Lightlark (Lightlark, #1)

Isla o encarou.

— Mais devagar — ele acrescentou.

Ela n?o queria experimentar voar novamente, mas também n?o conseguia pensar em outra maneira de passar pelos guardas sem contar a ele sobre sua varinha estelar.

— Se você me deixar cair…

— Você vai me estripar, estou ciente.

E ent?o ela estava no ar. Enterrou o rosto no peito dele, protegendo os olhos contra o vento. A m?o de Oro estava espalmada em suas costas, seu abra?o um pouco solto demais para o gosto dela, ent?o Isla agarrou o pesco?o dele com for?a.

— Sabe — ele disse em seu ouvido —, eu me perguntava como os Selvagens arrancavam cora??es usando apenas as unhas. — Uma das m?os que deveria estar segurando-a com for?a se soltou e puxou os dedos de Isla, um por um, até n?o estarem mais cravados em sua pele. — Agora eu sei que elas s?o afiadas como adagas.

Isla ergueu a cabe?a para lan?ar a ele um olhar fulminante.

— Eu n?o teria que me agarrar tanto se você me segurasse direito.

— Direito?

Ela assentiu.

— Firme. Com mais seguran?a.

Oro moveu as m?os. De repente, em vez de estar presa frouxamente em sua frente, ela estava embalada contra seu peito. O corpo de Isla foi aquecido com seu calor. Estava quase confortável.

— Melhor? — ele perguntou. Ela esperava que o tom fosse de zombaria, mas n?o era.

— Melhor.

Antes que ela percebesse, Oro pousou, seus bra?os apertando-a enquanto fizeram contato.

No segundo que se afastou dele, gelo encheu seu peito. A Ilha da Lua havia ficado significativamente mais fria desde a última vez que estivera ali. Seus olhos dispararam para Oro. Ele era o motivo. Já que Lightlark e seu controle sobre ela estavam enfraquecendo, ele n?o conseguia mais mantê-la aquecida nem iluminada. Os dias eram mais escuros. O sol se punha mais cedo. Todas as partes da ilha estavam visivelmente frias. Dezenas de lareiras e tochas tinham sido adicionadas por todo o continente e dentro do castelo, mas eram apenas uma solu??o temporária.

Eles haviam pousado nas margens de uma floresta, com árvores que mais pareciam raízes nodosas e retorcidas, delicadamente tran?adas no topo. água navegava entre elas, transportando lírios-d’água e flores brancas gordas, t?o grandes quanto as palmas de suas m?os. Estava t?o silencioso que ela podia ouvir a neve caindo. Ela estremeceu, o ar frio saindo de seus lábios. Seus dedos já pareciam congelados; os dedos dos pés eram pequenos blocos dentro das botas. O vento batia nas bochechas e no nariz, seus olhos lacrimejavam e ardiam.

De repente, Isla gritou.

No meio do silêncio, um pássaro azul-escuro como o oceano pousou em seu ombro e guinchou direto em seu ouvido.

Oro virou-se e atacou imediatamente, sem esperar para ver o que a amea?a era. Seu fogo ondulou através da noite, bem onde o pássaro estava, mas ele era rápido e saiu voando, de volta pelo bosque.

Seu bra?o abaixou enquanto o observava. Quando ele se virou para Isla, suas sobrancelhas estavam ligeiramente levantadas.

— Você n?o devia ser boa com animais?

— N?o quando eles explodem meus ouvidos — ela disse, batendo com cuidado na orelha. — Você n?o deveria cuidar melhor do seu fogo?

A mandíbula de Oro ficou tensa; parecia que as palavras de Isla o tinham feito pensar.

— Sim — ele disse de forma sucinta.

