Lightlark (Lightlark, #1)

Ela se lembrou da primeira vez em que havia se transportado para o reino Lunar. Como ela havia odiado. O gelo e a paisagem coberta de neve pareciam lindos, mas eram como mordidas. Mosquitos por todo o seu corpo. Ela ficou por apenas alguns minutos, tempo suficiente para assistir à maré da lua cheia engolir um navio inteiro.

Ela nunca pensou que algo t?o simples e natural como o frio seria o que acabaria com ela. Talvez uma maldi??o ou uma lamina no cora??o, mas nunca o frio.

Primeiro, Isla ficou triste. Depois, aterrorizada.

E ent?o com raiva de novo.

Cleo estava certa… Ela era uma tola. Tinha seguido Lunar sem um plano, desesperada para conseguir respostas. E o cora??o.

E vingan?a.

Ela retirou todas as palavras que havia dito a sua m?e, chamando-as de volta do céu, puxando suas ora??es para si. Se ela tivesse poderes, talvez pudesse levantar um dedo e acessar a rocha abaixo do gelo. Ou uma árvore. Ou chamar um animal que a ajudaria a se libertar.

Sim, é culpa sua, ela disse em sua cabe?a. Se eu morrer, a culpa é sua. Que tipo de Selvagem se apaixona, sabendo o pre?o? Isla se perguntou como a m?e estaria agora. Uma vers?o mais velha de si mesma, sup?s. Depois que um governante tinha filhos, come?ava a envelhecer como devia, parecendo mais e mais velho conforme a família crescia. Cada família só tinha acesso a certa quantidade de poder. Após as maldi??es, a ilha e os reinos enfraqueceram, mas, de certa forma, algumas pessoas, ao perderem suas famílias, se tornaram mais fortes.

Isla n?o tinha família. E era fraca mesmo assim.

Sozinha.

N?o… sozinha n?o.

O colar. Grim disse a ela para tocá-lo sempre que precisasse dele. Ele poderia salvá-la. Suas m?os estavam longe demais, era impossível soltá-las do gelo, mas seu queixo, talvez ela pudesse usá-lo para encostar na corrente…

Um som do fundo de sua garganta ecoou contra as montanhas ao redor enquanto ela se contorcia, os nervos na base do pesco?o pulsando de dor. Ela inclinou a cabe?a o máximo que p?de, e ela latejava.

Mas com o gelo que Cleo tinha prendido sua garganta, isso n?o era o suficiente.

Ela caiu, a cabe?a batendo na parte de trás da montanha. Isla mal processou a dor. Mesmo que pudesse tocar o colar, Grim n?o podia sair à noite, ela se deu conta. Só conseguiria alcan?á-la pela manh?.

E ela já estaria morta ent?o.





CAPíTULO QUARENTA E TRêS


MENTIRAS





Arespira??o quente soprava contra sua bochecha. Ela ouviu o gelo quebrando. Alguém batia uma lamina contra ele. Cortando através do gelo para salvá-la, como se estivesse esculpindo uma estátua.

Isla n?o conseguia abrir os olhos. Eles tinham congelado, como o resto de seu corpo. Seus cílios estavam colados. Embora ela n?o pudesse ver, sabia que ainda era noite, pois o ar estava ainda mais frio.

Seus lábios tentaram se separar, para agradecer a quem a libertava, mas eles estavam selados, unidos pela geada. Quem quer que fosse, batia sua arma com for?a contra o gelo, repetidamente, as vibra??es percorrendo seus ossos. Iria acertá-la se n?o tomasse cuidado.

— é ela, n?o é? — disse uma voz. Era perversamente profunda e entretida.

Outra voz.

— Olha o rosto dela. Claro que é. — Ela sentiu algo afiado contra a bochecha. Uma lamina? N?o, uma unha. Longa. — Faremos um caldo com seus ossos que vai nos encher de poder. Vamos queimar o cabelo dela e inalar a fuma?a para ficarmos lindas novamente.

Isla prendeu a respira??o.

A primeira voz disse:

— Ela está acordada, n?o está? Acha que consegue nos escutar?

— N?o me importo. Onde está Thrayer? Este gelo n?o está querendo quebrar.

