Lightlark (Lightlark, #1)

Isla enrijeceu. Mesmo que aquilo fosse exatamente o que ela estava fazendo.

Ela havia contado para a amiga o que vira em sua po?a de estrelas, mostrado a ela também.

Eu vou te ajudar, a amiga prometeu, mas Isla sabia que apenas o poder prometido na profecia seria capaz de salvar os Selvagens do estado de deteriora??o em que estavam.

Seus problemas pareciam insuperáveis.

Como ela poderia encontrar o cora??o de Lightlark quando agora todos n?o só desejavam matá-la, mas sabiam que conseguiriam tal feito facilmente? No momento em que saísse do Palácio de Espelhos, Isla seria um alvo.

Como ela poderia vencer agora?

Ela encarou as m?os. Suas palavras trêmulas a surpreenderam. Havia um nó em sua garganta, e os cantos de seus olhos ardiam.

— Eu n?o quero desistir — respondeu honestamente.

Toda vez que ela fechava os olhos, via sua tutora. Sofrendo. Aos poucos se tornando parte da floresta. Poppy e Terra contavam com ela… e Isla tinha ignorado todos os planos e prepara??es delas de propósito. Realmente achou que poderia cumprir seu dever e conseguir o que mais queria do seu jeito. Ela fora t?o tola.

— Mas como? N?o temos plano. N?o temos aliados.

Celeste segurou suas m?os. Havia um brilho em seus olhos, uma intensidade como duas estrelas cintilantes.

— Temos exatamente o que tínhamos quando o Centenário come?ou. Uma a outra.

Se ao menos isso bastasse.

Se ao menos ela tivesse poderes, conseguiria enfrentar Cleo e Oro. Quem sabe até tomar o cora??o deles, em vez de esperar para ser abatida.

A governante Estelar cruzou o c?modo com passos rápidos, como se revigorada por suas próprias palavras.

— Este jogo ainda n?o acabou. Estamos na ilha há mais de dois meses. Devemos ter feito algum tipo de progresso, algum contato. Deve ter alguém aqui capaz de nos ajudar.

Contato.

A palavra de Celeste lhe deu uma ideia. Sua respira??o parou. Seus pensamentos se dispersaram. Uma pessoa provou ser útil, várias e várias vezes. Alguém que lidava com segredos.

E se Isla tinha aprendido alguma coisa durante o Centenário, foi que segredos significavam tudo.

— Pergaminho — Isla pediu.

A governante Estelar sorriu.

— Eu volto já.

Uma hora depois, Celeste estava de volta com pergaminho, tinta e Ella. A Estelar agora sabia da amizade entre as duas, mas Isla n?o se perturbou. N?o quando Ella era parte do povo de Celeste e tinha se provado leal. Era de interesse dela e do reino manter os segredos da Selvagem.

Isla redigiu a carta rapidamente, mostrando-a para Celeste antes de dobrá-la ao meio e deixá-la com Ella para entrega.

Pronto. Isla tinha feito alguma coisa… N?o estava desistindo. Pelo menos n?o por enquanto.

Quando Ella partiu com a carta, Isla sentiu uma faísca de esperan?a. Ela poderia ser jovem, impotente e tola, mas se Oro e Cleo tivessem encontrado o cora??o já o teriam usado. Um dos governantes estaria morto, e as maldi??es teriam desaparecido.

Algo tinha dado errado para os dois.

Celeste estava certa. O jogo n?o tinha acabado. Pelo menos n?o por enquanto.

A carta era para Juniper, cujo bar estava fechado desde o baile. Se alguém conheceria a localiza??o de uma suposta biblioteca secreta ou saberia qualquer outra coisa que poderia ajudá-la a vencer, era ele.

A mensagem dizia: Detalhes do meu maior segredo em troca do seu?

