Lightlark (Lightlark, #1)

— é porque escolher o governante e o reino certos para morrer é a parte difícil. N?o apenas porque estaríamos sentenciando milhares à morte, mas porque o futuro de todos nós depende de tomar a decis?o certa. — A voz dele ficou mais alta. Ela nunca tinha visto o rei t?o exaltado. Ou bravo. — Todos os nossos reinos s?o conectados. Você n?o entenderia as consequências de perder um deles. Mesmo se soubéssemos com certeza que esse crime precisa ser cometido novamente, decidir quem precisa morrer seria quase impossível. é por isso, mais do que qualquer outra coisa, que as maldi??es n?o foram quebradas até agora.

Isla n?o sabia por que falou as próximas palavras, mas ela precisava de clareza. Respostas.

— Ent?o por que n?o matar Grim? — ela se perguntou, mesmo que o pensamento fizesse suas entranhas se contorcerem com uma dor surpreendente. Mesmo que ele parecesse ter se esquecido dela. — Ele n?o faz parte de Lightlark. N?o é a escolha óbvia?

O sorriso do rei foi zombeteiro. Cruel.

— N?o posso — respondeu. Talvez por estar com tanta raiva, ansioso para jogar na cara dela sua parca compreens?o, ele acabou dizendo mais do que Isla esperava. — Grim é a única coisa entre nós e um perigo maior, algo que você nem pode imaginar.

Um perigo maior? O que poderia ser mais perigoso do que o Umbra? Ou as maldi??es? Ou o Centenário?

Oro a encarou como se ela fosse uma tola, uma governante ingênua. E agora realmente parecia que Isla n?o sabia de nada. Terra e Poppy sempre trataram o Centenário como um jogo de sobrevivência, em que o mais fraco seria assassinado se os outros tivessem a chance. Se o rei estava dizendo a verdade, os cem dias tinham mais a ver com fazer a escolha certa, e n?o a mais conveniente. Antes que ela pudesse fazer outra pergunta, ele já tinha seguido em frente.

O rei estava do outro lado da floresta agora. Ela podia ouvi-lo a cada poucos minutos, cortando a casca das árvores com seus poderes, apenas o suficiente para olhar dentro do tronco. Ele n?o se distraía, n?o importava quantas horas passassem executando a mesma tarefa.

Isla n?o podia dizer o mesmo. N?o quando tinha tantas perguntas na cabe?a.

Ela tinha terminado sua se??o por aquela noite. Nada de cora??es. Apenas um ou outro animal aninhado dentro do tronco que a espiava com um olhar curioso.

Celeste tinha feito uma visita naquela manh?, querendo uma atualiza??o.

Estou tentando, Isla dissera. Simplesmente nunca parecia o momento certo de perguntar ao rei sobre a biblioteca. Se fizesse muito cedo, ou de repente, ele suspeitaria.

Agora, ela se perguntava se tinha desperdi?ado todas as chances de convencê-lo a levá-la à biblioteca da Ilha do Sol com a última conversa. O rei parecia furioso.

Era perigoso, idiota, mas ela se embrenhou mais na floresta, a m?o tocando as árvores-de-caix?o até acabarem. A natureza mudou, tornando-se mais selvagem. Flores desabrocharam, vermelhas como os vestidos que ela usava com mais frequência.

Roseiras. Pétalas bulbosas protegidas por arcos de espinhos.

A última anci? Selvagem, aquela que ela havia encontrado na floresta, a chamou assim uma vez.

Você é uma rosa com espinhos, disse. Uma coisa bonita e capaz de se proteger.

Se ao menos ela conseguisse.

Suas laminas deviam ter sido suficientes. Ela era uma grande guerreira. Mas contra o poder o metal era como papel.

As roseiras ficaram mais grossas, transformando-se em outra coisa, uma planta com espinhos longos e grossos como dedos, espalhando-se por toda parte. Parecia uma arma. Isla n?o sabia o motivo, mas seguiu a flora??o pela floresta, vendo o arbusto ficar maior, mais alto.

Até chegar a um muro inteiro de pontas e espinhos.

Seu cora??o acelerou.

