— Eu ouvi o pássaro — disse ele. — Foi como te encontrei. Segui o pássaro.
Pássaro estúpido, ela pensou. O mesmo que tinha quase causado sua morte. Pelo menos tinha feito alguma coisa boa.
De repente, Isla ficou cansada, sua energia se desfazendo t?o facilmente quanto seu vestido. Suas pálpebras estavam pesadas, e ela sorriu. Deitou-se no sofá, sua cabe?a contra a perna dele. A bebida fez sua mente girar atrás dos olhos e ela gemeu.
— Minha cabe?a está cheia de mel — disse, porque era exatamente o que parecia.
Oro riu, e foi uma surpresa t?o grande que ela desejou que seus olhos abrissem só para ver se era verdade.
Isla acordou quente. O vinho ainda ofuscava sua mente, mas agora parecia mais uma névoa do que a tempestade da noite anterior. Ela se lembrava de peda?os da celebra??o. De Celeste vindo atrás dela. De ter notado os guardas. De ter bebido o vinho. Do caminho até o castelo. De ter rasgado suas roupas. Seus olhos se abriram.
Sua cabe?a estava no colo de Oro, sua bochecha contra a perna dele. Ele estava encostado no sofá, exatamente como ela se lembrava.
Só que ele dormia.
Ela se perguntou o que, em mil reinos, eles colocavam no vinho. E soube por que Terra e Poppy a impediram de beber. Lembrou-se de sua conversa na noite anterior e estremeceu. Suas perguntas tinham sido t?o descaradas, mas Oro tinha respondido, n?o tinha?
Há quanto tempo eles estavam dormindo? Ela se virou para a sacada. As cortinas estavam fechadas, nenhuma luz atravessava o pequeno v?o entre elas. Noite, ent?o. O que significava que lá embaixo, nos jardins, a festa ainda acontecia.
Oro parecia mais tranquilo do que ela jamais o vira. Quase doeu ter que cutucá-lo, mas ele tinha que participar do Carmel pelo menos pelas últimas horas. Ele se assustou, a m?o subindo rapidamente em defesa, quase agarrando Isla pela garganta. Seus olhos se arregalaram por meio segundo quando ele a viu à sua frente na escurid?o. Ent?o se endireitou e baixou a m?o.
— Você pegou no sono — disse ela. — Obrigada… obrigada por ficar comigo. Me desculpe, acho que você perdeu parte da… festa.
As sobrancelhas de Oro se juntaram um pouco, e Isla se perguntou se ele tinha esquecido. Parecia melhor. As olheiras roxas sob seus olhos estavam mais suaves, seu queixo mais forte.
Isla lembrou-se do som com o qual havia adormecido: a risada de Oro. N?o uma risada maldosa, do jeito que ele sempre fazia. Ela nunca tinha ouvido ele rir de verdade. Enquanto olhava para ele, ela se perguntou se teria imaginado. Ele estava com o cenho franzido enquanto analisava o quarto, como se tivesse se arrependido de ter concordado em entrar.
Isla se levantou. N?o ousou olhar para o vestido que ela sabia que estava em frangalhos, rasgado acima da coxa. Oro também n?o a encarou enquanto se levantava.
— Tenho que ir para a celebra??o — disse ele rispidamente.
Isla assentiu.
— é melhor.
Sem pensar, ela estendeu a m?o e consertou sua coroa, que havia saído do lugar enquanto ele dormia.
Seus olhos se encontraram quando ela terminou. Algo como raiva brilhava nos dele. Ela se afastou, surpresa.
— Mais dois lugares na Ilha da Lua — ele disse categoricamente, com indiferen?a. — Amanh?, vamos até um deles. No dia seguinte, no outro. E ent?o acabou.
— ótimo — disse ela secamente antes de se virar para a varanda e deslizar pelas portas.
O ar da noite era como uma carícia, farfalhando as pétalas que ainda restavam em seu vestido. Ela podia ouvir a celebra??o lá embaixo, o tilintar de copos e sussurros de conversas e músicas alegres.
