Lightlark (Lightlark, #1)

— Medo de altura. Medo de cair. Medo de pontes. Devemos fazer uma lista dos seus medos, Selvagem?

Isla o encarou. Em vez de apontar que todos aqueles, provavelmente, seriam classificados como um único medo, n?o três, ela gesticulou para o buraco.

— Vá na frente, rei.

Ele sustentou o olhar de Isla quando deu um passo à frente e caiu.

Isla ficou tensa. Era sua vez agora.

Ela n?o se moveu um centímetro.

Oro podia voar, nenhuma queda seria mortal. Ele tinha um milh?o de formas de sobreviver a algo assim. Isla n?o tinha nenhuma.

Tudo o que tinha eram suas palavras prometendo que ela ficaria bem. Sua vida dependia da honestidade do rei. Algo de que ele parecia se orgulhar, levando-se em conta sua demonstra??o.

Ainda assim... Se ela morresse desse jeito, teoricamente ele n?o estaria quebrando as regras...

Seria essa uma maneira fácil de se livrar de Isla?

Todos os outros governantes, exceto Celeste e Grim, estavam com ele nisso?

Segundos se passaram. Os sussurros da tempestade ficaram mais altos. Mais insistentes.

Ela estava com medo. Embora Terra tivesse treinado Isla para n?o temer a morte, ela temia.

Mas n?o era isso o que mais temia.

Seu maior medo era o que ela havia enfrentado no teste de Celeste: n?o viver. Ficar presa por toda a eternidade em um quarto sem ter feito tudo o que sonhou.

Estavam t?o perto de encontrar o desvinculador. Ela gostando ou n?o, Oro havia se tornado parte essencial de seu plano. Ele era a chave para entrar na biblioteca da Ilha do Sol.

Antes de perder a coragem, Isla respirou fundo.

E pulou.

Era como rolar entre mundos, pior, muito pior do que cair do penhasco ou usar um portal. O buraco era grande o suficiente para uma pessoa, e quase n?o havia ar, nada além das paredes almiscaradas, e o cheiro de mofo, e os gritos dela, sua voz arranhando dolorosamente no fundo da garganta, os olhos fechados com tanta for?a que a cabe?a latejava, doía.

Isla foi engolida.

Antes que pudesse compreender o frio, a água gelada mordendo-a como mil dentes, dois bra?os fortes a puxaram para fora, para a pedra fria. Ela o empurrou com toda a for?a que conseguiu reunir e agarrou o ch?o, o cabelo um leque molhado ao redor da cabe?a enquanto ela alternava entre ofegar e tossir água.

Quando sua respira??o desacelerou, Isla olhou para cima através da cortina que haviam se tornado seus cabelos e viu Oro ali parado, completamente seco. Ele estava franzindo a testa.

— Demorou bastante.

Ela ficou de pé na frente dele imediatamente, em menos de um segundo. Suas m?os se fecharam em punhos, se afastaram e golpearam.

Mas ela estava encharcada, a cabe?a estava girando, e ele era muito rápido.

Oro agarrou seus pulsos com for?a.

— Isso tudo foi um teste, n?o foi? — ela gritou, batendo o queixo de frio. — Queria ver se eu conseguiria confiar em você.

O rei desconfiado, o governante paranoico que achava que todos estavam sempre atrás de seu poder. Hipócrita. Ele queria que Isla confiasse nele quando ele n?o confiava em ninguém.

Oro parou de se mexer, e isso foi resposta suficiente.

— Eu sabia.

Ela lutou contra o rei, mas suas m?os enormes mais pareciam correntes, completamente enroladas em torno de seus pulsos. Se ao menos tivesse trazido uma espada, uma adaga, qualquer coisa além de seus brincos com ponta de faca, que n?o fariam tanto estrago quanto ela gostaria.

Isla cuspiu em seus pés e esperou que isso lhe informasse o que pensava.

A cara fechada de Oro ficou ainda mais séria.

— Ou?a com aten??o, Selvagem. N?o me importo se tem problemas comigo. Mas, se vamos trabalhar juntos, você precisa confiar em mim.

Ela mostrou os dentes.

— Como vou confiar em você se nem me diz o que está procurando?

Ele ponderou por um momento. Soltou as m?os dela.

Depois disse algo que a fez recuar de surpresa.

— Você vai revelar a Grim o que eu te contar?

O quê? Por que ele perguntaria isso? Ele achava que ela e o Umbra estavam trabalhando juntos?

O Umbra ficava o tempo todo atrás dela. Era uma conclus?o fácil, tinha que admitir.

Isla se perguntou se talvez fosse por isso que Grim demonstrava tanto querer estar perto dela. Era para os outros pensarem que tinham se aliado?

— N?o.

Ele pareceu acreditar nela, porque a próxima coisa que disse foi:

— Estou procurando o cora??o de Lightlark.

Isla levantou uma sobrancelha.

— O quê?

— Sua fonte de poder. Sua for?a vital.

Ela inclinou a cabe?a para ele.

— N?o seria... você?

Oro deu a ela um olhar estranho.

— N?o. Eu sou algo como o canal da ilha. Meu vínculo com Lightlark, pelo sangue, me liga a ela. Por meio desse vínculo, posso canalizar o poder.

— Mas, se você morrer, Lightlark morre.

— Se seu poder n?o puder ser canalizado ou estiver desequilibrado, a ilha vai desmoronar. N?o porque sou o cora??o, mas porque tudo o que temos construído, tudo o que somos, depende do poder que canalizo.

— Ah. Ent?o... a ilha tem um cora??o de verdade?

— Sim — disse ele. — Mas n?o parece com os cora??es que você come.

Interessante.

— Ent?o como é?

O rei balan?ou a cabe?a. Já irritado. Parecia que ele só tinha uma determinada quantidade de paciência e um determinado número de palavras para ela, e Isla já tinha acabado com todas.

— N?o sei. Toda vez que floresce, é diferente.

Floresce? Ela queria fazer tantas outras perguntas. Por que ele estava procurando pelo cora??o? Como isso se encaixava na profecia? Como ele pensava que ela poderia ajudá-lo a encontrar?

Mas, antes que ela pudesse dizer outra palavra, Oro voltou a falar:

— Sim, Selvagem. Este foi um teste de confian?a. Mas nós viemos aqui por um motivo.

Pela primeira vez, Isla olhou em volta de onde havia caído.

Um oásis no centro da montanha. Impossível. Além da torrente em que ela tinha caído, havia centenas de plantas crescendo do ch?o da caverna, como se a rocha fosse fértil.

A caverna estava congelante. Ela ainda tremia com o frio da água escorrendo por seu rosto, as roupas encharcadas grudadas na pele. Era extraordinário que alguma coisa crescesse aqui sem luz do sol ou terra, quanto mais centenas de espécies diferentes. N?o fazia sentido. Esta caverna tinha que ser infundida com o encantamento dos Selvagens.

— O que é este lugar?

Ele franziu a testa para sua roupa pingando. Agradou-lhe saber que ela provavelmente estava com uma aparência horrível, a roupa enorme a engolindo, o cabelo em mechas bagun?adas grudadas às bochechas. Ele fez um movimento como se estivesse prestes a secá-la usando seus poderes, mas desistiu. Bom. Ela n?o precisava de seu calor.

— Selvagens construíram um jardim no centro de uma montanha para proteger toda a flora da ilha. Esta caverna abriga plantas de todas as ilhas de Lightlark.

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