Lightlark (Lightlark, #1)

— Tem certeza de que ele disse cora??o?

Isla assentiu.

— Ele deve acreditar que isso cumpre a profecia. Um crime original cometido novamente, de alguma forma. Talvez encontrar esse cora??o seja o crime original?

Celeste balan?ou a cabe?a.

— N?o sei, mas n?o gosto disso. Nem um pouco.

— Nem eu. Dessa vez, o rei está claramente desesperado para quebrar as maldi??es — disse ela. — Mas acho que isso pode ser bom.

Sua amiga a encarou como se tivesse brotado uma flor na testa de Isla.

— é assim que vamos entrar na biblioteca da Ilha do Sol.

Celeste ponderou sobre isso.

— Você acha que pode convencê-lo a deixar você entrar?

Isla estremeceu. O rei a odiava. Ainda assim, encontraria uma maneira. Ela assentiu.

— Tudo bem — disse Celeste. — Ent?o fa?a com que ele te mostre a biblioteca o quanto antes. Faltam apenas algumas semanas para o baile.

Algumas semanas até que os governantes sejam autorizados a matar eram as palavras que n?o precisavam ser ditas.

No caminho de Isla até a porta, sua amiga a chamou mais uma vez.

— Ah, Isla, mais uma coisa… Tome cuidado. — Celeste mordeu o lábio, preocupada. — Os governantes... Tenho medo do que eles far?o para vencer, agora que sabemos que Lightlark está em apuros. N?o confio em nenhum deles. — Ela a olhou bem nos olhos. — Principalmente no rei.

Oro foi ao quarto dela na noite seguinte, como prometido. Ele mal olhou para ela antes de levá-la ao próximo destino.

Desta vez, Isla n?o perguntou para onde estavam indo. Ela já tinha visitado algumas das ilhas agora, sabia onde ficavam quase todas. Poderia descobrir sozinha.

Vinte minutos de caminhada e Isla tinha certeza de que estavam indo para a Ilha do Céu.

Ao atravessar a ponte, Isla confirmou isso.

Oro pensava que aquela era a primeira vez que ela estava vendo a ilha. N?o chegou a fingir que estava maravilhada com a cidade flutuante, mas ficou quieta.

Deixaram a base inferior do vilarejo e entraram em um bosque. Isla engoliu em seco. Ela se perguntou se as florestas em Lightlark eram como as das terras dos Selvagens. Perigosas. Mortais. Até os tolos temiam a floresta. Ninguém entrava sem prote??o. Foi por isso que a urticária de Oro tinha sido t?o surpreendente. As plantas podiam ser t?o selvagens quanto os animais. Elas podiam atacar, mutilar, matar. Terra disse que era por isso que os Selvagens poderosos eram t?o importantes. Só eles podiam domar a natureza. Proteger os outros.

Mas Isla n?o era uma verdadeira governante Selvagem. As plantas n?o lhe obedeciam. E tinha como prova muitas cicatrizes que havia levado anos de elixires para apagar.

O que o rei pensaria se fossem atacados?

Culparia isso ao fato de que ela estava supostamente escondendo seus poderes a pedido dele?

Ficaria desconfiado?

Por sorte, quando entraram na floresta, nada aconteceu. As árvores seguiam altas, como tudo na Ilha do Céu, como o próprio povo. Elas estavam carregadas de frutinhas do tamanho de bot?es e da cor do céu e de dentes-de-le?o em seus galhos, como se peda?os de nuvem tivessem se agarrado ali. A temperatura caiu rapidamente, e Isla desejou ter uma capa, uma daquelas grandes o suficiente para cobri-la inteira. Pensou no segredo do rei. Ficava notavelmente mais frio longe das infinitas lareiras e fogueiras do Continente.

Oro n?o consultou um mapa, mas caminhava com seguran?a, a ilha parecendo ter uma atra??o gravitacional só para ele.