Uma hora depois, Isla ainda estava na sacada quando uma batida ressoou a sua porta. Ela revirou os olhos, esperando que Oro tivesse voltado para ver como ela estava. Isla abriu com um suspiro.
E se deparou com Ella parada ali, com o rosto vermelho. Foi quando ela percebeu que a festa que podia ouvir de sua varanda havia silenciado. A música tinha parado.
— O que aconteceu? — Isla perguntou, recuperando sua adaga em um piscar de olhos.
Ella, sem estremecer com a arma, disse, ofegante:
— Um dos líderes foi atacado.
— Qual deles? — ela perguntou, rugidos enchendo seus ouvidos, enchendo o mundo.
Os dedos sob a luva prateada de Ella tremeram ao lado de seu corpo.
— A Estelar.
CAPíTULO QUARENTA E CINCO
DESAPARECIDA
Isla atravessou o castelo como uma tempestade. Se ela tivesse poderes, estariam fora de controle. Ela correu como se estivesse fugindo, empunhando a adaga pronta para jogá-la; seus dentes rangiam como se o mármore sob seus pés fosse gelo.
Ella, uma Estelar, estava viva. O que significava que sua governante também devia estar.
Tinha que estar.
Conforme ela se aproximava dos gritos e dos ilhéus desesperados correndo dos jardins, Isla se lembrou de sua máscara.
Ela n?o deveria conhecer Celeste antes dos últimos meses.
Ela n?o deveria se importar tanto.
Isla beliscou a palma da m?o para n?o chorar. Suavizar as rugas de preocupa??o em seu rosto era como tentar torcer uma placa de metal, mas foi o que ela fez.
Ainda assim, ao adentrar os jardins, ela estava correndo.
Ofegante. Parou.
Celeste flutuava no meio de um labirinto em miniatura. Parecia estar dormindo. Névoa prateada e fios finos como teias de aranha teciam um fino véu ao seu redor.
O único outro governante ali era Oro. Ele se virou para ela, o rosto tenso.
— é um antigo encantamento. Faz tempo que n?o o vejo. é um veneno.
Cleo. Ela fora atrás de Celeste. Como Oro havia suspeitado.
— Como revertemos? — Sua voz estava ofegante.
Oro balan?ou a cabe?a.
— N?o podemos. Só o corpo dela pode se curar. A habilidade de cura Lunar fortalece o veneno.
Os lábios de Isla tremeram. Ela olhava Celeste como se observasse um cadáver em um caix?o.
Nos últimos setenta e cinco dias, Isla come?ara a se sentir forte. T?o diferente da insegura e inexperiente garota Selvagem que havia pisado na ilha pela primeira vez.
Agora, ela se sentia completamente impotente outra vez.
N?o. Tinha que haver uma maneira de curá-la. Ela n?o podia simplesmente n?o fazer nada.
— Quem quer que tenha lan?ado o feiti?o foi interrompido — disse Oro, estudando a teia ao redor da líder Estelar. — Deveria tê-la matado imediatamente. Essa é a única boa notícia.
As m?os dela estavam fechadas em punhos.
— Quando ela vai acordar? — Isla perguntou. Sua voz estava muito alta, embargada.
Oro virou-se para ela.
— Se ela acordar… pode levar dias. Semanas.
A ilha talvez n?o durasse tanto tempo.
— Foi ela — Isla rosnou. — Cleo.
Oro n?o encontrou seu olhar.
— Talvez.
— Talvez? — Isla queria gritar, queria chorar, mas n?o fez nenhuma dessas coisas, e esperou pacientemente que Oro fosse embora.
Quando Isla quase foi assassinada, Celeste a salvou. Quando quase foi esmagada pelo teto no baile, Celeste estava lá para ajudá-la. Quando Isla estava se recuperando da suposta trai??o de Oro, Celeste a havia tirado de sua tristeza.