Lightlark (Lightlark, #1)

Grim a olhou, e ela prendeu a respira??o. Se perguntava se ele sabia o quanto havia pensado nele nas últimas semanas, se sabia que, por mais forte que seu cora??o batesse, por mais vezes que suas palavras tivessem ecoado na mente dela, Grim tinha raz?o: ela n?o podia confiar nele.

Assim como ele n?o podia confiar nela.

— Claro, Devoradora de Cora??es.

Isla n?o disse uma palavra enquanto Grim a conduzia para a floresta do Continente, sob a sombra do castelo. N?o era longe das árvores-de-caix?o, mas na dire??o oposta. O caminho era tomado pela mata. A trilha de pedras havia muito fora coberta por ervas daninhas, plantas indomáveis que a cobriram completamente. Isla estremeceu enquanto observava a floresta, preparando-se para outro ataque. Suas costas formigaram, como se lembrassem, mas a floresta n?o se atreveu a atacá-la na presen?a de Grim. Eles pisaram em trepadeiras grossas como galhos e passaram sob teias de aranha do tamanho de guarda-chuvas. Logo, as árvores perderam suas folhas e os galhos nus afiados mais pareciam espadas. Pedras que antes talvez margeassem o leito de um rio, mas agora marcavam grama. Ela n?o conseguia enxergar o final da floresta até estar fora dela.

A luz do sol a cegou por um momento, e ela parou.

Havia uma ponte. Estava quebrada em muitos lugares. As laterais eram feitas de videiras tran?adas.

A ilha do outro lado n?o dava nenhuma indica??o de vida, mas algo a atraiu. Isla pisou na ponte primeiro, sem hesita??o, e, quando se deu conta, já estava do outro lado.

O rei estava certo. N?o havia mais vida ali.

A Ilha Selvagem havia sido reduzida a uma floresta oca. As árvores estavam nuas e retorcidas, como esqueletos balan?ando ao vento. As videiras e raízes ao longo do ch?o estavam secas e quebradi?as sob seus pés. O solo era um emaranhado de galhos quebrados, que lembravam cobras prestes a atacar. Nada de animais. Nada verde. Nada.

No centro da morte havia uma estrutura.

Grim estava ao seu lado.

— Eles chamam de Palácio de Espelhos.

Cada centímetro do palácio estava coberto de vidros que refletiam a floresta, espelhando seus arredores. Suas bordas piscaram sob a luz do sol.

O Palácio de Espelhos parecia frágil, como se um vento forte pudesse quebrá-lo, mas ele tinha sobrevivido quando todo o resto na Ilha Selvagem n?o tinha. Possuía a mesma forma das tendas de festivais que ela havia visto nos arredores das novas terras Etéreas com sua varinha estelar: bulboso, como se tivesse sido enchido de ar, e com três pontas.

De alguma forma, embora o exterior fosse espelhado, o interior era claro. Ela entrou e viu a floresta arrasada através de infinitas janelas, cortadas em um milh?o de formas. O teto era curvo.

Estava quase vazio. Restaram apenas algumas estátuas, juntamente com folhas que tinham sido varridas para dentro. Isla entrou mais fundo no Palácio de Espelhos para descobrir que o resto do grande palácio n?o era feito de vidro. As paredes tornaram-se pedra e abriram-se para o que deve ter sido os jardins internos, onde o teto acabava. Videiras mortas cresceram em colunas. Uma pequena fonte agora continha água escura. Ela continuou andando, para dentro de quartos e corredores abandonados e invadidos pela floresta morta, até que alcan?ou a parede dos fundos, que era mais resistente que o resto, esculpida na base de uma montanha.

Estava coberta de marcas, a mais proeminente era um grande redemoinho. O resto retratava a batalha: homens e mulheres vestidos com armaduras, segurando espadas e escudos. Alguns montavam bestas gigantes que ela n?o reconhecia. Ela tra?ou os desenhos com os dedos.

— é tudo o que você esperava que fosse? — Grim perguntou.

Ela se virou.

— é muito mais.

— Mesmo que esteja quase vazio?

Isla n?o tinha conseguido explorar todo o palácio, mas imaginou que tudo estaria vazio, da mesma forma que os outros c?modos estavam.

— O fato de ainda estar aqui… — Ela pressionou a palma da m?o contra o muro. — Me dá esperan?a. Que os Selvagens podem sobreviver a tudo isso.

Grim estava em outro lugar, ela podia ver em seus olhos. Ela imaginou no que ele estava pensando. Cada movimento que ele fazia era confuso.

— Como s?o as terras Umbras? — ela perguntou, sem realmente saber por quê.

Mesmo com sua varinha estelar, ela n?o se atreveu a viajar para o território deles. Os avisos de Terra a mantiveram longe.

Grim a olhou por um longo tempo.

— Um dia — ele disse —, eu vou te mostrar.

Isla esperou pelo manto da escurid?o antes de sair do castelo. Oro ainda n?o tinha voltado à sua porta. A noite era dela, e ela faria bom uso.

Ela desejou o poder de Grim de ver facilmente no escuro enquanto percorria o Continente, a lua seu único guia. No caminho deles de volta, ela fez quest?o de observar a rota para a Ilha Selvagem atentamente, mas tocada pela noite tudo parecia diferente.

O caminho continuava muito além quando deveria ter desaparecido, encoberto pela natureza. Ela deve ter feito uma curva errada ou ent?o n?o a viu. Logo, estava de volta ao castelo do Continente.

Isla xingou e tentou novamente. Esfor?ou-se para se lembrar da curva de árvores, ou o número de passos que havia contado horas antes enquanto dava seu melhor para esconder seus sentimentos perto de Grim. Ele n?o podia saber que o tempo todo em que respondia suas perguntas, ela estava pensando sobre o que tinha visto no Palácio de Espelhos, e quando ela conseguiria retornar. Sozinha.

Ela apertou os olhos na escurid?o, ent?o se inclinou para que seus dedos pudessem trilhar o caminho, esperando as flores silvestres come?arem a cobrir a pedra, marcando o lugar que ela precisava seguir. Se tivesse os poderes de um Selvagem, ela poderia simplesmente chamar a floresta e ouvir sua resposta. Seguir sua música até o palácio.

Mas ela n?o tinha. Ent?o, continuou trope?ando cegamente pela noite.

Finalmente, a grama ro?ou seus dedos, uma segunda trilha continuando desde a primeira. Ela a seguiu até a floresta e hesitou. A lua estava trancada fora da floresta, bloqueada quase completamente pelas árvores. Ela teria que tatear o caminho até lá. E torcer que a floresta estivesse satisfeita com a quantidade de sangue que ela já havia derramado.

Isla abaixou a cabe?a, imaginando se deveria voltar pela manh?. Se perguntava mesmo enquanto continuava pela floresta, espinhos arranhando seus tornozelos. Mesmo quando trope?ou em uma videira e caiu de quatro.

N?o, ninguém poderia saber sobre sua jornada da meia-noite para o palácio Selvagem.

Nem mesmo Grim.

No momento em que trope?ou na Ilha Selvagem, seu cabelo estava embara?ado fora da tran?a, e ela sentiu a dor aguda dos cortes em suas palmas, mas até isso se acalmou quando olhou para o prédio à sua frente.

à noite, o Palácio de Espelhos refletia apenas a escurid?o. Suas roupas marrom-claras cortaram-no como uma lamina. Ela se via surgir das sombras da mata como um espectro.

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