A terra havia ficado sem energia por muito tempo. O solo exigia o que lhe era devido. Levando Selvagens poderosos, um por um.
Quebrar a sua maldi??o e a deles n?o os salvaria, era tarde demais para o reino Selvagem. Até os poderes com os quais ela deveria ter nascido n?o seriam suficientes. N?o depois de ficarem mais fracos a cada gera??o de governante.
Para salvá-los, ela precisava de mais, mais do que um único governante poderia dar.
Lágrimas escorrendo pelo seu rosto, Isla se lembrou do prêmio. A pessoa que quebrasse as maldi??es estava fadada a receber uma habilidade imensurável; mais poder do que os reinos já viram. O tipo de poder que poderia salvá-los. O tipo que poderia salvar Terra. Por todo o Centenário, Isla esteve concentrada em garantir que n?o perdesse.
Agora, ela sabia que tinha que vencer.
Isla achou que ia vomitar. Tinha chorado por tanto tempo, parecia impossível que ainda houvesse algum líquido em seu corpo.
— O que aconteceu? — A voz de Oro soou surpreendentemente gentil quando ela o encontrou, andando de um lado para o outro em um c?modo no castelo do Continente. — Eu estava com você há apenas algumas horas — ele disse, confuso, com raiva, murmurando quase para si mesmo.
Seus olhos ainda deviam estar inchados. Ela n?o respondeu à pergunta.
— Sua oferta ainda está de pé?
Oro parecia saber que ela se referia à conversa na caverna. Para seu alívio, ele assentiu. Uma lágrima escorreu pela bochecha de Isla.
— Posso confiar em você? — ela perguntou.
Oro olhou para ela.
— Sim. Eu nunca menti para você, Isla. Nem uma vez.
Ela torcia para que isso fosse verdade. Seu est?mago parecia estar virado do avesso. Se Celeste soubesse que ela havia compartilhado de forma voluntária seu maior segredo com o rei, ficaria furiosa, mas a Estelar entenderia.
Isla n?o tinha escolha agora.
Oro estava bem na frente dela. Ele colocou a m?o na testa de Isla. Ele franzia a própria testa. Achava que ela estava doente? Ele analisou seu corpo rapidamente, clinicamente, procurando por les?es. Achava que ela estava ferida?
Ela desejou que estivesse. A dor física seria menos dolorosa.
Isla n?o acreditava que iria lhe contar seu segredo. Ela fechou os olhos, incapazes de olhar para ele como ela fazia. Cada osso em seu corpo, veia, músculo e faixa de pele gritavam contra essa ideia.
Seu segredo é sua maior fraqueza. Nunca o revele. A regra era como seu cobertor favorito. Ela aprendera isso antes de qualquer outra coisa. Todas as outras li??es nasceram daquela. Isla precisava aprender a lutar porque n?o tinha poderes. Precisava se esconder em seu quarto porque n?o tinha poderes. N?o podia encontrar ninguém sozinha porque n?o tinha poderes.
Era uma decep??o porque n?o tinha poderes.
Tinha que seguir as regras porque n?o tinha poderes.
Terra e Poppy governaram em seu lugar porque ela n?o tinha poderes.
Isla tinha que sobreviver ao Centenário e mentir, enganar, roubar e matar porque n?o tinha poderes.
N?o. Ela for?ou os olhos a abrirem. Obrigou-se a olhar diretamente para o rei quando disse as palavras ao redor das quais toda a sua vida havia sido construída. A base de tudo.
— Eu nasci sem poderes.
Pronto. As palavras saíram como pássaros soltos. A gaiola estava aberta. Nada nem ninguém poderia prendê-las de volta.
Oro ficou imóvel. Ela via em seus olhos que ele esperava qualquer coisa, menos isso.
O rei franziu a testa, confuso, apertou os olhos.
Um milh?o de pensamentos passavam por sua cabe?a, e Isla imaginou que nenhum deles era bom.
