— Você encontrou? — ela perguntou, os olhos arregalados. Desesperada.
O olhar de Oro se tornou sombrio.
— N?o — disse ele. — N?o estava lá.
Isla fechou os olhos, a decep??o doendo quase tanto quanto a ferida. Ela era a única esperan?a de Celeste e de seu povo. Ela n?o podia falhar, n?o de novo. Quando abriu os olhos, se for?ou a parecer mais confiante do que se sentia.
— Só pode estar em um lugar, ent?o. Certo?
— Sim, mas é um lugar que eu esperava evitar.
— Por quê?
— Fica bem no centro do território Vinderen — disse ele.
Seu rosto se contorceu, sem entender o que aquilo significava.
— O grupo que tentou te matar.
Ah.
— Quem eram eles? — ela perguntou. Ela n?o os tinha visto, mas suas vozes… o que eles queriam fazer com ela…
Oro piscou.
— Achei que você sabia.
Sabia o quê?
— Eles s?o Selvagens.
O quê? Seu rosto se contorceu.
— N?o sobrou nenhum Selvagem na ilha, e eles eram homens.
— N?o sobrou nenhum mesmo. Eles eram selvagens. O grupo deles deixou o seu reino muito antes das maldi??es. Eles já haviam renunciado ao poder, ent?o n?o foram afetados por elas.
Ent?o, eles comiam cora??es e carne por desejo… n?o por causa da maldi??o. Ela estremeceu. Havia tanto sobre os Selvagens que ela n?o sabia.
Por que o grupo deixou o reino, pra come?ar?
— Eu posso ir sozinho — disse Oro. Ao contrário de todas as vezes que ele disse palavras semelhantes, n?o havia maldade alguma em sua voz. — Se você preferir n?o correr o risco.
Mas Isla tinha chegado t?o longe. Se quisesse ganhar, se quisesse salvar as pessoas que mais amava, ela precisava estar lá quando encontrassem o cora??o.
— Eu vou — ela disse.
Naquela mesma noite, Oro a levou para um lugar que ela nunca imaginaria ser convidada: o antigo depósito de armas do castelo. Pegou coisas demais: flechas, arcos, facas, estrelas de arremesso, espadas. Celeste e Terra estavam em sua mente, as pessoas mais fortes que ela conhecia.
Ela deixou o cofre, pronta para o que enfrentaria no dia seguinte.
Pronta para enfrentar os ex-Selvagens que quase a cortaram em pedacinhos.
CAPíTULO QUARENTA E SETE
DESABROCHAR
Assim que pisaram na Ilha da Lua na noite seguinte, o pássaro azul-escuro os encontrou. Ele grasnou alto, e Isla apontou sua flecha para ele.
— Fa?a barulho de novo e você vai virar sopa — ela disse com maldade. Querendo saber se estava falando diretamente com a própria governante Lunar. Ela deveria atirar no pássaro de Cleo bem no peito pelo que a governante tinha feito com Celeste.
O animal grasnou mais uma vez, ent?o voou para longe, fugindo da ponta afiada de sua flecha.
— No limite? — Oro perguntou. N?o tinha nenhuma arma com ele. Isla sup?s que era estratégico. Os ex-Selvagens n?o podiam saber que o rei de Lightlark os considerava uma amea?a.
Acima de tudo, era uma mensagem para Cleo. Onde quer que ela estivesse na Ilha da Lua, usando ou n?o o pássaro azul-escuro como seu espi?o, saberia que eles estavam em suas terras novamente. Oro entrando em sua ilha tantas vezes desarmado enviava a mensagem mais importante.
O Centenário era um jogo. E Oro ainda era seu jogador mais poderoso.
Isla tentou n?o pensar na governante de cabelos brancos enquanto eles atravessavam a neve até o último local. Em vez disso, pensou no cora??o.
Ele iria desabrochar, t?o lindo quanto uma prímula?
