Lightlark (Lightlark, #1)

Ela cruzou os bra?os.

— O que eu fiz foi verificar toda essa área — respondeu, apontando para um grande campo dividido por retalhos de tecido.

Os olhos do rei dispararam brevemente para o local que ela havia indicado. Ele n?o parecia impressionado.

Ele n?o parecia nada.

Isla estreitou o olhar.

— Isso significa que n?o encontrou?

Ele n?o se dignou de dar uma resposta. Só se virou e voltou por onde tinha vindo.

Na manh? seguinte, Ella chegou com roupas. Mais camisas de manga comprida quase iguais às que tinha rasgado. Cal?as parecidas com seu outro par, agora coberto por uma camada de terra, porém mais grossas, com tecido refor?ado nos joelhos, melhores para a natureza. Botas muito mais adequadas para a tarefa de caminhar em florestas e vales do que seu par de chinelos sujos de terra.

— O rei enviou isto — disse a criada.

Isla revirou os olhos.

Ela quase quis se rebelar e usar as mesmas roupas de antes, apenas para irritá-lo, mas pensou na miss?o. Em fazer com que ele abrisse a biblioteca para ela. Ele n?o iria honrar seu pedido agora, mas talvez se a visse se esfor?ando para encontrar o cora??o...

Mas ela decidiu que usaria sua coroa naquela noite, ao menos como o mais leve lembrete de que ela também era uma governante de reino, que n?o seria desprezada. Apesar disso, escondeu a maior parte da joia entre as mechas do cabelo, para que n?o entregasse sua identidade às misteriosas criaturas antigas sobre as quais o rei havia avisado.

Antes de se separarem para vasculhar suas partes do bosque, Isla perguntou algo em que vinha pensando desde que Oro compartilhara seu plano com ela:

— Como você descobriu o cora??o?

Ele ficou em silêncio.

Ela casualmente atravessou os poucos metros entre os dois, sorrindo com do?ura. Estendeu a m?o e deu um peteleco na coroa real, só porque sabia que ele tinha odiado isso na primeira vez.

— Você deveria me contar. Porque se n?o... N?o vou abrir mais nenhuma planta-bolsa.

Os olhos de Oro brilharam com irrita??o, como lenha crepitando no fogo. Ainda assim, ele ficou em silêncio.

Isla estalou a língua.

— Um rei desconfiado que sempre mantém todas as suas cartas perto do peito... — Suas m?os rodearam a cintura, dedos afundando no tecido solto de sua nova camiseta de manga comprida. Ela olhou incisivamente para o bra?o dele, onde o cinza-azulado tinha come?ado a se espalhar. Sinal da morte iminente do rei. — Diga, as coisas est?o saindo como você esperava?

Oro olhou para ela. Respirou t?o fundo que pareceu tremer os ombros. Poder emanava dele em ondas pesadas, um vento cortante que ela n?o podia ver, uma correnteza da qual n?o conseguia se libertar. De repente, o ar frio ficou quente como um Selvagem.

A for?a dele fez os joelhos de Isla vacilarem. Mas ela n?o podia lhe permitir a satisfa??o de ver isso. Ent?o sorriu novamente, piscou seus longos cílios e ficou na ponta dos pés para que estivesse a apenas alguns centímetros de seu rosto quando disse:

— E?

Imediatamente, seu poder desapareceu do espa?o entre os dois, engolido. Ele n?o se afastou.

— Vou correr o risco, Selvagem — ele disse friamente antes de dar um peteleco na coroa de Isla. O movimento a colocou de volta sobre os calcanhares, trope?ando alguns passos. Sua cabe?a come?ou a latejar imediatamente. Com que for?a ele fez isso? Ela estendeu o dedo para tra?ar uma linha ao longo do metal e encontrou um verg?o profundo.

Algo nos olhos de Oro brilharam com um prazer perverso enquanto a raiva distorcia a express?o de Isla.

— Você amassou!

Ele simplesmente se virou e come?ou a caminhar em dire??o ao seu lado do vale.

— Conserte! — ela exigiu.

Tudo o que viu foram as costas dele enquanto se afastava cada vez mais, a capa dourada ondulando suavemente ao vento.

— Miserável — ela sussurrou baixinho, com raiva. — Se n?o f?ssemos uma dupla, eu realmente iria te estripar!

Isso fez parar o rei. Ele se virou como se tivesse ouvido cada palavra.

Ela fez um gesto para ele que esperava provar o quanto falava sério.

Oro franziu a testa e se virou.

E, só porque ele era sua melhor chance de entrar na Biblioteca da Ilha do Sol e encontrar o desvinculador, ela fechou as m?os com raiva e caminhou em dire??o a suas fileiras de plantas.

Eles passaram mais três noites vasculhando as plantas-bolsa. Trabalharam desde o p?r do sol até uma hora antes do amanhecer, tempo suficiente para o rei chegar ao castelo antes que o dia o alcan?asse. Assim que seu quarto se enchia de luz, Isla desabava na cama, às vezes até mesmo sem um banho, exausta.

Seus dedos estavam rígidos, os músculos das palmas doloridos. Até os bra?os doíam depois de terem sido levantados um após o outro, milhares de vezes. O pesco?o estava dolorido devido ao esfor?o para espiar os centros das plantas. A lombar era uma causa perdida.

A cada dia, a distancia entre Oro e Isla diminuía a partir das margens do vale e em dire??o ao centro.

No trigésimo primeiro dia do Centenário, eles se encontraram no meio. Ambos cobertos de terra. Ambos cansados. Ambos frustrados, se o olhar que trocaram era uma indica??o.

— N?o está aqui — Isla disse, enfim. Sua voz estava rouca. Tinha come?ado a pagar o pre?o por dormir poucas horas durante o dia e trabalhar à noite. Especialmente por n?o ter come?ado a busca com boa saúde. O bra?o estava totalmente curado, mas o frio n?o havia deixado completamente seu peito.

O rei n?o tinha a postura ereta de antes. Passou a m?o pelo cabelo, parecendo n?o se importar que estivesse coberto de terra.

— N?o — ele repetiu. — N?o está.

Isla deve ter gemido, porque Oro a encarou, olhos em chamas, quase desafiando-a a fazer um comentário sarcástico.

Ela poderia ter feito. Se n?o precisasse dele.

Precisou de tudo de si para respirar fundo e perguntar:

— Onde fica o segundo local?





CAPíTULO VINTE E CINCO


SEGUNDO LOCAL





Era noite e as luzes do castelo estavam apagadas. A escurid?o era t?o profunda que parecia se infiltrar em todos os lugares, como tinta derramada.

Isla procurou por luzes, cortinas que pudesse abrir. Encontrou uma vela e a acendeu.

Sua sombra surgiu diante dela, presa à parede.

Outra se juntou. Muito maior que a sua.

Ela se virou e lá estava ele. Grim. Usava sua armadura. Pe?as brilhantes de metal preto.

Parecia algo oriundo de um pesadelo, um monstro escondido no escuro.

Por um momento, ficou nervosa. Mas n?o com medo.

Ainda assim, deu um passo para trás, até que ela e sua sombra eram uma só.

Ele se aproximou. Levantou a m?o para tirar o capacete. Largou-o no ch?o com um estrondo. Ergueu Isla do ch?o pela parte de trás de suas coxas, e as m?os dela puxaram o cabelo dele, e disse...

Isla ofegou. Piscou para a hera que serpenteava pelo teto do quarto, um feixe fraco de luz do sol espreitando através das cortinas. Ela estava no castelo do Continente... n?o no quarto escuro.

N?o estava com Grim.

Idiota.

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