Nobres de Lightlark e, no caso dos Etéreos, representantes aguardavam abaixo. Muitos encararam seu vestido. Alguns sussurravam e sorriam uns para os outros atrás de hélices ornamentadas, como se fofocando sobre seu assassinato iminente. Moedas tilintavam enquanto eram trocadas entre as m?os. Eram apostas sobre a morte dos governantes?
Alguns Lunares a olhavam com evidente malícia. Quem sabe os nobres que ela e Celeste mataram eram seus amigos. Ou família.
Isla os encarou e torceu para que a temessem.
Assim que seu calcanhar atingiu o piso de mármore, um único homem corajoso separou-se da multid?o. Um Estelar de terno prateado. Outros nobres ficaram boquiabertos com sua tolice. Ele abaixou a cabe?a e ofereceu a m?o.
— Posso ter a honra? — ele perguntou.
Normalmente, Isla recusaria. Já se sentia no limite e fora dos eixos, a neve e a luz das estrelas que se espalhava, e chamas brilhantes em cada canto de sua vis?o.
Mas era importante que ela n?o parecesse afetada pela perspectiva de a primeira regra expirar à meia-noite. O medo só faria dela um alvo mais fácil.
Isla pegou a m?o do Estelar, e ele a levou imediatamente para o centro do sal?o de baile. Poppy havia ensinado a ela todas as dan?as tradicionais. Ela seguia os passos sem esfor?o, t?o facilmente quanto girava suas facas nas m?os, e o Estelar continuou, girando-a perfeitamente, mantendo a m?o firme na parte inferior de suas costas e os pés longe dos dela.
A música mudou, e ela se viu com outro parceiro de dan?a. Depois outro. Outro. Celeste estava perto, dan?ando com tantas pessoas quanto ela, tendo mais sucesso em fingir que estava se divertindo.
Cleo estava sentada em um dos cantos da sala, cercada por nobres Lunares.
Observando-a.
Esperando?
Azul estava ao lado de uma longa mesa de comida com uma ta?a na m?o. Usava uma capa feita inteiramente de joias Etéreas, cada dedo brilhando com pedras preciosas. Do outro lado da sala, ele balan?ou a cabe?a demonstrando ter gostado dos grandes brincos de diamante em forma de lágrima que ela usava, caindo dos dois lados do pesco?o.
Ela sorriu de volta, educadamente.
Alguns nobres observaram a troca de olhares, talvez suspeitando de uma alian?a.
ótimo. Que eles suspeitem de qualquer coisa, menos da verdade.
Ela se lembrou da conversa que ouvira entre ele e Oro. Será que ele realmente n?o estava falando de seu reino?
Se era verdade, ele estava falando sobre acabar com qual reino?
Ninguém estava mais ocupado do que Oro, que permaneceu em seu trono. Sua roupa era dourada, como sempre, as mangas cobrindo cada centímetro do cinza-azulado que, ela agora sabia, aumentava cada vez mais em seu bra?o. Dezenas de nobres o cercavam, fazendo perguntas que ele respondia pregui?osamente entre os goles de bebida, mas seus olhos estavam alertas. Um grupo de mulheres parecia determinado a chegar um pouco mais perto dele, sem medo de empurrarem discretamente umas às outras para fora do círculo. Isla revirou os olhos. Justo quando ela estava prestes a desviar o olhar, ele encontrou seus olhos. E balan?ou a cabe?a em sua dire??o antes de tomar outro gole de vinho.
Ela olhou em volta procurando pelo último líder… mas n?o o viu em lugar nenhum. Depois de mais uma dan?a, ela pediu licen?a, sua cabe?a girava e a garganta estava seca de tanta conversa-fiada. Ela cambaleou para o corredor, para o c?modo mais próximo, e fechou as portas com firmeza atrás dela.
N?o era um c?modo comum. Pelo menos, n?o um com quatro paredes. Seus passos ecoaram contra o ch?o de pedra até chegar a uma varanda interna. Havia mais dela em outros andares, acima e abaixo, como camadas de um bolo feito de mármore. Ela fechou os olhos e seus dedos agarraram o corrim?o t?o forte quanto ela segurava sua varinha estelar para transportá-la a outro lugar.
