Ent?o ela aceitou a explica??o e o seguiu até o próximo local de busca.
A Ilha da Estrela era prateada. O ch?o brilhava com poeira cósmica. As árvores eram magras e tortas, transformando-se em espirais, minúsculas folhas brilhantes crescendo até mesmo dos troncos. O castelo era uma monstruosidade com arcos intermináveis, joias brilhantes enfiadas na própria pedra, como se estrelas tivessem sido roubadas e usadas para fortificar o palácio, presas na pedra até que pudessem voar para casa. Celeste uma vez disse que, para os Estelares, as estrelas pareciam mais brilhantes do que para todos os outros, como milh?es de luas, ou frutos brilhantes prontos para a colheita. Só eles podiam ver qu?o forte elas realmente brilhavam.
Os Estelares manipulavam a energia das estrelas, concentravam um poder t?o luminoso e brilhante que outrora eram capazes de fazer edifícios tombarem, empurrar corpos sem tocá-los e estilha?ar todas as janelas de um palácio. Agora, com a maldi??o, os mestres Estelares já nem existiam.
A ilha estava brilhando, linda, mas em ruínas. Ao contrário da Ilha do Céu, administrada por seu povo e seus representantes, ou a Ilha da Lua, administrada pela rígida Cleo e seus nobres severos, essas terras estavam descuidadas. Cobertas de vegeta??o. Era uma surpresa o castelo ainda estar de pé. Todas as outras estruturas pareciam instáveis ou já estavam parcialmente destruídas.
Ela sup?s que era isso o que acontecia quando um reino inteiro morria antes dos vinte e cinco anos. Seu governo era quase inexistente, dirigido por nobres que eram praticamente crian?as quando morriam.
Uma pena, pensou Isla, enquanto caminhava pela Ilha da Estrela. Algo sobre o reino a deslumbrava, cada coisa viva revestida por uma luz brilhante, como se alguém tivesse mergulhado a m?o dentro de uma estrela e manchado toda a terra com seu brilho prateado.
Um pássaro que parecia feito de metal brilhante estava sentado em uma árvore próxima, sob um cacho de nozes prateadas. Uma cobra metálica rastejou ao longo de um galho, suas escamas como cota de malha. Eles caminharam por minutos pela floresta estranhamente colorida antes de encontrar um riacho, a água prateada sob o luar.
A pele de Isla ficou arrepiada, n?o apenas por causa do frio, mas pelo nervosismo. Eles estavam prestes a conhecer uma das criaturas antigas. Aquelas sobre as quais Oro a tinha lhe alertado.
— Fa?a o que eu digo — ele havia falado. — Eles s?o trapaceiros. Alguns mais violentos do que outros. Alguns v?o comê-la no jantar e palitar os dentes com seus ossos. Outros s?o mais intrigantes do que assassinos. Eles s?o t?o antigos quanto a própria ilha.
O rei havia prometido que aquela noite n?o tentaria matá-la. Ele tinha se certificado disso durante seu último encontro com ela, na noite anterior, mas Isla ainda estava apreensiva. Tinha que haver uma raz?o para esse n?o ter sido o primeiro plano de Oro.
As árvores acabaram de repente, revelando uma constru??o antiga, cheia de arcos e colunas. As janelas haviam sido arrancadas fazia muito tempo; partes das escadas tinham caído. Raízes e vinhas prateadas adentravam a constru??o, enrolando-se ao redor dos pilares, dentro e fora da entrada, em torno da base, depois de volta para a floresta, como se estivessem tentando desesperadamente impedir que tudo fosse embora.
Oro subiu as escadas de dois em dois degraus, tomando cuidado para evitar os que havia muito tinham virado pó. Isla o seguiu e, uma vez lá dentro, viu o quanto a floresta tinha tomado conta. O teto era alto e abobadado, quebrado em cacos e coberto de folhas. árvores cresceram nas laterais das colunas interiores e espinheiros cobriam as paredes. Plantas menores brotavam entre as pedras do ch?o, algumas ostentando flores, outras brotando frutos prateados que pareciam sinos, espinhos grossos entre eles. Eram muito menores do que os que a perfuraram, mas até mesmo olhar para eles fez seu est?mago revirar.
Oro pegou um daqueles espinhos e espetou a palma da m?o com ele. A gota de sangue que se formou pingou no ch?o.
E uma mulher saiu da parede. Ela usava um vestido simples que flutuava ao seu redor, assim como seu cabelo, ambos suspensos como se ela estivesse embaixo d’água. Seu corpo era prateado e levemente transparente.
Um espectro.
Esta era a criatura antiga? Um fantasma?
— Meu rei… Você voltou para mim — ela disse, sua voz como um sino dos ventos.
A temperatura caiu de repente. Quando Isla expirou pela boca, espantada, uma nuvem soprou de seus lábios.
O espectro virou-se bruscamente para encará-la. Seu sorriso aumentou.
— E você me trouxe um presente.
— N?o é um presente — Oro disse. — Mas, sim, o que você pediu.
Isla deu um passo para trás.
— Pediu? — ela disse, trope?ando em uma videira. Ela mal conseguiu se segurar antes de cair.
Era esse o novo plano dele? Iria trocá-la pelo cora??o?
O espectro se aproximou rapidamente, o cabelo movendo-se como um chicote atrás da cabe?a.
— Ah, sim… exatamente como solicitei. Como você foi capaz de encontrá-la em t?o pouco tempo? Nunca vi um rosto assim. — Ela franziu a testa. — As roupas n?o a fazem jus, mas vejo a sugest?o de uma boa aparência…
Isla puxou sua nova adaga da cintura e a empunhou.
— N?o dê mais um… — ela disse, olhando para baixo e sem ver pés.
A cabe?a do espectro caiu para trás em um angulo horrível enquanto ela ria.
— Esse metal nem me tocaria, garota. — Ela estreitou os olhos leitosos para Isla e disse: — Agora dê um nó nessa camisa. Quero examinar o corpo que vou vestir.
— Vestir? — Isla virou-se para Oro, que parecia contente em assistir.
Ele suspirou.
— é só por alguns segundos.
O espectro fez beicinho.
— Eu esperava que tivesse mudado de ideia sobre isso.
Isla estava prestes a enfiar a lamina em Oro.
— Você tem um segundo para explicar antes que eu saia correndo deste lugar gritando e nunca mais fale com você — ela disse por entre os dentes. Ele, de forma conveniente, n?o tinha mencionado nada disso no caminho.
Sua express?o estava entediada.
— O pre?o do espectro por nos ajudar é possuir um corpo por alguns momentos.
Sua m?o apertou o cabo da faca.
— Por que n?o o seu?
— Eu ofereci, mas ela pediu… algo específico.
O espectro estava subitamente ao seu lado.
— A garota mais bonita da ilha, foi o que eu pedi. — Ela estendeu um dedo prateado, querendo tocar a bochecha de Isla. — E você é perfeita.
— Sem chance — disse Isla, dando um passo para trás. — Como vou saber que ela n?o vai querer ficar? Que você n?o está apaixonado por ela e só quer um corpo para ela habitar por toda a eternidade?
Oro a encarou na mesma hora em que o espectro se virou para olhá-lo de uma maneira que dizia a Isla que era exatamente o que ela estava esperando.
— E ent?o? — Isla perguntou.
— Você confia em mim?
— N?o! Você nem me contou sobre isso até invocá-la!
Mas isso n?o era totalmente verdade. Ela confiava nele, pelo menos um pouco, depois de tudo que já haviam passado.