Espinhos se formavam nas plantas para protegê-las. Eram mecanismos de defesa, assim como as laminas e estrelas de arremesso de Isla.

Aquele muro inteiro de espinhos devia estar protegendo alguma coisa.

Talvez o cora??o de Lightlark.

Isla virou-se para gritar por Oro, triunfante.

E foi atacada.

O emaranhado de espinhos ganhou vida, envolvendo-a em seu abra?o.

E puxando-a direto para seu ninho afiado.

O grito foi algo gutural. Dezenas de farpas furaram suas costas ao mesmo tempo, como laminas. Espinhos se cravaram em seus bra?os.

Isla tinha uma boa resistência à dor, mas aquilo n?o tinha sido ensaiado. Tinha sido uma surpresa.

Ela tentou se afastar da parede à for?a, mas estava presa, os espinhos atravessando em sua pele como ganchos. Segurando-a. Cada impulso fazia com que penetrassem mais sua pele. O sangue corria, quente, pelas costas; lágrimas escorriam pelo rosto. Um som engasgado escapou de seus lábios.

Ent?o, m?os quentes a seguraram.

— Pare de se mexer. Está piorando as coisas! — gritou uma voz.

Ela queria cuspir em seus pés por brigar com ela em um momento assim. Queria avisá-lo para se afastar da planta maligna. Mas mal conseguia enxergar. A dor tinha tomado todos os seus sentidos.

O rei xingou, e ela imaginou que estava inspecionando suas costas.

— Vou ter que quebrar os espinhos para te soltar.

Isla assentiu e, logo depois, gritou a plenos pulm?es enquanto Oro, com sua energia Estelar, partia em dois o primeiro espinho. N?o importava o quanto seu poder era certeiro e suave, ela sentia o peso nas costas, torcendo-se mais perto de seus ossos. A planta n?o gostou do manuseio de Oro. Enfiou outras farpas mais fundo em Isla. No entanto, n?o atacou o rei. Era como se tivesse apetite apenas por ela.

— S?o... muitas.

Ela n?o suportaria outra. A primeira...

Gritou novamente. Viu flashes atrás de seus olhos, a dor t?o profunda que ela jurava que tinha cor própria.

De novo.

De novo.

De novo.

Isla n?o conseguia se controlar. Na próxima vez que ele quebrou um dos espinhos, e a planta retaliou indo mais fundo, ela vomitou nas próprias roupas.

Se o sujou, o rei n?o disse uma palavra. Apenas a segurou firme enquanto quebrava os espinhos.

De novo. De novo. De novo.

Isla insistiu em retirá-los.

Estava no ch?o agora, longe do muro, Oro ajoelhado à sua frente. O resto da floresta estava em silêncio. Observando-a.

— Como isso aconteceu? — ele perguntou.

Certo. Claro que ele estava confuso. Plantas n?o se atreveriam a atacar seus governantes. Mesmo se estivesse mantendo suas habilidades camufladas.

— Eu... tropecei — respondeu, estremecendo. Ele continuou observando-a, e Isla estreitou os olhos para ele. — Vá, procure o que quer que a parede esteja guardando. — Ela cuspiu. — Estou bem. Posso tirá-los sozinha.

Mesmo ferida, mesmo encharcada de sangue, o rei tinha a coragem de encará-la.

— Você está coberta em seu próprio v?mito — disse ele categoricamente. Tentou ajudá-la, mas ela recuou, ent?o gemeu.

— Eu disse que vou fazer isso sozinha — rosnou.

Oro mostrou os dentes para ela.

— Você é mesmo t?o teimosa assim?

— Você é mesmo t?o arrogante assim? — ela perguntou. — Eu disse n?o. Agora vá.

O rei ficou parado por um momento.

Ent?o se levantou e voltou pelo matagal, xingando baixo.

ótimo.

Quando ele já estava longe o suficiente, Isla se encurvou e agarrou o ch?o com todas as for?as, os bra?os tremendo por um solu?o. A dor...

Era diferente de tudo que tinha experimentado. Plantas malignas e miseráveis.

E n?o havia acabado.

Estremecendo, Isla levou a m?o às costas e procurou o primeiro espinho. Agarrou-o com dedos trêmulos.

E puxou com toda a for?a.

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