Isla o seguiu.
Ela caiu, caiu, caiu, como naquela noite na sacada. Atrás dela, o solo se revirava, fervia, pronto para receber seus ossos. Isla sentiu o poder fluir através dela, tudo o que ela havia conquistado de volta com o vinculador, mas quando estendeu a m?o para agarrá-lo a energia escorregou por seus dedos. Ela n?o sabia como usá-la… nunca tinha usado as próprias habilidades antes.
Isla fechou os olhos. Reconhecendo seu destino.
Só teve tempo de se despedir de uma pessoa. E escolheu…
Algo a agarrou pela cintura. Suas costas se arquearam dolorosamente.
Isla parou de cair.
Alguém a salvara, mas isso era impossível. Grim e Oro talvez tivessem se libertado de suas amarras após a morte de Aurora, mas ainda n?o podiam usar suas habilidades no Palácio de Espelhos, mesmo sem as maldi??es. Mesmo que Isla devolvesse seus poderes.
A n?o ser que…
Isla abriu os olhos para ver o que a envolvia: uma videira. A planta a segurou e come?ou a puxá-la de volta à superfície.
Poder Selvagem.
Mas n?o tinha sido ela a manipulá-lo.
O amor em Lightlark é uma coisa perigosa.
Alguém que ela amava estava usando suas habilidades para isso.
O tronco grosso da planta a ergueu até a superfície, para fora do po?o que se abrira bem no centro do Palácio de Espelhos.
Quando ela alcan?ou a superfície, Isla se arrastou sobre a borda, para a pedra sólida, ofegante. Seu cabelo bagun?ado cobria o rosto.
Por trás dos fios, ela viu Oro relaxar o punho.
E a videira ao redor de sua cintura se soltou.
Oro estava usando o poder de Isla, e ela podia ver no rosto de Grim que ele sabia o que isso significava.
A agonia se transformando em surpresa e, finalmente, em raiva dizia que ele também havia tentado acessar suas habilidades… e descobriu que n?o conseguia.
Isla abriu a boca. Horas antes, seus sentimentos tinham sido diferentes. Horas antes, ela estava pronta para fugir com Grim, para construírem um futuro juntos. Para sacrificar tudo o que ela queria, por ele.
Mas ele a traiu de formas inimagináveis. Tinha roubado suas memórias em vez de incluí-la em seu plano. Em vez de confiar nela para tomar suas próprias decis?es, ele tinha feito a escolha por ela.
E Oro… Ele tinha sido seu verdadeiro parceiro durante o Centenário. Ele entregou suas verdades em troca das mentiras dela. Isla chorou na frente dele. Riu. Superou seus maiores medos. Enfrentou diversos perigos. Ele a conhecia melhor do que qualquer outra pessoa na ilha, exceto pela amiga que havia perdido.
Antes que Isla pudesse dizer uma palavra, Grim saiu por um buraco no vidro e desapareceu na noite.
O sangue de Celeste ainda estava quente em sua m?o, sob a manga. Ela caiu de joelhos e vomitou. Solu?ou. Gritou.
As maldi??es tinham sido quebradas.
Mas o processo a quebrou também.
CAPíTULO CINQUENTA E CINCO
DEVASTADA
Eles haviam se unido. Um dos seis tinha vencido. A linhagem de um governante chegara ao fim. O crime original tinha sido cometido novamente.
E, no centésimo dia do Centenário, a ilha n?o desapareceu sob a tempestade.
Isla n?o tinha saído do quarto. Ela só voltou para o reino Selvagem uma vez, para injetar poder no solo, salvando o reino e seu povo da completa destrui??o. Ela ainda n?o sabia usar o poder, mas tinha sido simples. Enterrou as m?os no ch?o e liberou parte de si mesma no solo. A mudan?a foi imediata. Chocante.
Ent?o voltou para o castelo do Continente, usando sua varinha estelar. Ela passava os dias sentada na banheira, a água quente substituindo as lágrimas, porque descobriu que n?o tinha mais nenhuma para verter. Estava vazia.
Oca.
Celeste. Sua melhor e única amiga n?o tinha sido uma amiga.
Grim. Um ano de lembran?as esquecidas. E algumas que ela conseguia alcan?ar. Aconchegados na chuva. Seu corpo pressionado contra o mesmo vidro que havia se quebrado e a cortado em mil lugares.
Ela sabia agora que Ella nunca tinha tentado prejudicá-la. A Estelar a mantinha atualizada pela porta do quarto. Foi Ella que contou que Cleo havia derrubado a ponte para a Ilha da Lua, separando seu território do restante do Continente. Isla n?o sabia o que isso significava, o que ela estava planejando… mas n?o podia ser bom.
Azul tinha sido visto na praia, observando a tempestade maldita enfim desaparecer. Aparentemente, a tempestade havia prendido as almas dos mortos pelas maldi??es. Eram esses os boatos que ela ouvira certa vez. Os corpos presos lá dentro haviam caminhado apenas alguns passos como espectros antes de desaparecerem para a paz eterna, antes mesmo de alcan?arem a costa.
Isla esperava que o Etéreo tivesse finalmente conseguido ver seu marido uma última vez.
Azul nunca tinha sido um perigo, Oro estivera certo sobre isso. Isla sabia agora que ele estava simplesmente tentando impedir Aurora, desconfiado de Celeste.
Depois de duas semanas na escurid?o de seus aposentos, com as cortinas fechadas, ela finalmente se sentiu forte o suficiente para escovar o cabelo, se vestir e sair do quarto. Ela ficou na varanda, olhando para o reflexo do sol no mar, uma gema t?o dourada quanto o cora??o de Lightlark. O encantamento que tanto procuravam e que salvara todos eles. Salvara a ela mais de uma vez.
Ele guardava um poder inigualável.
E ela também.
Isla ainda n?o tinha tentado fazer uso de suas habilidades, a n?o ser ao dar um pouco de energia para o reino Selvagem. Nem sabia por onde come?ar. Estava preocupada com a possibilidade de que, se tentasse puxar apenas um fio de poder, acabaria desfazendo toda a costura e eles escorreriam dela em uma enxurrada destruidora.
Ent?o, Isla os deixou em paz. Mesmo sabendo que chegaria a hora em que precisariam ser libertados.
Grim voltou para Umbra, ferido. Traído.
Isla n?o podia ignorar o desespero quando ele retornou aos seus pensamentos. Ela n?o se permitia olhar muito de perto para as sombras em seu quarto. Colocava toalhas sobre os espelhos por seguran?a, sabendo que Umbras podiam usá-los para se comunicar. às vezes, tomava café tarde da noite em vez de cair em sonhos que agora reconhecia como memórias.
Especialmente desde que, cinco dias antes, ela ouvira uma voz ecoar em sua mente, pouco antes de abrir os olhos.
Lembre-se de nós, Cora??o. Lembre-se de tudo.
Você vai se lembrar.
E, quando o fizer,
Você vai voltar para mim.
A voz de Grim era t?o clara que era como se ele estivesse sentado em seu quarto. Na beirada da cama.
Só que, quando ela finalmente abriu os olhos, puxando as cobertas para a pele suada, o aposento estava vazio.