Isla odiava o sorriso falso que havia estampado seu rosto durante toda a noite. Ela odiava os nobres que observavam cada movimento seu. Odiava o quanto olhava o relógio, cada badalada anunciando as horas fazia seu est?mago afundar de pavor. Ela…
— Procurando por mim, Devoradora de Cora??es?
Isla se virou rapidamente, e Grim estava lá, assomando-se sobre ela. Usava uma vers?o muito mais bonita de sua roupa usual, um terno preto com capa brilhante.
Ele observou cada centímetro dela e sorriu.
— Agora você está satisfatoriamente aterrorizante, n?o é?
Faíscas giraram dentro dela, e o sorriso dele se alargou ao perceber… como ele a fazia se sentir.
Isla nem se deu ao trabalho de tentar esconder. N?o essa noite. N?o com tudo que estava em sua mente. Grim era a menor de suas preocupa??es.
— N?o tinha te visto — disse ela.
Ele encolheu os ombros.
— às vezes, a única maneira de evitar que as pessoas te incomodem é n?o se permitir ser visto.
Isla desejou ter esse poder uma hora atrás.
— Ent?o por que se incomodar em ficar visível novamente? — ela perguntou, sua voz quase um sussurro.
Grim deu um passo na dire??o dela. Segurou a m?o de Isla com uma decis?o t?o descarada que ela quase a puxou de volta.
— Para dan?ar com você, é claro.
Antes que pudesse dizer uma palavra, ela estava girando, a barra do vestido tocando o ch?o de mármore, folhas farfalhando. A m?o dele, fria como a noite, estava em sua lombar, a outra completamente envolta na dela.
Seu sorriso era diabólico, e ela engoliu em seco, sabendo exatamente o que ele estava percebendo quando a m?o dela agarrou um de seus ombros largos, enquanto ela olhava nos olhos que poderiam muito bem ser duas po?as de tinta, o espa?o entre estrelas.
Isso o assustou? Todos nos seis reinos viviam com medo de um Selvagem se apaixonar por eles. Era uma senten?a de morte.
E ela n?o estava apaixonada por ele… ela mal o conhecia.
Mas ele n?o deveria ter medo do que ela estava sentindo agora?
Ela se aproximou ainda mais, ficando totalmente contra ele, observando sua rea??o, surpreendendo-se com a própria ousadia. E Grim apenas riu de um jeito sombrio. A m?o dele percorreu um caminho lento por sua coluna, depois subiu mais uma vez.
— Devoradora de Cora??es — ele disse em seu ouvido. — Você está me matando.
Isla perdeu o f?lego. A respira??o dele estava contra sua bochecha. Ele cheirava a pedra, tempestades e algo condimentado, como canela.
Ela mordeu o lábio, e ele observou o movimento, engolindo em seco.
Ent?o ele se foi.
N?o, n?o se foi. Ficou invisível.
E ela também.
Um grupo de nobres entrou um momento depois. Suas vozes eram agudas, se divertindo ao espalhar fofocas, embora Isla n?o prestasse aten??o às palavras. A sombra de Grim estava ao lado dela, visível… mas n?o exatamente lá. Seu próprio corpo também estava assim.
A vis?o dos nobres lhe causou repulsa. Apostando em vidas. Olhando para Isla como se ela merecesse morrer, simplesmente por ter nascido.
De repente, ela ansiava por uma distra??o. O baile logo ficaria sangrento. Ou ela iria ficar e lutar, ou fugiria para um local mais seguro. Ainda n?o tinha certeza. O que tinha certeza era que esses poderiam ser os últimos minutos em que ela n?o precisaria estar atenta, a última hora que poderia aproveitar.
— Vamos — ela sussurrou. Ambos estavam encostados na varanda, de frente para o grupo.
Grim ergueu uma sobrancelha para ela.
— Deixar o baile?