Lightlark (Lightlark, #1)

— Como lutar com uma espada?

— N?o. Isso foi difícil. N?o era naturalmente boa nisso, n?o como cantar. Costumava me frustrar o tempo todo… Terra, minha instrutora de luta, sempre repreendia minha falta de paciência. — Ela suspirou. — Ent?o, eu treinei. Muito. Todos os dias, o dia todo, o tempo todo. Até a espada sequer pesar na minha m?o. Até se tornar parte de mim, tanto quanto a minha voz. Eu a forcei a ser.

Oro a observou, mas n?o disse nada. Era a vez dela.

Finalmente. Era hora de fazer a pergunta, pelo bem de sua própria sanidade. Só para ter certeza de que ela havia tomado a decis?o certa em cancelar sua busca. Era uma coisa arriscada de dizer em voz alta, mas agora, no quinquagésimo quarto dia do Centenário, toda a??o parecia um risco.

— Existe uma relíquia na ilha capaz de quebrar qualquer vínculo? Que pode quebrar as maldi??es daqueles que a usam?

Ela estudou o rosto dele desesperadamente, procurando qualquer sinal de reconhecimento, qualquer sinal de surpresa. O rei franziu as sobrancelhas, mas, mais do que qualquer coisa, Oro parecia confuso.

— N?o — ele respondeu com firmeza. — Se existisse, eu teria encontrado uma maneira de usá-la.

Isla acreditou nele. Era uma coisa tola de se fazer, mas foi o que fez.

O que significava que o desvinculador nunca existiu… ou que tinha sido destruído antes que o rei soubesse de sua existência.

— Era isso que você estava procurando? — ele perguntou. Ele sabia que Isla tinha procurado por algo na biblioteca da Ilha do Sol e que n?o tinha encontrado.

N?o adiantava mentir agora. Ela assentiu.

Era a vez dela novamente.

— Desde quando você consegue transformar coisas em ouro?

Oro pareceu surpreso com a pergunta. Ele piscou. Isla se perguntou se essa seria a que ele se recusaria a responder. Alguns momentos se passaram em silêncio antes de ele dizer: — Desde crian?a. — Seus olhos estavam no ch?o. Perdido em pensamentos. — Disseram-me para guardar segredo — disse ele, franzindo a testa, como se n?o esperasse contar isso a ela. — Egan era o mais velho. O herdeiro. Ele deveria ser o mais forte.

— Mas ele n?o conseguia fazer isso — Isla adivinhou.

Ele encontrou os olhos dela. Assentiu.

— Ent?o por que agora? Por que mostrar a todos?

Oro suspirou. Encolheu um ombro.

— Pensei que, como estou morrendo, poderia muito bem compartilhar todos os meus segredos. — Ele disse isso casualmente, mas seus olhos estavam duros. Sérios. Ela pensou na mancha cinza-azulada que tinha visto horas antes. O quanto ela havia se espalhado desde que ele a mostrara pela primeira vez na sala do trono. Momentos se passaram, e o silêncio se estendeu entre os dois. Ela pensou se ele n?o iria fazer outra pergunta, até que Oro finalmente encontrou seu olhar e disse: — Qual era o seu segredo, Isla?

Isla. Era t?o raro que a chamasse pelo nome em vez de se referir a ela como Selvagem. Como se quisesse lembrar a ambos o que ela era. Ou, ela sup?s, do que deveria ser.

Ela sentiu a garganta ficar apertada.

— O quê?

O olhar dele era implacável.

— Seu segredo na minha demonstra??o. O que era?

Ela engoliu em seco. Balan?ou a cabe?a, negando.

O rei riu sem humor.

— Sabia que n?o me diria. — Ele co?ou um lado do pesco?o. — Que tal essa: por que você me deixou vencer nosso duelo?

Ent?o, ele sabia. O duelo parecia t?o distante. Tanta coisa tinha mudado.

— N?o queria me tornar um alvo.

— Ah.

