A raiva queimou em seu peito. Era este o acordo que ele tinha feito com a criatura antiga?
Oro suspirou.
— O que você quer em troca?
Nada! Ela queria gritar na cara dele, mas seu cora??o come?ou a bater mais rápido, fazendo uma pequena dan?a em seu peito. Esta era sua chance.
Este era o momento que ela estava esperando.
Ela estava t?o animada, t?o nervosa, que n?o se incomodou em disfar?ar seu pedido.
— Leve-me à biblioteca da Ilha do Sol — foi tudo o que ela disse. — Deixe que eu veja o que há lá dentro. Sozinha.
Oro franziu a testa.
— Por quê?
Isla se endireitou.
— Eu gosto de livros. Eu quero ver o que sua ilha tem a oferecer — ela disse casualmente. Ent?o, para desviar a aten??o do pedido aleatório, acrescentou: — Solares leem, n?o leem? Ou preferem passar o tempo franzindo a testa, de mau humor e queimando coisas como seu governante?
Isso deu resultado. Ele olhou para ela como se quisesse jogá-la do penhasco mais próximo, mas finalmente concordou: — Tudo bem.
Algo frio mergulhou em seu peito.
Ele a tinha esfaqueado. Esse foi seu primeiro pensamento enquanto sua mente se escurecia e ela se foi para muito, muito longe.
Ela estava suspensa, sem peso, um sussurro na noite. Livre e amarrada, solta e presa. Dan?ando. Caindo.
— Já está bom — disse o rei.
Ela engasgou.
Isla piscou. Oro piscou de volta, a um centímetro de distancia. Seu corpo estava pressionado firmemente junto ao dele, seus dedos entrela?ados em seus cabelos dourados, e os lábios dela quase nos dele. Ele n?o a estava segurando, mas ela estava agarrada a ele.
Ela se assustou e provavelmente teria caído para trás e quebrado a cabe?a na pedra se ele n?o a tivesse segurado.
Um verdadeiro Selvagem n?o ficaria t?o perturbado com a proximidade do rei, mas Isla n?o tinha uma longa lista de conquistas como as orgulhosas sedutoras de seu reino.
Isla virou-se para encarar o espectro, que flutuava nas proximidades, radiante.
— Você tem sorte de já estar morta — ela cuspiu.
Suas bochechas queimaram e ela se recusou a olhar para Oro novamente, que disse com quase tanto veneno: — Você teve o que queria. Agora conte o que você sabe.
O espectro suspirou. Ela se sentou em uma cadeira invisível.
— O que você procura n?o está na Ilha da Estrela. N?o desta vez.
Desta vez? Antes que Oro pudesse ir embora, ela disse: — Um aviso, rei. O submundo da ilha está subindo. A escurid?o está em a??o… Nós estamos sentindo.
— Sentindo o quê? — perguntou Isla.
— O terror.
Com um último sorriso para o rei, o espectro desapareceu pela parede. Isla queria se virar para Oro, gritar algo para ele, mas ela sabia que isso o deixaria ainda mais desconfiado.
Além disso, ela finalmente conseguiu o que queria.
Embora… parecesse bom demais para ser verdade. Ela precisava fazer Oro cumprir sua palavra esta noite, para que ele n?o voltasse atrás com o acordo. Ainda era cedo. Eles poderiam ir agora mesmo.
— ótimo. Isso foi traumatizante — disse ela. Seus ombros estremeceram com um calafrio quando pensou naquele ser antigo vestindo sua pele. Mesmo que fosse apenas por um momento. Ficar perto o suficiente para sentir a respira??o do rei miserável contra sua boca. — Agora você sabe que o cora??o n?o está na Ilha da Estrela. Gra?as a mim. Admito, é uma informa??o valiosa. Vai nos economizar uma boa quantidade de lugares. — Ela o olhou bem nos olhos. — Agora, leve-me para a biblioteca.
Oro se virou e caminhou de volta pela floresta Estelar em silêncio.
Ele realmente iria levá-la. Ela n?o acreditava.
A Ilha do Sol tinha a única biblioteca que elas ainda n?o haviam pesquisado. O desvinculador tinha que estar lá dentro. Ela poderia encontrá-lo e quebrar as maldi??es naquela mesma noite.
Celeste ficaria emocionada. Ela mal podia esperar para dizer a ela…
Na ponte, o rei fez uma curva estranha.
Ela parou.
— Sua ilha n?o é para lá?
Ele apenas continuou como se n?o tivesse ouvido.
— Você fez uma promessa, rei — ela gritou às suas costas.
— Vou levá-la para a biblioteca da Ilha do Sol — disse ele por cima do ombro. — Mas n?o me lembro de ter especificado quando. — Seu olhar se estreitou. — Talvez quando me ajudar a encontrar o cora??o, como prometido no nosso acordo inicial.
Seus dedos se contraíram, co?ando, implorando para sufocá-lo. Ela sacudiu a cabe?a, t?o zangada que sentiu o formigamento de lágrimas nos cantos dos olhos. Ela estava t?o perto. Ele havia prometido. Ela n?o tinha feito o suficiente?
— Volte — disse ela. Ele n?o voltou. Oro a ignorou, uma especialidade dele.
Seu corpo estava quebrado e cansado, e aquilo tinha sido tudo que ela pedira em troca.
Desta vez, a voz de Isla tremeu de raiva.
— Você… você é um egocêntrico, miserável sem cora??o.
Isso fez Oro se virar. Ele deu alguns passos para trás em dire??o a ela e sorriu maldosamente.
— é esse o seu plano, Selvagem? Tentar ganhar meu cora??o me atormentando? — Seus olhos arregalados procuraram os dela, esperando.
Ele estava falando sério.
Isla sentiu a pontada das lágrimas, mas riu. Sem f?lego, enfurecida, ela riu e riu. Ela deu um passo à frente e disse lentamente, para que ele pudesse ouvir cada sílaba: — Eu n?o tenho absolutamente nenhum interesse em você, rei.
Ela esperou que ele a chamasse de mentirosa. Falasse que ela era igual às incontáveis Selvagens que, sem dúvida, também foram instruídas para seduzir o rei como parte de sua estratégia.
Em vez disso, Oro pareceu surpreso. Chocado. Era realmente t?o surpreendente que uma Selvagem n?o estivesse tentando fazê-lo se apaixonar para que pudesse roubar suas habilidades e trazer o poder de volta ao seu reino?
Ele conseguia sentir, por conta da raiva, que ela estava dizendo a verdade?
— Ent?o, no que você está interessada, Selvagem? — ele perguntou. — Por que quer ter acesso à minha biblioteca? O que está procurando?
Ela ficou muito quieta. N?o disse nada.
Ele deu um passo mais perto.
— Eu tenho observado você. é uma camaleoa, tornando-se tudo o que todos querem que seja, o tempo todo. Exceto ao meu redor. Você parece n?o dar a mínima para o que penso de você. — Seu olhar era fogo. — As terras que me foram confiadas est?o morrendo. Eu estou morrendo. Farei tudo o que for preciso para quebrar essas maldi??es. Você, ou o que quer que esteja planejando, n?o vai me impedir. — Ele olhou para baixo, para ela t?o perto, e era como se estivesse tentando ver através dela. — Ent?o vou perguntar de novo. O que você quer, Selvagem?
O rei estava desconfiado. E era sagaz. Ele sabia que ela estava procurando alguma coisa.
Ela estragara tudo.
Mágoa e um milh?o de outras emo??es se acumularam em seu est?mago. Sua voz nunca tinha sido t?o fria.
— Você vai me levar para a biblioteca. Agora.
A express?o de Oro n?o mudou.