— Só um pouco. Neste momento, quero estar em qualquer outro lugar.
Grim sorriu de forma maliciosa. Ele envolveu sua cintura com o bra?o.
— Ent?o me permita levá-la embora, Devoradora de Cora??es.
Ele caiu para trás e a levou com ele. Despencaram da varanda, de costas, para o andar de baixo.
A m?o de Grim tapou sua boca antes que ela pudesse gritar. Logo depois, ela estava em seus bra?os. Tudo era um borr?o, o mármore e o teto, luzes e as camadas de seu vestido se misturando para criar sua própria galáxia, e ent?o ela estava no ch?o.
Isla olhou para ele como se quisesse estripá-lo, e ele apenas riu. Os nobres estavam amontoados como lobos lá em cima, alheios a eles. Ela deixou de ser uma sombra, e Grim ficou sólido diante dela. Ele pegou a m?o dela mais uma vez e disse:
— A noite é uma hora perigosa, Devoradora de Cora??es… Você pode arranjar todo tipo de problema.
Problema. Era exatamente o que ele era, conduzindo-a por c?modo após c?modo até virar em um corredor. Ele conhecia bem o caminho, e Isla quase se esqueceu de que ali tinha sido sua casa séculos atrás.
Grim desceu um lance de escadas, e Isla acompanhou seu ritmo. Andaram e andaram por aí. Descendo, descendo e descendo. Ela estava sorrindo. Por que estava sorrindo?, mesmo sem mal conseguir enxergar os degraus à sua frente. Nenhuma luz brilhava ali, o brilho do baile estava muito longe.
— Para onde estamos indo? — ela perguntou, e só recebeu um sorriso no escuro como resposta. Ela quase trope?ou na barra do vestido, mas ele a segurou com firmeza até o final da escada.
Deviam estar na base do castelo. No subsolo, talvez. Esferas de luz branca ocupavam os cantos da sala, flutuando como bal?es. As paredes eram arqueadas, sustentadas por colunas, e além delas havia uma água escura como um peda?o do céu noturno preso ali embaixo.
Aquilo brilhou, assustando-a, e Isla deu um passo para trás.
Direto para o peito dele. Ela se acalmou.
Grim colocou a m?o em sua cintura. Ela ajeitou os ombros, e o corpo dele, embora gelado, fazia calor emergir sob sua pele. Seus dedos trilharam um caminho até o quadril. O polegar circulou a pele delicada logo abaixo. Cada vez mais perto de lugares ainda mais sensíveis. Isla apertou os lábios.
De salto, era alta o suficiente para que, ao se inclinar para trás, sua cabe?a descansasse no ombro dele. Desse angulo, ela imaginou que ele poderia ver seu vestido de cima, apenas algumas folhas impedindo-a de estar completamente exposta. Ainda assim, sob aquele olhar penetrante, ela se sentiu nua. Era difícil respirar. Ele agarrou seu quadril com mais for?a, prendendo-a a seu corpo, enquanto a outra m?o percorria sua barriga. Seus dedos subiram pelas costelas, parando apenas quando alcan?aram a parte inferior de seu seio. Suas m?os ro?aram ali, e, subitamente, ela ansiava por mais, a pele formigando, o calor aumentando. Ela encontrou os olhos dele, que estavam sombreados com…
Ela n?o sabia o que era.
Desejo?
Tristeza?
— No que está pensando? — ela perguntou, virando-se para encará-lo.
Grim olhou para ela como se a conhecesse, como se a visse pelo que realmente era, e n?o o que fingia ser. Ela se sentiu nua diante dele, n?o apenas porque ele a tocara onde ninguém mais tocou, mas também por saber que ele sentia cada mudan?a em suas emo??es. Sentia o desejo pulsante de que ele a tocasse mais, que ele tirasse seu vestido e a tocasse em todos os lugares sem qualquer tecido no caminho.
— Estou pensando… — ele disse de um jeito sombrio. Pensando o quê? Ele estendeu a m?o para ela.
