Lightlark (Lightlark, #1)

Algo apertou em seu peito. Tantas plantas Selvagens tinham morrido desde que ela nasceu, gra?as à ausência de seus poderes. Ela achava até ent?o que tinham perdido todas elas, para sempre. Mas talvez ainda existissem aqui.

— O cora??o de Lightlark floresce a cada cem anos, ligado a uma coisa viva. Uma planta. Se você conseguisse identificar a quais tipos de plantas algo como o cora??o pode ser atraído, elas poderiam guiar nossa busca. Poderíamos ir para onde elas se originam na ilha.

Ent?o era por isso que ele precisava de sua ajuda.

Isso ela poderia fazer. Isla nunca tinha visto a maioria dessas espécies de Lightlark, mas crescer sendo criada por Selvagens significava saber como elas funcionavam. O que procurar.

Ela se abaixou, estudando as plantas mais próximas.

— Para o cora??o florescer regularmente, precisa se alimentar da vida na ilha. Ele precisa de um anfitri?o disposto e carinhoso.

Isla caminhou pelo jardim e, depois de um tempo, o rei a seguiu, mais a fundo no centro da montanha. A flora era fascinante. Ela viu uma árvore com folhas de todos os tons de fogo. Um pequeno cacto que dava uma única flor, maravilhosa, e sem dúvida venenosa. Um arbusto com trepadeiras que se enrolavam e se desenrolavam como dedos gesticulando.

Uma parede estava completamente coberta por uma profus?o de rosas vermelho-escuras. Isla podia jurar que estavam cantarolando.

— Elas est?o...

— Elas só crescem sobre cadáveres — disse ele, impaciente. — Ou onde sangue é derramado. Dizem que capturam as últimas palavras dos mortos que lhes deram vida.

Ah.

— Como os fios de salgueiro — ela disse baixinho.

Nas terras Selvagens, havia uma campina com árvores antigas e sagradas onde as memórias e vozes dos mortos eram mantidas. Enrolar alguns dos galhos ao redor do pulso podia fazê-los falar.

Isso significava que havia corpos enterrados na montanha? Ou os Selvagens simplesmente os replantaram aqui?

Só quando chegou ao muro dos fundos do jardim, uma hora depois, ela falou novamente.

— Aquelas — ela disse, apontando para as plantas que se desenrolavam e se enrolavam. — Algo pode estar escondido no meio delas. Já vi até pássaros vivendo em plantas como elas. Nós chamamos de plantas-bolsa. Elas... carregam coisas. Sem matá-las.

Ela olhou incisivamente para uma muda do outro lado, uma carnívora que era quase igual às plantas-bolsa, exceto pela fileira de dentes que cobria seu centro. Depois se virou novamente.

— E aquelas — continuou, apontando para duas árvores com troncos grossos. — Temos algo semelhante chamado árvores-de-caix?o. S?o conhecidas por crescer em torno de seres vivos... quase como um escudo. Ou, em alguns casos, uma pris?o.

Poppy lhe contara certa vez sobre uma conhecida que se perdera em uma floresta por semanas. Uma árvore cresceu ao redor dela em segundos, prendendo a garota em seu tronco. Deu-lhe água e comida, mas tentou mantê-la ali. Foram necessários três Selvagens para libertá-la. Isla deu de ombros.

— Seria um lugar perfeito para o cora??o se esconder enquanto também suga a energia de uma coisa viva.

Finalmente, ela apontou para o lago em que havia caído.

— Esses lírios-d’água têm raízes — completou. — Poderia estar preso a uma raiz assim, no fundo do lago.

O rei assentiu. Pareceu prestes a se virar.

— E agora? — ela perguntou.

Oro mexeu a mandíbula, irritado, como se cada informa??o que ela compartilhou cortasse fundo em sua alma.

— Vou decidir por onde come?ar. Um lugar que tenha as plantas que você indicou.

