— Ent?o n?o deveríamos todos procurar esta relíquia? Umbra n?o deveria procurar por ela? Talvez consiga atraí-la.
Isla lan?ou um olhar fulminante para Oro. Por que ele entregaria tanto?
— N?o — o rei disse, sua voz absoluta. — N?o podemos correr o risco de concentrar nossos esfor?os em um só caminho, se estivermos errados. N?o com a urgência da nossa situa??o. — Ele levantou a manga, mostrando a eles o quanto o cinza-azulado havia se espalhado. Seu corpo era como um mapa, demonstrando o desmoronamento da ilha. Ela endireitou a postura. Pelo menos teve o bom senso de manter os outros fora do plano. — No entanto — completou —, acredito que seja a hora de uma mudan?a nas duplas.
O sangue sumiu do rosto de Isla.
Oro virou-se para a governante Lunar.
— Cleo, seria conveniente para você se juntar a mim para que possamos procurar juntos por essa relíquia na Ilha da Lua?
Isla n?o conseguia respirar. Um zumbido tomou conta de seus ouvidos. Ela só podia ter ouvido errado… entendido errado. Isso ao menos era possível?
Ela sabia que deveria ter escondido a indigna??o em seus olhos, lan?ando olhares fulminantes de raiva para Oro. Ou o seu queixo caído.
Mas o rei nem se virou para olhá-la.
O sorriso de Cleo era felino.
— Tem certeza, rei? — ela disse. — Parecia que você e a Selvagem estavam se dando t?o bem.
Oro juntou Azul e Celeste em seguida, e ent?o Isla e Grim, mas ela mal ouvia sua voz por causa do zumbido. Seu corpo mal resistiu a correr para a mesa e cortar a garganta do rei com a própria coroa.
A compreens?o a atingiu como uma pedra em seu peito.
Oro a usou até ela se tornar inútil para ele. Exatamente como Celeste tinha alertado.
Agora que eles sabiam que o cora??o estava na Ilha da Lua, ele havia mudado alian?as para seguir com o plano. Ele havia escolhido Cleo.
Desde o primeiro momento em que o conheceu, todas as escolhas de Oro haviam sido para o bem de seu povo. Eu farei tudo o que for preciso para quebrar essas maldi??es, ele dissera.
Mesmo que isso significasse traí-la.
— Você realmente tem certeza, rei? — Cleo disse, olhando para Isla com lábios franzidos. — Tenho que admitir, estou desconfiada… Isso n?o é uma estratégia entre você e a Selvagem, n?o é?
Uma pontada de esperan?a cresceu em seu peito. Eles haviam trabalhado juntos por semanas, ela havia salvado a vida dele e ele, a dela. Talvez ele n?o a estivesse traindo. Talvez isso fosse uma estratégia…
O sorriso de Oro era puro divertimento.
— Vou te contar um segredo que pode explicar minha decis?o — ele disse em voz alta, para todos ouvirem. Ele se virou para olhar direto para Isla. — Isla Crown n?o tem poderes.
O mundo congelou.
Depois se despeda?ou.
Ela era uma tola. Uma tola por acreditar que o rei a deixaria receber o poder prometido da profecia. Uma tola por acreditar que suas promessas tinham significado. Uma tola por acreditar que manteria seu segredo.
As palavras do oráculo ressoaram em sua cabe?a, em um tom desesperado.
Há mentiras e mentirosos por toda parte, Isla Crown. Ela estava falando de Oro. Tentando avisá-la.
A trai??o queimou em seu est?mago, ferro se transformando em uma lamina. Queria apunhalar o cora??o de Oro.
Cleo se virou para ela, parecendo entender que Isla estava desprotegida. Sozinha. Impotente.
Ela deu um passo à frente.
Mas, antes que qualquer um dos governantes pudesse fazer um movimento contra ela, Grim segurou sua m?o e eles se foram.
CAPíTULO TRINTA E NOVE
PROMESSA
Eles sabiam. Todos eles sabiam.