Era pedir demais para que ela ficasse ali depois de revelar seu segredo. Era forte o suficiente para dizer as palavras, mas n?o para ficar.
Isla deu meia-volta, mas Oro a deteve com um toque gentil.
Ele parecia estranho. Um pouco horrorizado.
— Você está dizendo que nunca usou poderes? — ele demandou.
Ela piscou. Ela teria que repetir?
— Sim — ela disse, sua voz trêmula. Ela engoliu em seco. — N?o se pode usar algo que n?o se tem.
Pela primeira vez, Oro ficou sem palavras. Ela poderia ter gostado de vê-lo t?o perturbado se n?o estivesse vivendo o pior dia de sua vida.
E ela sup?s que o oráculo estava certo, seu segredo foi revelado. Apenas n?o da maneira que ela havia imaginado.
Novamente, ela se virou para sair.
E, desta vez, o rei n?o a impediu.
CAPíTULO TRINTA E OITO
AMANH?
Na manh? seguinte, Isla entrou na sala do trono com a cabe?a erguida. Ela havia contado seu segredo a Oro, e sobreviveu.
O rei alegava que era um homem de palavra. O que significava que, agora, o poder prometido seria dela. Tudo o que precisavam fazer era encontrar o cora??o, que agora sabiam que estava na Ilha da Lua. Restavam apenas três lugares, e um deles seria revistado naquela mesma noite.
Estavam t?o perto.
A esperan?a era a única coisa que a impedia de desmoronar.
Estou indo, ela sussurrou para Terra. Estou indo te salvar, como você me treinou para fazer.
Matar estava permitido. Ela deveria estar com medo ao entrar em uma reuni?o com os outros governantes do reino, mas n?o estava. Isla tinha Oro. Celeste. Grim.
O rei havia convocado os governantes para uma atualiza??o. Isla estava segura ao seu lado. Grim apareceu em seguida. Ela n?o o via desde o baile, mas todas as noites passava os dedos pelo colar, imaginando quando teria coragem de puxar o diamante e convocá-lo para o seu quarto.
Cleo entrou vestindo uma capa com fecho frontal, com uma fenda que mostrava a cal?a por baixo. Ela olhou para Isla com pouco interesse, mas Isla n?o cometeu o erro de acreditar que isso significava que a Lunar n?o queria matá-la. Cleo provavelmente sabia que n?o poderia chegar perto de Isla com Oro como seu parceiro.
ótimo.
Celeste se juntou a eles. Depois Azul.
Todos ficaram longe. Olhos atentos. Prontos para atacar. Prontos para usar seus poderes, se necessário.
Oro finalmente falou, sua voz preenchendo a sala:
— Já se passaram sessenta dias desde o início do Centenário. Alguém gostaria de compartilhar seu progresso?
Ninguém disse uma palavra. Isla se perguntou o que, ou quanto, ela deveria dizer. Eles n?o haviam discutido a reuni?o antes.
Para sua surpresa, Oro disse:
— Isla e eu vasculhamos a ilha atrás de uma relíquia que acreditamos ter sido usada quinhentos anos atrás. Pensamos que usá-la tenha sido o crime original, e que seu poder criou as maldi??es.
A verdade. Quase completa. Ela piscou, chocada.
Azul franziu a testa.
— Que tipo de relíquia poderia ter lan?ado maldi??es?
— Uma infundida com o poder Umbra — Oro disse, sem rodeios.
Novamente, a verdade. Isla olhou para ele, os lábios entreabertos. Ele n?o tinha dito que n?o confiava nos outros? Por que n?o haviam discutido isso antes?
O governante Etéreo virou-se para ficar de frente para Grim.
— Tal relíquia poderia existir?
Grim ficou parado.
— Sim, se tiver sido criada há tanto tempo que um governante Umbra pudesse ter se dado ao luxo de sacrificar parte de seu poder.
Azul parecia incrédulo.