Lightlark (Lightlark, #1)

Talvez ela a levasse direto ao cora??o.

Cleo percorreu o Continente, as roupas brancas brilhando na noite, iluminadas pelo holofote que era a lua. A governante Lunar se deliciava com o brilho, parando por um momento para jogar os ombros para trás e erguer o rosto para a lua. Diziam que os Lunares se tornaram o reino mais forte desde que as maldi??es foram lan?adas. Ao contrário dos Solares ou Umbras, eles ainda conseguiam acessar sua fonte de energia. E, ao contrário dos Estelares, muitos de seus membros ainda eram antigos. Sua maldi??o os afetou menos, se é que chegou a afetá-los. Milhares de Lunares morreram nas m?os do mar com o passar dos anos, sem dúvida, mas os sobreviventes n?o estavam fisicamente enfraquecidos.

O est?mago de Isla revirou-se. Ela n?o sabia como n?o tinha pensado nisso antes.

Devia ser Cleo quem lan?ou as maldi??es. Era isso que Juniper tinha tentado dizer a ela. Foi por isso que a Lunar o matou.

Ela havia criado as maldi??es e colocado uma sob seu reino para n?o criar suspeitas? Uma senten?a que n?o a enfraqueceria nem um pouco?

Ela n?o tinha sofrido. Ainda estava forte como sempre fora.

Se isso fosse verdade…

Cleo n?o gostaria que as maldi??es fossem quebradas.

Será que Oro sabia? Era por isso que ainda n?o tinham usado o cora??o? Cleo estava garantindo que Oro nunca fizesse uso dele?

Isla estava respirando rapidamente. Cleo era perigosa. Fatal. Mas Isla n?o se virou e voltou para o castelo, para Grim ou Celeste.

Ela seguiu Cleo até a ponte da Ilha da Lua.

Pela primeira vez, n?o havia guardas ali. A governante Lunar devia tê-los mandado embora depois que ela e Oro formaram uma dupla. Por quê?

Ela n?o tinha tempo para suposi??es e considerou a ausência deles como um bom sinal.

Isla esperou alguns minutos até Cleo desaparecer na ponte.

Ent?o atravessou também.

Cleo passou pelo palácio. Isla a seguiu pela mesma floresta que ela e Oro tinham visitado duas semanas antes. Aonde ela estava indo?

O vestido branco da Lunar flutuava suavemente acima da folhagem, sem se sujar na terra ou se molhar nos riachos que cortavam a floresta. A correnteza mudou, indo em dire??o a Cleo enquanto ela passava, como se a chamasse.

A roupa de Isla a resguardava do frio. Suas bochechas e nariz ardiam, mas seu peito estava quente. As botas a protegiam do gelo. Cleo caminhava com facilidade, sem se incomodar com a neve. Talvez os flocos a revigorassem da mesma forma que a luz.

Sem aviso, Cleo parou e Isla congelou antes de mergulhar de volta na cobertura da floresta. A governante Lunar estava diante de uma montanha revestida de gelo, como uma armadura. Ergueu os bra?os acima da cabe?a, dedos separados, e os abaixou com a gra?a de um floco de neve caindo do céu.

No mesmo instante, o gelo come?ou a se derreter, escorregando em camadas que atingiram o ch?o e logo endureceram de novo. Isla semicerrou os olhos na escurid?o. O que Cleo estava fazendo?

Ela precisava ver mais de perto. Isla deu um passo à frente, um pé para fora da floresta. Apertou os olhos enquanto o gelo continuava a cair, revelando um buraco, quase como um portal ou uma passagem secreta. Era ali que Cleo e Oro se encontravam? Era ali que ela estava guardando o cora??o? Ou estaria em algum lugar completamente diferente?

Isla deu outro passo e um guincho alto cortou o ar.

O pássaro azul-escuro de antes voou por entre as árvores, mirando bem na cabe?a dela. Ela se abaixou a tempo, mas ele deu a volta, estalando o bico como um louco. O pássaro grasnou alto; um alarme, Isla percebeu tarde demais. O pássaro era um espi?o de Cleo, alertando a mestra de que estava sendo seguida.

Isla se atreveu a olhar para cima. A governante Lunar tinha se virado. Seus olhares se encontraram.

Em um flash azul cristalino, Isla foi arremessada no ar por uma espessa camada de água. Sua respira??o foi arrancada do peito. Cleo a jogou contra o lado coberto de gelo da montanha, e Isla gritou quando sentiu a coluna estalar. A dor era chocante, ofuscante, e ela gritou de novo no momento em que a água se transformava em gelo.

Cleo deu um passo à frente, parecendo surpresa.

— Tenho que admitir — disse ela —, estou impressionada com a sua estupidez. Uma governante sem poderes me seguindo na minha própria ilha?

Ela ia matá-la. Como fez com Juniper.

Isla socou o gelo, mas era quase como se fosse ferro.

— Ah, conforme a noite fica mais fria, o gelo só vai ficar mais forte — Cleo disse. — Agora me diga, Selvagem, por que me seguiu até aqui?

Ela precisava ser esperta, manter Cleo falando o máximo que pudesse. E rezar para que isso lhe desse tempo suficiente para bolar um plano.

— Eu sei — disse Isla, a voz saindo rouca e fraturada. Ela respirou fundo, a dor nas costas atravessando sua espinha como adagas. — Sei por que você matou Juniper.

Cleo parecia curiosa. Deu mais um passo para perto de Isla. Seu cabelo branco brilhou ao luar enquanto ela balan?ava a cabe?a.

— Você é uma tola. — Tola. A palavra era uma velha amiga, ou inimiga, cumprimentando-a. Embora tivesse agido como uma tola, Isla estava longe de ser uma. — Mas também corajosa por aparecer no Centenário sem habilidades… — Ela levantou a sobrancelha. — E usar luvas de pele para entrar nas se??es protegidas dos nossos castelos? Engenhoso. — Ela apertou os lábios. — Vamos ver se você é inteligente o suficiente para sair dessa enrascada.

A Lunar estalou os dedos, e o gelo que a mantinha no lugar se expandiu. Engrossou.

A raiva a aqueceu, embora n?o o suficiente para impedir que o gelo deixasse seu corpo dormente. Os lábios de Isla eram duas lascas de gelo quando ela sussurrou.

— Você está com medo — disse ela. — Porque eu sei… eu sei que foi você que lan?ou as maldi??es. — Isla esbravejou contra o gelo, golpeando-o sem parar, mas era inútil. — Eu sei, e se eu, uma tola, conseguiu descobrir, ent?o qualquer um pode fazer isso.

Cleo levantou a m?o e o gelo saiu das clavículas de Isla e subiu por seu pesco?o, como uma gargantilha de cristal. Isla ofegou, seu f?lego congelado.

— Você n?o sabe a verdade, Selvagem — disse ela. — Mas, mesmo se soubesse… — Ela sorriu. — Cadáveres n?o podem falar. E cadáveres n?o podem quebrar maldi??es, podem?

Com isso, Cleo sorriu antes de desaparecer na caverna gelada.

O tempo passa diferente quando você está morrendo, percebeu Isla. Os segundos eram longos e os minutos, assobios intermináveis do vento. Poderiam ter se passado horas ou poucos instantes, mas logo a dor de centenas de facadas em suas costas aliviou. O gelo havia congelado a dor, assim como tinha abafado o pouco de calor que sua roupa havia fornecido.

Alex Aster's books