Isla n?o conseguia dormir. E, ao que parecia, Grim também n?o. Ele estava virado de costas para ela no longo quarto, olhando através da janela, um limiar que ele n?o podia ultrapassar. Ele respirou fundo e relaxou a cabe?a para trás enquanto exalava, como se observar a escurid?o fosse a única coisa que o revigorasse.

Ela deu um passo, e ele se virou.

Ele pareceu surpreso. Aliviado.

— Cora??o — disse rapidamente, mais uma vez encurtando seu apelido anterior. Isla n?o era mais a “Devoradora de Cora??es” agora que ele n?o precisava fingir desconhecer o segredo dela? Grim avan?ou em passos largos em sua dire??o, sem nunca desviar o olhar, e, antes que ela pudesse dizer uma palavra, a envolveu nos bra?os.

Ela soltou um som que nunca tinha feito antes, e ele a tocou possessivamente, como se conhecesse cada centímetro de seu corpo e quisesse mais, quisesse tudo. Logo, a armadura dele estava no ch?o, ao lado do vestido dela e…

Isla engasgou enquanto se sentava, piscando, tra?os de seu sonho sumindo como os peda?os do vestido que Grim tinha…

Ela engoliu em seco.

Apenas um sonho.

Apenas outro…

Sonho.

No dia seguinte, Isla mal conseguia olhar nos olhos de Grim quando ele a visitou no Palácio de Espelhos. Ele vinha sempre que podia, adentrando o castelo como qualquer outro, incapaz de usar seu dom para isso. Juniper ainda n?o havia respondido, mas ela n?o tinha perdido a esperan?a. O dono do bar n?o seria capaz de resistir aos seus segredos. N?o se ele tivesse ouvido falar sobre a sua falta de poderes.

Grim tinha trazido chocolate do mercado para ela. Isla pensou que todas as lojas da pra?a tinham fechado depois do baile, quando a ilha come?ou a desmoronar, mas ela sabia que Grim podia ser muito convincente quando queria alguma coisa.

Isla quase foi capaz de sentir as m?os dele sobre ela durante o sonho.

Tinha sido t?o vívido, o jeito que ele tinha…

— Devoradora de Cora??es?

Ela piscou.

Ele sorriu. T?o perversamente que Isla bufou, seus olhos o encarando.

— Você… você me enviou aquele sonho? — ela perguntou com voz muito firme. Umbras tinham essa habilidade. Ela mesma o vira criar ilus?es durante as demonstra??es. — Você tem enviado todos eles?

Isla pensava em Grim mais do que deveria, mas o número de vezes que sonhara com ele era absurdo. Ele enchia sua cabe?a quase todas as noites.

Ela deveria saber. Todos aqueles sonhos que ela estava tendo ultimamente…

— Que sonho? — foi tudo o que o Umbra disse, mas seu olhar parecia dissimulado.

Ela se levantou da cama improvisada e foi até ele. Algo sobre plantar o sonho em sua mente parecia invasivo, n?o importava o quanto ela gostara da ilus?o, e suas m?os se fecharam em punhos raivosos nas laterais de seu corpo.

— Você sabe muito bem que sonho.

Grim teve a coragem de ainda fingir confus?o, embora os cantos de seus lábios tenham se contraído, se esfor?ando para n?o se esticar em um sorriso.

— N?o tenho certeza do que você quer dizer — ele disse. — Mas… pelo que estou ouvindo… e sentindo… gostaria de saber mais.

Ela lutou contra a vontade de pisar no pé dele antes de mandá-lo embora dali.

Isla saiu do Palácio de Espelhos na manh? seguinte com certa hesita??o.

Ela esperava encontrar a legi?o de Cleo aguardando por ela, ou os próprios Cleo e Oro, aproveitando a chance para matá-la.

Mas ninguém estava lá.

Ninguém esperava.

Isla n?o queria ir embora. Era muito cedo e parecia imprudente, mas Juniper enviara uma resposta — e tinha insinuado algo que valia a pena.

Eu sei quem lan?ou as maldi??es, ele havia escrito.

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