— Identifiquei dois lugares em Lightlark que possuem um número incomum das plantas que você mostrou no jardim — ele enfim disse. — Um é aqui. O outro, no Continente.

O terreno da floresta se transformou em um aclive íngreme, e eles o escalaram em silêncio. O rei poderia ter voado, ela sabia, e isso teria economizado muito tempo. Devia haver uma raz?o para isso. Ele tinha mencionado estar procurando o cora??o há mais de meio século; talvez tivesse sobrevoado cada polegada da ilha sem sucesso.

Desta vez parecia que ele queria ser mais minucioso.

Finalmente chegaram ao topo da colina, e Isla olhou para um vale cheio de plantas-bolsa. O alívio correu frio pela sua coluna. Essa variedade n?o era perigosa. Estaria relativamente segura aqui.

Mas havia uma nova preocupa??o. Havia milhares de plantas, ocupando cada centímetro de vale, de montanha a montanha. Milhares e milhares. Procurar toda a área com o cuidado necessário, a pé, levaria dias.

— Como vamos conseguir encontrá-lo?

— Você saberá. O poder que o cora??o irradia é inconfundível, mas detectável apenas de uma distancia muito próxima.

Ent?o era por isso que ele n?o a havia abandonado para sobrevoar a extens?o do vale em minutos.

Isla n?o confiava em sua capacidade de sentir o cora??o apenas por meio do seu poder.

N?o quando ela n?o tinha nenhum.

— Ele... vai ter alguma aparência especial? — ela perguntou.

Os cantos dos lábios de Oro viraram para baixo, como de costume.

— Sim, Selvagem — respondeu ele. — Vai ter uma aparência especial. — Ele virou-se para a esquerda sem encará-la. — Vou come?ar por ali.

Bom. Pelo menos n?o estariam procurando lado a lado.

Isla voltou a erguer os olhos para o vale e engoliu em seco. Realmente era muita terra em que procurar. Além disso, tudo parecia igual. Seria fácil confundir onde ela já tinha olhado ou n?o, especialmente ao longo dos dias. Ela precisava de uma estratégia.

Isla encontrou um padr?o nas plantas; fileiras que, apesar de n?o serem perfeitamente dispostas, eram fáceis de detectar uma vez que conhecia sua forma. Agora ela só precisava de marcadores para indicar as áreas que já havia pesquisado. Seus olhos observaram a terra, procurando uma cor que se destacasse. Uma flor diferente, talvez. Um tipo especial de videira.

Mas n?o havia nada, as plantas pareciam todas iguais. Mesmo as da floresta às suas costas eram de um tom muito parecido.

Ela era a única coisa que se destacava em todo o vale.

Isla suspirou e lembrou a si mesma que essa era a melhor maneira de conseguir entrar na biblioteca da Ilha do Sol. Ent?o come?ou a rasgar a barra de sua camisa favorita.

Isso. Teria que fazer isso.

Ela foi eficiente. Depois de quatro horas, tinha coberto um bom peda?o de sua área e desenvolvido um sistema. As plantas-bolsa abriam quando seus topos eram acariciados. Levava alguns longos momentos para suas folhas e vinhas desenrolarem, e mais alguns segundos para dar uma boa olhada lá dentro antes de fecharem novamente. No seu menor tempo, conseguir verificar cinco por minuto. Quando terminava uma fileira, marcava amarrando uma tira de tecido na última planta.

Quando Oro veio buscá-la, Isla tinha olhado dentro de mais de mil plantas-bolsa, e sua camisa tinha sido destruída. Antes ia até os joelhos. Agora, terminava bem acima do umbigo.

O rei parecia horrorizado. Isla sorriu, deleitando-se com o fato de que parecia t?o selvagem quanto ele acreditava que fosse, coberta de sujeira, o cabelo bagun?ado em volta do rosto, as roupas em farrapos.

— O que você fez? — ele quis saber.

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