Algo farfalhou nas proximidades. Ent?o:

— Estou aqui. Vocês já a encontraram desse jeito?

A primeira gritou.

— Presa como uma formiga no mel.

— Bom. Muito bom…

O gelo ficou quente, transformando-se em água. Isla escorregou pela lateral da montanha, caindo em sua base. Mesmo que seu corpo estivesse livre, ela n?o conseguia mover um músculo, nem mesmo para alcan?ar seu pesco?o.

Alguém a agarrou por baixo dos ombros e a ergueu.

Quem eram? Canibais que iriam assá-la no espeto e devorar sua carne carbonizada?

Estava t?o frio que a promessa do calor era quase bem-vinda.

Quem quer que fossem, um Lunar estava os ajudando. Alguém tinha descongelado o gelo.

Carregaram-na pela floresta. Ela podia ouvir aquele pássaro ridículo que havia denunciado sua presen?a. O pássaro de Cleo. Ele a estaria observando? Ela imaginou que a governante Lunar sentiria muito prazer em vê-la assada viva.

— Atire nesse pássaro. Está fazendo meus ouvidos sangrarem.

Ela ouviu o som de uma flecha sibilando na noite. Por um momento, houve silêncio.

Em seguida, mais gritos estridentes.

— Se n?o consegue acertar um maldito pássaro, por que deveria ficar com o cora??o dela?

— Fui eu que a encontrei!

— Talvez eu atire em você e fique com ela para mim.

O pássaro gritou e gritou, quase em alegria.

A floresta ficou em silêncio.

Ela sentiu uma corrente de ar, um gosto metálico na boca.

Uma de suas captoras berrou, e o calor das chamas passou rugindo por seu rosto. O cheiro de explos?es quebrando algo próximo a ela, respingos de sangue contra a pele. Quem a segurava a largou.

Mas, antes que ela caísse no ch?o, os bra?os de outra pessoa a envolveram.

E Isla estava no ar.

Ela era metal sendo moldado em uma lamina, saturada de tanto calor que gritava e se perguntava como ainda tinha for?as para emitir som.

— Só mais um pouco — alguém disse.

Ao som daquela voz, Isla parou e golpeou o ar com todas as suas for?as, movendo quaisquer membros que tivessem sido descongelados.

Alguém cobriu seus olhos com a m?o, aquecendo-os, e, finalmente, ela p?de abri-los.

Oro estava parado acima dela, franzindo a testa.

— Você — ela disse por entre os dentes, a voz venenosa. Suas m?os imploraram para sufocá-lo. Para estripá-lo, passar uma lamina bem no meio do peito dele, arrancar seu cora??o com as próprias m?os.

Ele estava ali para matá-la? Tinha finalmente encontrado o cora??o de Lightlark?

— Antes de fazer qualquer coisa horrível que tenho certeza de que está imaginando — ele disse —, deixe-me explicar.

Ela teria se lan?ado sobre ele sem ouvir mais uma palavra se seu corpo ainda n?o estivesse t?o dormente.

Oro suspirou.

— Eu n?o traí você, Selvagem. — Isla abriu a boca, mas ele continuou: — Embora o fato de você ter acreditado nisso tenha me ajudado tremendamente…

— Ajudado com o quê? — ela rosnou. Oro estava mentindo. Isla n?o acreditava em uma palavra que saía de sua boca perversa.

— Um dos lugares onde a escurid?o encontra a luz na Ilha da Lua era impossível de acessar sem a ajuda de Cleo. Foi envolto em um labirinto séculos atrás para impedir intrusos. Eu precisava dela… ent?o alterei as duplas.

As unhas de Isla cravaram-se na palma das m?os. Ela conseguia mover os dedos. Talvez, se fosse rápida o suficiente, conseguiria estrangulá-lo. Tentou levantar a m?o, mas mal chegou a um centímetro da cama.

Cama.

Ela olhou ao redor, perturbada.

N?o estava em seu quarto. Estava no dele.

As paredes eram simples, mas o teto era de ouro maci?o. Os pisos eram de pedra. Todas as janelas estavam cobertas por tecidos pesados.

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