Oro rosnou e fez for?a contra as vinhas, tanta que quase as quebrou com um único movimento.
Quando Isla foi picada pelo vinculador, o instrumento permitiu que Celeste tomasse todo o poder a que Isla tinha acesso, mesmo que n?o soubesse. Os poderes de Oro e Grim.
— Celeste. Você é minha amiga. N?o faria isso.
Ela iria lutar pela amizade delas. Lutar pela pessoa que ela amava.
Celeste franziu a testa. Ela se inclinou para onde Isla estava, ainda no ch?o, e pegou o rosto dela como já havia feito inúmeras vezes antes. Isla permitiu. A governante Estelar suspirou, uma pitada de pena cruzando o rosto resplandecente. Ent?o, sua boca se contorceu. Celeste sorriu, os lábios ocupando o rosto dela.
— Você n?o entende, sua linda, linda tolinha? Você fez tudo que eu queria… e eu nem precisei te obrigar.
A Estelar se transformou. Seu nariz encurtou. Os olhos mudaram de cor. Suas bochechas afundaram. Seus lábios ficaram mais vermelhos.
Um rosto diferente. Uma pessoa diferente.
Um poder impossível; um dom.
Celeste n?o era Celeste.
Oro finalmente parecia prestes a desmoronar. Seus olhos brilharam de dor.
— Aurora.
Aurora. Isla conhecia esse nome. A governante Estelar que morreu no dia em que as maldi??es foram lan?adas. Aquela que se casaria com o rei Egan.
— Eu vi você morrer — continuou Oro, a voz rouca.
Aurora se virou e encarou Oro.
— Uma ilus?o, eu receio.
— Por quê? — A voz de Oro era gutural. Ent?o a compreens?o endureceu sua figura. — Foi vingan?a, n?o foi?
Aurora sorriu.
— Do que você está falando? — Isla perguntou. Sua cabe?a estava girando.
Nada fazia sentido.
Cada palavra parecia doer. Oro explicou:
— Meu irm?o deveria se casar com Aurora. — Um filete de sangue escorria do canto da boca. — Mas se apaixonou por outra pessoa. Pela melhor amiga dela.
O quê?
— Pela sua ancestral.
Sua ancestral, aquela que tinha morrido na noite das maldi??es. Seu nome era Violet. Isla n?o sabia quase nada sobre ela. Com certeza n?o isso.
Aurora deu uma risada sem humor. Tudo tinha acontecido séculos atrás, mas a dor estava vívida em seu rosto.
— Eles pretendiam se casar, mesmo com a alian?a já no meu dedo. Eu estava t?o brava… Usei meu dom de transfigura??o para me transformar em uma linda Selvagem e convenci esse idiota — ela olhou incisivamente para Grim — de que ele me teria naquela noite se me desse a flor mais bonita da ilha… uma que eu sabia que havia desabrochado nas ruínas da Ilha da Noite, apenas algumas semanas antes. O cora??o de Lightlark. Algo que Egan havia me contado sobre quando éramos crian?as. Eu o rastreei com a inten??o de que fosse um presente de casamento. Em vez disso, Grim sem saber liberou o cora??o para que eu pudesse usá-lo. N?o foi meu melhor trabalho. Como n?o tinha sido eu a encontrá-lo, n?o consegui manejá-lo com eficiência. Sem que realmente fosse a minha inten??o, amaldi?oei todos os reinos, até o meu próprio. Apenas eu, como criadora das maldi??es, n?o fui afetada.
“Ent?o entrei em panico. Com todos os governantes, exceto eu, mortos, eu seria a principal suspeita. Ent?o, fingi minha morte com uma ilus?o Umbra, usando o cora??o. Você me viu morrer… mas a pessoa que realmente pereceu era minha herdeira, minha irm? tola. Assumi sua identidade, seu rosto. Ent?o, quando estabeleci as novas terras Estelares, proibi criados no castelo. Governei de longe. Guardar segredos é fácil em um reino onde todos morrem aos vinte e cinco anos. Tornei-me uma nova governante Estelar a cada Centenário. O tempo todo esperando a hora certa. Planejando. Esperando.”
— Esperando o quê? — Isla quis saber. Lágrimas escorriam por seu rosto. Isso n?o podia ser real. Ela ainda se recusava a acreditar.
— Esperando o momento de tomar tudo que me foi negado. Só que, desta vez, desejei governar todos os seis reinos. Ter acesso a todos os poderes de Lightlark se provou difícil. — Ela zombou de Oro. — Mesmo com um novo rosto e uma nova personalidade a cada Centenário, você sempre rejeitou meus avan?os. Um rei desconfiado, realmente. Egan tinha me falado sobre o vinculador. Comecei a procurá-lo a cada Centenário, mas, mesmo se eu fosse capaz de enganá-lo, rei, para usá-lo em mim, eu receberia apenas quatro das seis habilidades. Um governante só pode usar o vinculador uma vez para ganhar habilidades, e uma vez para perdê-las. Eu precisava de uma maneira de obter todos os seis poderes de uma vez.
Celeste se virou para Isla. Ela ainda estava no ch?o, observando enquanto tudo em sua vida, tudo o que ela achava que sabia, se despeda?ava.
— E é aí que você entra, passarinha. — Isla engoliu em seco. — Foi pura sorte, na verdade.
A voz de Grim ecoou pela sala.
— Aurora — ele disse em advertência. — N?o.
Ela apenas sorriu. Ent?o continuou:
— Anos atrás, um dos mais poderosos e curiosos generais de Grim roubou uma de suas relíquias e a usou para visitar a nova terra Selvagem. Lá, ele conheceu uma bela Selvagem. E, embora fosse proibido em todos os sentidos, você acredita que eles se apaixonaram? O general Umbra era poderoso… tanto que pensou que poderia subjugar a maldi??o Selvagem, mantê-la sob controle. E conseguiu. — Ela sorriu para Isla. — Por tempo o suficiente para gerar você.
Isla estremeceu de raiva.
— N?o.
— Sim, Isla. Você n?o é apenas Selvagem… mas também uma Umbra.
Ela balan?ou a cabe?a.
— Eu n?o tenho poderes.
Aurora riu.
— Pelo contrário, passarinha. Você é muito poderosa. Suas habilidades de Selvagem foram simplesmente camufladas pelos poderes Umbra. Ficaram invisíveis. Inutilizáveis, a menos que um Umbra habilidoso as despertasse… Manifesta??es de poderes s?o t?o estranhas, n?o s?o?
Poder.
Isla sempre teve poder.
E havia perdido. Para sua melhor amiga. Que nunca sequer tinha sido sua amiga.
— Eu vi minha chance de obter todos os seis poderes e fiz planos para isso. — Aurora apertou os lábios. — Ent?o algo inesperado aconteceu. Eu n?o sabia que você tinha visitado outros governantes também. Você aparentemente mencionou algo suspeito sobre mim para Grim, e, no dia seguinte, ele apareceu no meu quarto.
Aurora se virou para Grim.
— E foi aí que ele se tornou meu cúmplice.
Isla ficou paralisada. O rosto de Grim empalideceu. Ele n?o encontrou o olhar de Isla.