Eles caminharam em silêncio até que o ch?o virou gelo. Ela podia ver as raízes das árvores abaixo das veias como cristal, escuras como a noite. Eles chegaram a um penhasco onde a neve come?ou a endurecer o ch?o, congelando-o. Suas botas rapidamente ficaram presas nele, ent?o ela seguiu atrás de Oro, cujos passos derretiam uma trilha. Flocos de neve se perderam em seu cabelo e se acumularam em seu nariz, e ela se sentiu t?o fria quanto uma das estátuas de gelo que estavam na frente do palácio da Ilha da Lua.

Depois de uma hora, sua respira??o ficou ofegante, e ela deve ter diminuído o passo, porque Oro finalmente se virou. Um olhar para ela, e ele ofereceu sua m?o.

— Eu posso te aquecer.

Ela queria dizer n?o, mas estava cansada de ser orgulhosa. Ela segurou sua m?o, e ele franziu a testa.

— Você está congelando. — Ele disse isso como uma acusa??o.

Isla queria encará-lo, mas seus olhos ardiam demais para realizar o movimento.

Em um rápido movimento, ele removeu a capa dourada e a colocou ao redor de Isla. Era t?o grande que a envolvia como um cobertor. Ela queria rejeitar, mas no momento em que tocou sua pele seu corpo foi inundado com um calor que parecia derreter através de seus ossos. Ela enterrou o rosto no tecido, ombros tremendo enquanto ela o amarrava mais perto de si. Ele cheirava como mel e folhas de hortel?, deliciosamente macio contra sua pele.

Quando ela finalmente tirou a cabe?a da capa e a abotoou em volta do pesco?o, Oro a observava com cuidado.

— Você está… bem? — ele perguntou, como se a ideia de hipotermia e morrer de frio nunca tivesse passado pela sua cabe?a.

— Estou bem — ela disse rapidamente, levantando o queixo como se isso a fizesse parecer menos ridícula. Ela passou por ele, na neve que inundava seus tornozelos com o frio. — Obrigada.

Oro seguiu atrás, e ela devia estar andando na dire??o correta, porque ele n?o disse uma palavra. Ela n?o parou até chegar a uma placa de gelo t?o grande que era como uma geleira que ficara presa na terra.

Isla olhou para ela. Havia algo ali dentro. Ela se aproximou e limpou com a capa de Oro. Um pouco da geada clareou, e ela se assustou, trope?ando para trás, direto em Oro, que a segurou antes que ela caísse na neve.

Três mulheres estavam presas no gelo.

— Os oráculos — ele disse, as m?os soltando os ombros de Isla.

Ela piscou muitas vezes.

— Achei que havia só um.

— Apenas um descongelou nos últimos mil anos.

— Por que est?o aqui?

Oro deu um passo para o lado dela.

— Um rei muito antes de mim as prendeu no gelo, para que elas nunca saíssem nem morressem. Três mulheres nascidas com o dom da profecia. Enfurecidas por serem presas, duas delas uniram for?as com Umbra, chamando pela parte escura da ilha. Quando a Ilha da Noite foi destruída, elas congelaram para sempre.

— Ent?o, este é um lugar onde a escurid?o encontra a luz.

Oro assentiu enquanto colocava a m?o contra o gelo, que come?ou a descongelar imediatamente.

Os olhos da mulher do meio se abriram. Ela flutuou na água, seus cabelos brancos como uma auréola ao redor de sua cabe?a. Seu olhar foi para Isla, depois Oro, depois Isla novamente.

Sua voz ecoou, soando como um milh?o de vozes presas em uma só garganta.

— Faz muito tempo desde que eu vi um Solar e um Selvagem lado a lado. — Ela inclinou o corpo para eles, seu rosto a poucos centímetros do deles. — Fui avisada para n?o ajudá-los… mas isso é muito curioso…

Essa era a mulher que havia falado da profecia das maldi??es. A chave para quebrá-las. Suas palavras eram as que eles seguiam como lei. As que conhecia desde quando aprendeu a falar.

— Avisada por quem? — Oro exigiu.

O oráculo balan?ou a cabe?a.

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