Sua vez de ser ousada. Para provar que, mesmo tendo proclamado que queria compartilhar todos os seus segredos, ainda havia alguns que ele n?o estava disposto a revelar.

— Qual é o seu dom? — ela perguntou. Ela havia debatido por um tempo se o rei tinha um dos raros poderes que n?o se relacionavam com seus reinos, aqueles que os governantes muitas vezes possuíam.

A forma como Oro fez uma pausa a fez ter certeza de que sim. O Solar inclinou a cabe?a para ela. Ponderando.

— Conte o seu segredo e eu te direi.

Miserável. Ela n?o disse nada.

O rei sorriu. Isso a irritou. Ela nunca o tinha visto sorrir, n?o de verdade e de forma genuína.

— Que tal isso? — Ele se sentou mais ereto. Seus olhos n?o estavam mais vazios, estavam cheios de algo que ela n?o conseguiu decifrar. — Conte-me o seu segredo, e você pode vencer.

Silêncio. Seu cora??o estava batendo t?o alto, era impressionante que n?o estivesse ecoando pela caverna.

— O quê?

Oro nem sequer piscou.

— Quando encontrarmos o cora??o, você pode brandi-lo, cumprindo a profecia. Você pode ganhar o grande poder prometido. — Ele encolheu os ombros. — Mas só se me contar seu segredo.

Ganhar?

Isla nunca tinha pensado em ganhar. Estava dedicada demais a sobreviver. A quebrar as maldi??es dela e de Celeste. E, por último, a finalmente receber suas habilidades de Selvagem.

Ele n?o podia estar falando sério.

— Por que você faria isso? — ela exigiu. — N?o quer o poder para si?

Oro balan?ou a cabe?a.

— N?o desejo me tornar um deus — disse ele. — Poder demais é perigoso. Eu nunca quis ganhar, só quero salvar Lightlark.

Isla zombou.

— Você daria o poder para mim?

— Para quem mais? Você acha que Cleo deveria ficar com ele? — Isla mostrou os dentes, e Oro parecia pronto para sorrir com a rea??o dela. — Exatamente.

— Que tal Azul?

Oro balan?ou a cabe?a, mas n?o deu uma explica??o.

Poder. Isla queria isso cada vez mais. O poder prometido, segundo a profecia, era infinito. As coisas que ela seria capaz de fazer…

N?o.

Isla nunca tivera uma gota de poder. O que ela faria com um mar inteiro?

Particularmente porque o pre?o era revelar seu segredo.

Isla balan?ou a cabe?a.

O rei pareceu surpreso, ent?o franziu a testa.

— Ou você é a única governante que também n?o está interessada no prêmio do Centenário — disse ele — ou seu segredo é pior do que eu pensava.

— Isso n?o é uma pergunta — foi sua única resposta.

Pelo resto do tempo, eles mal se falaram. O jogo tinha acabado.

Isla observou a claridade batendo na entrada da caverna até ficar fraca e desaparecer.





CAPíTULO TRINTA E SEIS


ORáCULO





Cada um dos dias após o baile trouxe destrui??o. Uma constru??o antiga caiu no mar. Mais um anci?o morreu. Outra rachadura se formou durante a noite, dividindo o Continente. A tempestade amaldi?oada aumentou ao longo da costa. Ainda presa, ela enfureceu. Relampagos fortes irrompiam o tempo todo, todas as noites, alto o suficiente para Isla ouvi-los de onde quer que estivesse. Contando os dias.

O cora??o n?o estava em nenhum dos lugares da Ilha do Céu nem da Ilha do Sol, onde Oro procurou sozinho.

Mas, no quinquagésimo nono dia do Centenário, chegou a hora de procurar na Ilha da Lua, onde a escurid?o encontrava a luz. Era o último lugar que Oro disse que queria procurar.

Isla se perguntou sobre os guardas. Oro havia insinuado que n?o gostaria que Cleo soubesse que eles estavam procurando algo em sua ilha.

Mas o rei tinha uma solu??o. Uma que Isla n?o gostou.

— Eu vou devagar — ele disse, surpreendendo-a.

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