O segredo que ela guardara por toda a vida, a raz?o pela qual esteve presa dentro de um quarto, o que faria dela o alvo número um no Centenário.
Eles sabiam, porque Oro havia contado a eles.
A dor era como garras revirando suas entranhas.
N?o. Isso n?o podia ser real.
Ele disse que nunca havia mentido para ela. Disse que podia confiar nele. Tinha ficado mais gentil, mais carinhoso.
Idiota. Mesmo agora, ela ainda o defendia. Mesmo depois de ter arruinado suas chances de quebrar a maldi??o e salvar seu reino.
Oro havia condenado Isla à morte. Tinha usado ela. Isso era real.
Em um momento ela estava na sala do trono, vendo o horror no rosto de Celeste. Vendo Cleo dar um passo em sua dire??o. Em seguida, estava do outro lado do Continente, descendo o penhasco, em uma praia.
Grim ainda segurava sua m?o.
Grim. Ele era a raz?o pela qual ela n?o estava morta, mas como ele…
Isla deve ter parecido confusa, porque ele disse: — Meu dom.
Seu dom. Ent?o era isso.
Era um poder perigoso. Isla pensou que Grim podia apenas ficar invisível. Ela nunca imaginou que ele fosse capaz de viajar pela ilha num piscar de olhos.
Ela se lembrou de sua proclama??o na praia.
Eu poderia levá-la de volta para as terras de Umbra comigo agora mesmo.
Os outros governantes sabiam disso? Ou simplesmente suspeitavam que ele a tornara invisível?
O que estava claro era que ele havia arriscado que seu dom fosse descoberto… por ela.
— Obrigada — ela disse, as lágrimas pinicando os cantos dos olhos. — Eu…
Ele a observou com aten??o. Seus olhos cheios de preocupa??o.
é claro. Agora Grim sabia seu segredo.
Será que ele a trataria com desdém?
Ela deu um passo para trás.
Ele se arrependeu de revelar seu dom para salvá-la?
Ela se sentia envergonhada. Fraca. Tola.
— Eu sabia — ele disse gentilmente.
Um segundo. Outro.
— Sabia o quê?
Ele se aproximou. Até ficar bem em sua frente. Ele pressionou dois dedos em seu peito. Ela estremeceu.
— Eu sabia que você n?o estava ligada às maldi??es e que você nunca exerceu poderes.
O mundo inteiro de Isla ficou borrado, torto.
Ele sabia.
— O quê?
Ela imaginou que suas emo??es eram uma onda gigantesca de sentimentos, medo e vergonha e surpresa e angústia duelando entre si.
— Umbras… nossos poderes incluem maldi??es. Posso sentir todas as outras. Eu soube desde a primeira vez em que te vi que você n?o estava ligada a elas.
Ela se lembrou de como ele a livrou de comer o resto do cora??o, exigindo que fosse levado para o seu quarto durante o primeiro jantar. Ele já sabia.
Ele sempre soube.
— N?o sou um perigo para você, Isla — ele disse, sua voz firme. Olhos sinceros. — Eu nunca te machucaria ou revelaria seu segredo.
— Por quê? — ela perguntou, sem f?lego. Por que ele n?o contaria aos outros? Por que n?o tinha desistido dela no momento em que sentiu que ela n?o estava presa às maldi??es?
Grim sorriu. Mesmo naquele momento, era irritante a maneira como ele a fazia derreter por dentro.
— Porque somos monstros, Devoradora de Cora??es — ele disse. — Ou, pelo menos, é o que eles pensam. — Seu sorriso se alargou. — E monstros se ajudam.
Eu sou o monstro.
O quebra-cabe?a come?ou a se formar. O fascínio imediato de Grim. Sua busca por ela, sem medo de sua maldi??o.
As partes dela que recuaram de medo agora se acalmaram. Isla se sentia quase nua, destruída, na frente dele. Defeituosa. Impotente.