Lightlark (Lightlark, #1)

Hora de ir, ela pensou. Tinha passado tempo suficiente no festival para cumprir as regras. E os efeitos da bebida se apoderavam dela.

No momento em que subiu as escadas do castelo e entrou nos corredores, o mundo parecia estar girando. Ou talvez fosse ela. Isla estava com calor, muito calor, a roupa ridícula grudando no corpo como mela?o. Ela tirou a coroa de flores e a deixou cair no ch?o. Arrancou as pétalas que desciam pelo pesco?o, se sentindo sufocada. De repente, sua roupa era demais. Ela desabotoou a capa e a deixou cair. Já se sentia muito melhor. Mais livre. Mais selvagem.

Isla imaginou os guardas atrás dela encontrando partes de seu vestido e riu.

Todas as suas preocupa??es desapareceram como bolhas no champanhe. Ela n?o conseguia nem pensar em um de seus medos por mais de alguns segundos, mesmo que tentasse. Pareciam escorregadios em sua mente.

Isla sorriu ao come?ar a tirar as pétalas de seu vestido.

— Aposto que uma flor nunca se colheu sozinha… — ela disse para absolutamente ninguém. Ent?o riu enquanto arrancava a camada inferior da roupa, se despindo dela com alívio.

Ela se virou e percebeu que estava em um corredor que n?o reconheceu. Já havia passado o quarto? Estivera muito ocupada destruindo o vestido ridículo para notar? Ela deu de ombros e continuou, desfazendo-se das camadas até que o vestido florido passou a terminar bem acima dos joelhos, deixando para trás um rastro de pétalas. Caminhou até chegar a um beco sem saída. Isla franziu a testa para a parede, ent?o se virou ao som de uma voz.

— Isla?

Ela deu um sorriso largo demais, a excita??o correndo pelas veias t?o rápido quanto o vinho.

— Oro — ela disse, seus sentimentos quanto à suposta trai??o a mundos de distancia. Tudo o que lembrava era que deveria ser legal com ele e torcer para que ele cumprisse sua promessa. Isla caminhou até o rei, os pés descal?os pisando nas pétalas. Ela devia ter tirado os sapatos em algum momento, e riu de si mesma pelo que estava prestes a fazer, mal conseguindo se controlar o suficiente para ficar na ponta dos pés e dar um peteleco na coroa do rei.

Oro piscou para ela. Ent?o franziu a testa.

— Você está bem?

Isla revirou os olhos.

— Você está sempre t?o bravo… por quê? Você sorri?

Sim. Ele tinha sorrido para ela, apenas uma vez.

Ela ainda estava na ponta dos pés e o ch?o parecia escorregar sob eles como um tapete sendo puxado. Antes que ela caísse, Oro segurou seu cotovelo para firmá-la. Depois soltou imediatamente seu bra?o.

Isla fechou a cara para ele.

— Eu n?o mordo — disse ela, e de quebra revirou os olhos.

Ela se virou e balan?ou pelo corredor ao som de uma música que parecia tocar através de seus ossos.

— Vou te levar para o seu quarto… se você quiser? — ele perguntou.

Isla deu de ombros.

— Tá bom. Eu estava indo pra lá… mas os corredores mudaram. — Ela olhou para ele pedindo uma explica??o e ele a encarou como se algo que ela disse fosse ridículo. Isla piscou, sem saber o que poderia ser.

De repente, ele pareceu alarmado.

— Você bebeu a névoa?

Isla assentiu com entusiasmo. Era assim que chamavam o vinho? Ela estava cantarolando alguma coisa. N?o, estava cantando. Abriu a boca, e sua voz inundou os corredores. Ela gostou do jeito que ecoou, e cantou mais alto.

Ela nunca tinha se sentido t?o viva… como se sua garganta, bra?os e rosto estivessem pegando fogo e brilhando, zumbindo.

Por que Poppy e Terra nunca lhe permitiram esses prazeres?