E piscou. Sua express?o mudou completamente.
A m?o que ele havia estendido para ela agora buscou algo em seu bolso.
— … que tenho algo para você. — Ele tirou um colar. Tinha uma corrente escura, segurando um diamante negro do tamanho de uma ameixa.
Isla franziu as sobrancelhas. Ele lhe estava dando uma joia? Ela n?o sabia o que dizer. Seu rosto ainda estava quente. O diamante era lindo, mas ela n?o queria uma joia, ela queria ele, seu corpo contra o dela. Imediatamente.
Grim sorriu, sentindo tudo. Parecia pronto para tomá-la em seus bra?os mais uma vez, mas pareceu pensar melhor, porque virou sua aten??o para o presente.
— Posso?
Ela assentiu, esperando que ele n?o confundisse sua decep??o com n?o ter gostado do presente. Isla levantou o cabelo, e ele prendeu o colar apertado em volta do pesco?o dela, seus dedos se demorando apenas um momento.
— Sei que você é mais do que capaz de se proteger — disse ele, a cabe?a baixa, a respira??o contra o ombro quase nu de Isla. — Mas se precisar de mim, toque nisso. E irei até você.
Ela olhou para ele novamente, dessa vez com maior apre?o.
Irei até você. Ele disse aquilo como uma promessa.
Ela precisava de toda prote??o possível. Algo assim seria útil, especialmente depois de ver a demonstra??o de poder de Grim. Especialmente agora que estavam a minutos da temporada de mortes.
Mas ainda assim…
— Grim. N?o posso… Eu n?o posso usar isso.
Seria uma declara??o. Oro já suspeitava de que ela e Grim estavam trabalhando juntos. O colar apenas confirmaria isso. Ela n?o podia fazer nada que comprometesse sua alian?a com Oro, n?o quando essa parecia ser a única chance de quebrar as maldi??es dela e de Celeste.
— Eu sei.
Dois de seus dedos pressionaram a corrente, o pesco?o de Isa, e o colar ficou invisível.
Ela olhou para ele. N?o sabia o que dizer, queria agradecer… mas as palavras se formaram e se desfizeram em sua garganta.
Grim estendeu a m?o para ela novamente, e todo seu controle foi embora. Ele passou os dedos por sua bochecha, pelo colar, as clavículas. Até o centro do peito de Isla.
— Devoradora de Cora??es — disse gentilmente. — Você n?o quer saber o que estou pensando.
O corpo dela ficou tenso em expectativa, como uma flecha prestes a cortar o ar. Ela queria a m?o dele mais para baixo, mais para o alto, em todos os lugares…
Mas, em vez disso, ele se afastou.
Ele n?o a tocou novamente durante a caminhada silenciosa de volta ao sal?o de baile. Ela queria dizer alguma coisa, fazer alguma coisa, dizer a ele…
Quando ela abriu a boca, ele já estava falando.
— Eu preciso ir — ele disse, olhando por cima do ombro dela. Estava olhando para alguém? Quase parecia nervoso. Cauteloso.
Por quê?
— Vai embora? — ela perguntou, franzindo a testa.
— N?o se preocupe, Devoradora de Cora??es — ele disse. — Estarei de volta antes da meia-noite.
Seu olhar foi até o canto da sala onde os Solares se reuniram, Oro no centro, como um sol ao redor do qual todos giravam.
— Enquanto isso… talvez você devesse dan?ar com o rei — ele disse.
Oro? Isla franziu a testa. Grim tinha acabado de passar as m?os pelo corpo dela. Ele a presenteou com um colar. Por que sugeriria que ela dan?asse com alguém? Especialmente seu inimigo.
N?o fazia sentido, mas, antes que ela pudesse perguntar qualquer coisa, ele partiu.
Isla se virou, de volta à festa, um pouco atordoada. Passou um dedo pela corrente de seu colar, invisível para todos os outros. Era como mais um segredo.