vidro do Palácio de Espelhos, jogando estilha?os para todos os lados. Eles encheram a sala, contorcendo-se como serpentes, alcan?ando todos eles.
Oro e Grim foram sufocados na mesma hora. Esmagados contra o que sobrava da parede de vidro. Aurora acabaria com eles, mesmo com seus poderes drenados, apenas para destruir qualquer outra possível reivindica??o de autoridade. Isla sabia disso.
— Morta por suas próprias habilidades… — Aurora comentou, as m?os levantadas, pronta para derrubar Isla com tudo que a floresta tinha a oferecer. Ela fez uma pausa, por apenas um instante. — Eu gostava de você, Selvagem, mas todos os governantes devem morrer hoje. Outra vez.
Antes que Aurora pudesse enviar as videiras e raízes para acabar com ela, Isla estendeu a m?o para o topo de sua coluna, seu esconderijo favorito. Seus dedos envolveram algo que zumbia fracamente. Brilhava.
Os olhos de Aurora se arregalaram.
— Eu disse para você n?o trazer nada, idiota.
Isla sorriu maliciosamente.
— N?o sou boa em seguir regras, lembra?
Ent?o mergulhou em sua po?a de estrelas.
CAPíTULO CINQUENTA E QUATRO
AMALDI?OADA
Seu quarto estava exatamente como ela o havia deixado, embora o lado de fora estivesse estéril. Nenhuma árvore perto das janelas. Nem o verde da grama.
Ela caiu bruscamente, desabando sobre o piso de pedra, os joelhos latejando de dor.
Com a como??o, a porta se abriu. Assim como tinha acontecido três meses antes.
Poppy estava de roupas de dormir. Ao vê-la, a mulher gritou de alegria. Sua tutora correu para abra?á-la, os bra?os em volta de seu pesco?o. Ela cheirava a canela e sangue. Devia ter sido dia de se alimentar.
— Você conseguiu, passarinha! — exclamou Poppy. Devia ter presumido que a chegada antecipada de Isla significava que ela havia sido bem-sucedida com o plano delas. Cujo primeiro passo era seduzir o rei e roubar seus poderes para si.
E embora seu verdadeiro plano tivesse sido outro desde o início… Isla sup?s que tinha feito o que elas queriam também.
Isla n?o a abra?ou de volta. Finalmente, Poppy se afastou, e Isla disse:
— Você sabia. Vocês duas.
Poppy teve a coragem de parecer confusa. Isla trincou os dentes.
— Vocês sabiam que eu tinha poderes… n?o sabiam?
Celeste — Aurora — a chamou de um nome que apenas suas tutoras usavam. Passarinha. E foi nesse momento que Isla percebeu que a trama da Estelar exigiria ajuda. Gente de dentro.
— E foram vocês que mataram eles, né? — perguntou Isla.
Apenas Poppy e Terra tinham acesso a esses c?modos. Isla tinha conseguido todas as suas informa??es sobre Lightlark, seus pais e sua maldi??o através delas.
Mentiras.