Parecia bom. Ela sufocou um bocejo, exausta. Seus olhos procuraram uma saída da caverna. Mas n?o havia. Apenas o buraco, a trinta metros de altura, visível até mesmo deste lado da caverna. Ela franziu a testa.

— Como...

Ele se virou para olhá-la. Havia algo perverso em seus olhos, algo que sentiu enorme prazer no horror que tomou conta do rosto dela.

— De jeito nenhum. Você deve ter passado muito tempo sob a lua, seu lunático, se pensa que eu...

— é a única maneira de voltarmos ao castelo antes do nascer do sol — ele interrompeu.

Ela abriu a boca, pronta para refutar essa afirma??o, mas ele a interrompeu:

— Confie em mim. Se existisse outra maneira, se existisse uma maneira de fazer isso sem você, n?o estaríamos aqui.

Isla esperou para sentir a pontada de dor por suas palavras, mas nenhuma veio. O desagrado entre os dois era recíproco. E ela estava bem com isso.

Rapidamente, antes que Isla pudesse alertá-lo sobre o que faria se ele a deixasse cair, um bra?o segurou suas pernas e o outro, suas costas. Oro a encarou e suspirou quando a viu piscando de volta para ele, olhos arregalados de medo.

Em seguida, disparou para o ar. Ele deve ter se inclinado de forma a passar pelo buraco que n?o ficava diretamente acima, mas n?o parou nem diminuiu a velocidade; voou rápido como uma estrela cadente, um relampago ao contrário.

Isla gritou t?o alto em seus ouvidos que o fato de ele n?o ter simplesmente largado-a lá do alto era impressionante. Especialmente quando suas unhas cravaram t?o forte na parte de trás do pesco?o dele que Isla tinha certeza de que haviam arrancado sangue. Fingir coragem parecia impossível. Eles voaram mais rápido que o vento por apenas alguns instantes antes que tudo ficasse sem peso.

Ele estava simplesmente... andando. Já tinham chegado ao ch?o? Isla se mexeu para sair de seu aperto, mas Oro resmungou e seus bra?os a seguraram com mais for?a, quase doendo. Só quando abriu os olhos ela viu que ainda estavam no ar, centenas de metros acima. Oro estava andando no nada, uma ponte invisível em vez da real, frágil, bem na dire??o do penhasco. A praia exposta ficava lá embaixo, rochas afiadas como cacos de vidro. Ela ficou boquiaberta e prontamente colocou o rosto com for?a no espa?o entre o pesco?o e o ombro dele.

Oro riu com maldade, divertindo-se com seu medo. Ela sussurrou palavras em sua orelha que o fizeram franzir a testa.

— é como se você quisesse que eu te soltasse.

Antes que ela dissesse algo de que pudesse se arrepender, e isso n?o teria muito efeito, de qualquer maneira, dada a for?a com que ela estava agarrada a ele de tanto pavor, Oro deu um passo que parecia muito mais sólido.

Finalmente, estavam de volta ao Continente.

Ela se soltou de seus bra?os no segundo em que era seguro fazê-lo, aliviada por estar longe do rei, ent?o o encarou.

— Isso foi horrível — ela disse, para que ele n?o tivesse qualquer dúvida quanto a seus sentimentos sobre voar e estar t?o perto dele.

Ele retribuiu o olhar frio.

— Vejo você amanh? — disse, mostrando os dentes, fazendo soar como uma amea?a.

Ent?o ele voltou para o ar, em dire??o ao castelo, deixando que Isla retornasse sozinha.





CAPíTULO VINTE E QUATRO


INVESTIGA??O





Isla podia ter prometido n?o contar a Grim sobre o cora??o, mas n?o disse nada sobre contar a Celeste.

O quarto da amiga foi o primeiro lugar para onde se dirigiu quando chegou ao castelo.

Ela bateu e a porta se abriu imediatamente, embora estivesse quase amanhecendo. A Estelar deve ter esperado a noite toda para falar com ela.

As duplas tinham complicado seu plano.

Ela contou tudo para a amiga. Ao final, Celeste perguntou:

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