Seria t?o frio quanto o cora??o do rei de Lightlark?
T?o perto.
Eles estavam t?o, t?o perto.
Ela se virou para Oro e o encontrou olhando para ela. Sua express?o era resoluta, dura como as placas de gelo ao lado deles. Ele acenou com a cabe?a, como se fosse capaz de ler seus pensamentos.
Só mais um lugar. E aí acabou.
O território de Vinderen ficava muito além do alcance da neve do reino de Cleo. Em sua ponta, na regi?o nordeste, havia um trecho de terra t?o trai?oeiramente frio que era quase inabitável. Isla usava o calor que emanava de Oro como um escudo. Ele estendeu-o para que a envolvesse completamente, e ela mal sentiu a neve pousar em seu nariz.
Gelo, afiado como dentes, projetava-se do ch?o em um angulo, um aglomerado de laminas. Isla segurou o punho de sua espada com for?a, olhos alertas, observando tudo. Eles entraram em uma floresta de árvores mortas, esqueletos cobertos de neve.
Eles vieram como uma onda.
Em um momento havia silêncio. No seguinte, a noite se dividiu em gritos enquanto homens saltavam das árvores, bem no caminho deles. Outros estavam escondidos atrás de troncos, e apareciam agora, flechas apontadas para seus pesco?os.
Mas Isla estava pronta.
Ela sorriu, só um pouco. E soltou.
Três de suas flechas voaram de uma só vez, cada uma encontrando seu alvo. Corpos caíram dos galhos altos. Ela se abaixou, quase sendo atingida por uma lamina voadora, ent?o se virou, a espada agora em punho. Ela estripou o homem em sua frente, que apontava uma adaga para o seu cora??o, ent?o virou-se e fez o mesmo com uma mulher muito alta que apontava uma machadinha enferrujada para sua têmpora.
Estrelas de arremesso voaram de sua outra m?o para o pesco?o de um homem que estava prestes a enterrar sua lamina nas costas de Oro. Elas pousaram em uma linha perfeita em sua garganta, como um colar macabro.
O fogo de Oro sibilou e rugiu quando ele matou cinco pessoas de uma vez, as armas de metal caindo na neve quase sem fazer barulho. Ele congelou um oponente contra uma árvore. Outro, ele arremessou de volta com uma explos?o de energia Estelar.
Isla girou, rápida como um pi?o, sua lamina encontrando carne e cortando-a t?o facilmente quanto dentes de Selvagens afundando no tecido macio de um cora??o. O metal dela tilintou contra o de outra pessoa antes que ela derrubasse a arma e cortasse aquele que a empunhava. Fez o mesmo com outro. E mais outro.
Com um grunhido, caiu de costas. O ch?o estava coberto de gelo, e ela engasgou, mas n?o sentiu alívio, seus pulm?es transformados em pedra.
Um homem se elevou sobre ela. Seus dentes eram como laminas, afiados para servirem como armas. Ferramentas para comer, ela percebeu.
Ele estendeu a m?o para o pesco?o dela. Para quebrá-lo. Para matar de forma limpa, para que a carne n?o fosse danificada por ferimentos, adequada para um banquete.
Isla observou, congelada. Ela levantou a m?o trêmula do ch?o, ofegando, desejando que seu corpo superasse o choque do impacto…
E uma lamina atravessou o peito do homem. Ele soltou um som gorgolejante, e engasgou com o próprio sangue antes de cair na neve.
Oro ficou ali, segurando uma espada.
Mas ele n?o estava armado… ou assim ela pensou. Isla assistiu maravilhada quando a espada de prata desapareceu em uma explos?o de faíscas. Ele havia criado a espada com a energia Estelar. Ela n?o sabia que isso era possível.
Quando sua respira??o voltou, Isla se levantou, olhando em volta para os corpos que nunca voltariam a se erguer.
Mortos. Estavam todos mortos.