Lightlark (Lightlark, #1)

Isla estava no Palácio de Espelhos, a coluna ereta. Folhas mortas sopravam pregui?osamente a seus pés, o vento entrando por uma rachadura no vidro. Estava de frente para a grande escadaria que levava a c?modos que antes ficavam cheios, e agora estavam vazios. Teias de aranha e espelhos rachados em vez de risadas e música.

Quase podia ouvi-los, suas vozes t?o doces quanto a dela, enquanto levava a m?o ao seu pesco?o, ao diamante negro gigante que pendia contra sua garganta, e o puxava.

Um minuto se passou. Seu poder n?o funcionava no Palácio de Espelhos. Ele teria que aparecer nas margens da floresta na Ilha Selvagem e chegar até ela a pé.

A porta se abriu com tanta for?a que parecia prestes a se quebrar, e Isla se virou para encontrar Grim, correndo, frenético.

Seus olhos estavam arregalados, cheios de medo. Sua respira??o era selvagem. Ele carregava uma espada.

Grim estava na frente dela em um instante.

— Cora??o, você está ferida? — Suas m?os gigantes cobriram ambos os lados de seu rosto, os polegares nos cantos de seus lábios, analisando-a em busca de alguma les?o. Ele olhou para Isla como se ela n?o fosse feita de sangue e osso, mas de gelo e névoa, a um momento de desaparecer… ofegante pela corrida…

— Estou bem.

Notando seu tom, ele baixou as m?os.

N?o havia necessidade de contornar a raz?o pela qual ela o havia chamado aqui.

— Por que você n?o me disse que uma Selvagem criou a ilha com um Solar e um Umbra?

Sua express?o n?o se alterou, n?o do jeito que ela havia imaginado. Por um momento, tudo o que ele fez foi observá-la.

Enfim, Grim disse:

— Algumas coisas é melhor descobrirmos por nós mesmos. — Seu olhar era firme. — Há muitas coisas que outros me disseram que eu teria preferido ter aprendido sozinho. No meu tempo. Quando eu pudesse compreender tudo melhor.

Que coisas?, ela queria perguntar, mas Isla se manteve focada.

— Você nunca ia me contar?

— Em algum momento, claro. Eu te trouxe aqui… respondi as suas perguntas… mas n?o queria jogar tudo de uma vez em cima de você. — Ele balan?ou a cabe?a. — Você tinha acabado de chegar a um lugar novo, sem saber de muita coisa. Foi for?ada a carregar o fardo das maldi??es, a representar todo o seu reino. Sem poderes. Você estava apavorada. Eu n?o podia piorar aquilo tudo. N?o queria.

Isla n?o deveria ter ficado surpresa por ele ter sido capaz de sentir seu medo durante todo o Centenário, sua confus?o. Ainda assim, isso n?o era desculpa para esconder aquilo dela.

— Tem mais alguma coisa que você n?o me contou? — Isla exigiu. Ela n?o podia confiar em mais ninguém. Azul havia envenenado Celeste. Cleo havia tentado matá-la em várias ocasi?es. Isla lembrou-se do aviso do oráculo.

Há mentiras e mentirosos por toda parte, Isla Crown.

Grim era um deles?

Os olhos dele brilharam com algum segredo. Ela o conhecia bem o suficiente agora para perceber.

Ela deu um passo para trás.

— Tem, n?o é?

Grim ficou tenso. Assentiu.

— O que é?

Metade dela sentia raiva. A outra metade sentia medo. E Grim sentiu tudo isso.

Ele deu um passo para se aproximar de Isla. Ela recuou e quase perdeu o equilíbrio.

— Tem algumas coisas que n?o te contei — disse ele. — N?o explicitamente.

Outro passo.

Só diga logo, pensou Isla. Ela n?o aguentaria nem mais um momento de dúvida.

Ele franziu o cenho. Era uma express?o nova em seu rosto. Ele fazia isso para outras pessoas, com frequência, mas nunca para ela. Com ela, Grim sempre sorria.

— Eu n?o te contei o que você faz comigo.

Ela piscou.

— O quê?

— Eu n?o te disse que você me destruiu.

— Destruí?

Ele assentiu.

— Estou destruído. Torturado. Você n?o parou de me atormentar desde a primeira vez em que te vi.

Isla abriu a boca. Fechou-a. Pensou até em pedir desculpas.

Grim continuou:

— Bastaram algumas conversas com você e eu estava pronto para fazer a troca mais desvantajosa de todas: tudo de mim em troca de qualquer parte de você que estivesse disposta a dar. — Ele balan?ou sua cabe?a. — Você invadiu a minha mente. Me fez questionar minha sanidade. Eu penso em você o tempo todo.

A maneira como Grim disse o tempo todo deixou as bochechas de Isla queimando com as insinua??es.

— O tempo todo? — ela repetiu, a voz ofegante.

— Tarde da noite, eu te desejo tanto que chega a doer. Eu ardo por você o tempo todo — ele disse, seu rosto parecendo realmente torturado. Como se tivesse esperado por muito tempo para dizer aquelas palavras. Como se ela fosse uma maldi??o pior que todas as outras.

Ent?o ele a beijou.

Isla arfou, baixinho, e ele se afastou. N?o. Antes que Grim pudesse se afastar, ela apertou o corpo no dele, os bra?os ao redor de seu pesco?o. Ela inclinou a cabe?a para trás para encontrar seu olhar. Toda a raiva se foi, substituída por emo??es que fizeram os olhos dele assumirem um ar perverso.

Antes que ele pudesse sorrir, Isla pressionou seus lábios nos dele. Ele era frio como pedra, e ela ficou ainda mais gelada quando ele a prendeu contra o vidro. O beijo ficou mais intenso, as bocas se abrindo, o calor ardendo até o amago do seu corpo. A cabe?a dela tombou para trás, e Grim beijou toda a extens?o de seu pesco?o, seus dentes ro?ando levemente sua garganta, abaixo do colar.

Ele afastou a capa de Isla e passou os lábios pelo ombro nu dela. Ela arfou, o frio fazendo sua pele formigar, e as m?os dele agarraram sua cintura, for?ando-a ainda mais contra a parede. Isla estendeu a m?o para desabotoar a capa dele, que caiu silenciosamente no ch?o.

Os olhos de Grim grudaram nos dela, mas Isla já estava puxando sua camisa. Ele deixou que ela tirasse a pe?a em um movimento rápido. Ent?o Isla fez uma pausa. E o encarou.

O porte perfeito para a guerra. Músculos perfeitamente tonificados. Um guerreiro implacável assomando-se sobre ela. Uma grande cicatriz marcava o peito dele, a centímetros do cora??o. Isla espalmou a m?o sobre ela, e Grim observou o movimento, sua respira??o um pouco instável, como se estivesse se esfor?ando para continuar parado.

— O que foi isso? — Seu pulso estava acelerado. O dele também.

Grim estremeceu enquanto ela tra?ava a marca irregular da cicatriz.

— Só alguém que tentou me matar. — Ele colocou a m?o sobre a dela. — Devoradora de Cora??es — completou, o fantasma de um sorriso em seus lábios. O apelido estava de volta. — Neste momento, é você que está me matando.

Sua voz era profunda como em seus sonhos nas últimas semanas. Os que ele tinha enviado a ela. Aqueles que ela agora queria tornar realidade.

Ela segurou a coroa dele com delicadeza. Deixou que caísse no ch?o, causando um estrondo. Fez o mesmo com a dela.

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