Lightlark (Lightlark, #1)

Ela culpou a exaust?o pelos sonhos. Seus padr?es de sono tinham mudado, e seu corpo ainda n?o havia se acostumado a isso. Ainda assim...

Isla n?o via Grim fazia uma semana. N?o desde a cerim?nia de pareamento.

Uma semana.

Antes, ele a procurava sempre que podia. Será que ele havia conseguido o que precisava e seguido para o próximo passo de seu plano?

Seu peito ficou muito apertado ao pensar nisso, mas ela se sentou e se esfor?ou ao máximo para ignorar o sentimento. Seria uma tola se perdesse mais um instante pensando nele.

Isla deveria estar concentrada em seu próprio plano. Naquela noite, ela e Oro iriam para o segundo local. Seria melhor tentar dormir mais um pouco... mas a ideia de sonhar com Grim de novo, e, pior, gostar do sonho, a fez pular da cama em dire??o à varanda. Pela posi??o do sol, adivinhou que ainda era cedo.

Trocou de roupa, decidindo procurar por Ella em um dos primeiros andares do castelo. Ela se lembrou da receita de um elixir Selvagem para o sono. Só precisava de alguns ingredientes.

Sim, ela disse a si mesma enquanto percorria o palácio, era disso que ela precisava. Uma xícara de chá, e ela dormiria profundamente o dia todo, sem nenhum Umbra assombrando seus sonhos. Sem acordar a cada poucas horas agarrada ao cobertor, coberta de suor.

Estava prestes a fazer uma curva quando ouviu vozes aos sussurros.

Passar pelos velhos corredores abandonados já havia se tornado um hábito. Isso garantia que ela raramente encontrasse criados e nunca se deparasse com outro governante. Era como tinha visitado Celeste tantas vezes sem ser detectada.

Parecia que ela n?o era a única que usava esses corredores vazios para ter privacidade.

Sem fazer barulho, ela se encolheu junto à parede, esfor?ando-se para ouvir.

— Seu plano é loucura.

Isla congelou. A voz ecoou profunda e furiosa, mesmo em um sussurro.

A voz de Oro.

Outra voz respondeu, t?o baixa que ela n?o entendeu as palavras.

Mas ela sabia quem as dissera.

Azul.

O que eles estavam fazendo, se encontrando em um lugar t?o estranho e escondido?

Isla se aproximou das vozes, caminhando em silêncio exatamente como Terra havia ensinado. Nas pontas dos pés, depois com os pés de lado, sem nunca tocar os calcanhares no ch?o.

— Estará sentenciando milhares de pessoas à morte — Oro rosnou.

Ela n?o se atreveu a respirar. Houve uma pausa.

— Um reino tem que morrer, Oro — Azul finalmente respondeu.

Isla deu um passo para trás, chocada. O salto de seu sapato fez um mínimo ruído.

As vozes sumiram.

Um momento depois, uma porta se fechou, bloqueando o resto da conversa.

Naquela noite, eles permaneceram no Continente. Isla e Oro adentraram os vastos bosques de um lado do castelo, que se estendiam por todo o caminho até a costa. Ela sentiu a familiar pontada de medo. Aquela floresta era mais selvagem do que a da Ilha do Céu. Energia vibrava no ar. Os galhos pareciam se curvar em dire??o a ela, como se estivessem se esfor?ando para olhar mais de perto. As trepadeiras no ch?o se esticavam quando ela passava, como se quisessem fazê-la trope?ar.

A natureza aqui parecia intrigada por ela. Suor escorria pelo peito enquanto ela observava. Pelo menos n?o tinha se machucado. Ainda.

O panico come?ou a envenenar seus pensamentos, ent?o ela voltou a aten??o ao rei, esperando que quanto menos observasse a floresta, menos a floresta a observaria de volta. Os olhos dele estavam semicerrados e ligeiramente mais enrugados nos cantos. Ele andava de forma mais tensa do que de costume.

— Você n?o tem dormido nada, n?o é?

Oro n?o disse nada que indicasse que ouvira suas palavras.

— Poderia pelo menos tentar dormir durante o dia, se vamos trabalhar à noite.

Ele continuou andando pela floresta, abaixando-se para evitar galhos que Isla mal podia tocar se levantasse o bra?o.

— A menos que você tenha outro aliado com quem esteja trabalhando durante o dia?

— N?o tenho outros aliados — ele disse secamente.

— Sério? — ela disse. — Nem mesmo Azul?

Oro parecia entediado.

— Espionar é algo baixo, mesmo para um Selvagem.

Ent?o ele sabia que ela havia escutado. Que bom.

— Qual é o plano dele? — ela quis saber. Antes que pudesse se conter, acrescentou: — Você prometeu me proteger dos outros governantes. Devo me preocupar?

Oro suspirou, irritado, e se virou para ela.

— Azul é inofensivo. Você, entre todos os outros, é a que tem menos com o que se preocupar quando se trata dele.

Isso n?o fazia sentido. Azul havia falado em acabar com um reino. Se n?o estava falando sobre os Selvagens, falava de quem?

— Mas...

Seu olhar agressivo a calou.

— N?o vou revelar mais nada da nossa conversa privada, ent?o pode economizar seu f?lego e ficar grata por ter ouvido alguma coisa.

A maneira como ele falou...

Oro n?o contou mais detalhes sobre a conversa, mas talvez conhecer a história de Azul a ajudasse a entender suas motiva??es.

— Aconteceu alguma coisa com ele? — ela perguntou algum tempo depois.

O Etéreo estava sempre contente, mas ela notara um olhar perturbado em seu rosto algumas vezes. Ela podia apostar que havia tristeza, ou talvez raiva, por trás daquela máscara jovial.

Segundos se passaram em silêncio, e Isla pensou que ele iria ignorá-la novamente. Mas, por fim, ele disse: — Azul perdeu alguém. Alguém que amava.

Ah. Isla n?o esperava isso. Ela sup?s que todos os governantes haviam perdido alguém próximo a eles na noite em que as maldi??es foram lan?adas. Isso parecia diferente.

— Alguém muito importante? — ela arriscou.

Oro assentiu.

— O marido.

Isla sentiu um aperto no peito. N?o conhecia Azul muito bem, mas o pensamento de que ele havia perdido alguém t?o próximo provocou nela uma tristeza inexplicável.

— Ele também era um Etéreo? — ela perguntou.

Ele negou com a cabe?a.

Isso a fez pensar no irm?o de Oro e no casamento que as maldi??es tinham destruído. Dois governantes foram escolhidos para se casar pela primeira vez em séculos, uma chance de unir a ilha. Ela n?o queria perguntar diretamente sobre o rei Egan, mas questionou: — Casamento entre reinos é comum em Lightlark?

— Tornou-se mais comum — foi tudo o que ele disse.

Isla franziu a testa.

— Como isso afeta o poder, ent?o? Crian?as... Elas nascem com as habilidades de apenas um reino? — Ela olhou para o rei. — Elas n?o recebem as dos dois, n?o é?

Oro balan?ou a cabe?a.

Ela esperou, com expectativa, querendo uma explica??o melhor.

O rei suspirou.

— Elas nascem com um poder, Selvagem.

Interessante. Isla abriu a boca, prestes a fazer outra pergunta, quando Oro deu a ela um olhar que a silenciou novamente.

Certo.

Embora tivesse sido ele quem terminou a conversa, dez minutos depois, ele avisou: — Estamos perto da entrada para a Ilha Selvagem — murmurou, como se, na verdade, n?o tivesse a inten??o de dizer essas palavras.

Alex Aster's books