Isla n?o percebeu que estava falando parte de seus pensamentos em voz alta até que Oro perguntou:

— Suas tutoras?

Felizmente, ele estava seguindo na frente, porque Isla n?o havia processado nenhum dos últimos corredores ou curvas. Ela assentiu.

— Você tinha guardi?es?

Ele ficou em silêncio por alguns momentos antes de admitir:

— N?o, n?o tinha. Eu nunca deveria ter me tornado governante, ou rei. Meu irm?o era o único que tinha tutores.

— Ent?o, o que achou que seria? — As palavras escaparam de sua língua t?o facilmente, e ela se perguntou por que tinha parecido difícil perguntar qualquer coisa a ele antes.

— Eu liderei nossos exércitos.

Isla parou no corredor. Ela colocou as m?os nos quadris.

— Você comandou os exércitos de Lightlark?

Ela esperava que Oro a encarasse, mas ele n?o o fez. Apenas assentiu. Contudo, fazia sentido. Era por isso que ele era t?o bom nos duelos. Isla come?ou a caminhar de novo, mais devagar dessa vez. Ele acompanhou seu passo.

— é por isso que você odeia ele, n?o é?

Oro parecia saber que ela se referia a Grim. Apesar de ter ouvido falar do antigo título do Umbra, Terra nunca havia contado a ela sobre o de Oro. Ela se perguntou por quê. Ela ao menos sabia? Isla sup?s que a reputa??o e história do rei dos Solares antes das maldi??es tinham sido apagadas por tudo o que veio depois.

— Nós dois perdemos muitos guerreiros — ele disse. — E eu n?o concordava com a maneira como ele lutava. — Oro n?o deu mais explica??es, e ent?o eles chegaram a sua porta. — Você vai ficar bem?

Oro olhou por cima do ombro, verificando se os guardas tinham seguido os dois. Eles estavam em seus lugares encostados na parede, vigiando o corredor.

Isla assentiu.

— Eu vou ficar bem.

Quando ele se virou para ir embora, ela segurou seu punho.

— Espere. Ainda tenho tantas perguntas. Você pode entrar? — Parecia que era a última coisa que ele queria fazer, mas Isla n?o foi dissuadida por sua express?o. — Vou fazer um chá — acrescentou.

Ela entrou. E, por insistência, Oro a seguiu. Ele aqueceu um pouco de água, e ela encontrou a bolsa de especiarias e flores Selvagens para preparar sua bebida favorita, um chá que ela chamava de abelha amarela.

— Por que abelha amarela? — Oro perguntou antes de tomar um gole, parecendo gostar.

Isla se sentou ao lado dele no sofá e deu de ombros.

— A planta que produz essas flores estava sempre cheia de abelhas — ela disse. — Eu costumava levar pelo menos três picadas toda vez que tentava colhê-las para o chá, mas valia a pena.

Oro lan?ou-lhe um olhar estranho.

— Você n?o tem dormido bem, n?o é? — ela perguntou, inclinando-se na dire??o dele, olhando de soslaio para as bolsas sob seus olhos.

Ela esperava que ele ignorasse a pergunta, como tinha feito antes, mas ele disse:

— N?o. Faz muito tempo que n?o durmo direito.

— Por quê? — Sua voz, surpreendentemente, era gentil. Sem julgamentos, como sempre tinha sido com ele.

Oro olhou para a árvore, seus frutos maduros e inchados com suco, t?o pesados que os galhos estavam baixos.

— Sinto muita culpa — ele disse calmamente. — Que n?o me deixa dormir.

Culpa. Isla conhecia a palavra muito bem.

— Como você me encontrou? — Isla perguntou de súbito. Ela se recordava de fragmentos daquela noite, como um espelho estilha?ado.

— No corredor? Eu segui o rastro de pétalas.

Ela balan?ou a cabe?a.

— N?o… antes.

Na floresta da Ilha da Lua.

O ar esfriou e se acalmou, e Isla cantarolava suavemente ao som de sua corrente.

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