Lightlark (Lightlark, #1)

Que chance os outros tinham?

Isla ouviu uma batida suave à porta, muito depois da meia-noite. Celeste.

A Estelar entrou correndo, parecendo ter visto um fantasma.

— Essa foi por pouco — foi tudo o que disse.

O est?mago de Isla se retorceu, lembrando as palavras em sua xícara. Ela imaginou que as de Celeste eram quase iguais.

— Eu sei. — Ela franziu a testa. — Obrigada. Você n?o deveria ter que me proteger assim, mas... obrigada.

Celeste dispensou o agradecimento como se n?o fosse nada. Mas n?o era nada. A única maneira que Isla poderia recompensar a amiga pelo risco que estava correndo em seu nome era encontrando o desvinculador.

— O que acha que isso significa? — Isla perguntou.

A Estelar pareceu saber imediatamente que ela se referia à confiss?o do rei. Ela deu de ombros.

— N?o tenho certeza. Mas é motivo suficiente para nos apressar e encontrar o desvinculador, para que possamos sair desta ilha.

Ela estava certa. Uma vez que estivessem livres das maldi??es, poderiam estar livres de Lightlark. A morte do rei n?o as afetaria ou seus reinos.

Mas ainda havia outros fatores que apressavam o já limitado cronograma. E complicava o plano delas.

Isla contou a Celeste sobre o desastre no castelo da Ilha da Lua e o fato de estar quase certa de que Cleo sabia da sua invas?o à biblioteca.

Celeste caminhou pelo quarto de Isla, as m?os cobertas de faíscas. Suas emo??es muitas vezes desencadeavam aquelas explos?es, o que era parte da raz?o pela qual ela sempre usava luvas. Para manter sua energia sob controle.

— Farei o que puder para conseguir informa??es sobre a biblioteca da Ilha do Sol — foi tudo que Celeste disse depois de um bom tempo.

Isla assentiu, embora isso n?o resolvesse os maiores problemas. Como ela iria se esgueirar pela terra dos Solares sem roupas douradas? Celeste finalmente parou de andar de um lado para o outro e juntou as m?os, fazendo as faíscas caírem como fitas, desaparecendo antes de chegarem ao ch?o.

— As equipes ser?o formadas em dois dias. Tenho esperan?a de que Oro nos coloque juntas. Aí n?o vamos precisar trabalhar nisso em segredo. Vamos encontrar uma maneira de você entrar na Ilha do Sol sem ser notada.

Isla n?o queria questionar a amiga, especialmente quando tinha complicado tudo fazendo Cleo suspeitar dela, mas n?o conseguiu evitar proferir uma dúvida.

— E se Oro n?o nos colocar juntas?

Celeste franziu a testa. Apoiou a m?o suave, ainda zumbindo com energia, na bochecha de Isla.

— Eu sei o qu?o incrível você é, minha amiga brilhante — ela disse. — Mas eles n?o. O rei n?o vai escolher você ou eu para ser dupla dele.

Isla teve que admitir que ela estava certa.

— Agora — continuou Celeste. — Nem tudo s?o más notícias, n?o é? Sabemos com certeza que o desvinculador está na biblioteca da Ilha do Sol. Vamos dar um jeito de você entrar. Vai encontrar o desvinculador. Nós vamos usá-lo. Quebrar nossas maldi??es. Você terá seus poderes. Nossos reinos ser?o libertados. Podemos estar fora da ilha daqui a uma semana. Duas, no máximo.

Dito assim, parecia fácil.

Mas Isla sabia que nada em Lightlark era fácil.

No vigésimo quinto dia do Centenário, eles voltaram à sala do trono para a cerim?nia de forma??o das duplas.

— Rei. — O tom de Azul era firme, embora seus olhos brilhassem com urgência. — Você vai explicar a... verdade?

Desta vez, o rei sentou-se em seu trono, como se para lembrar os demais de sua posi??o.

Mesmo que ele estivesse, supostamente, morrendo.

A coroa de Oro brilhou sob a luz das chamas acima. Ele franziu a testa.

O resto dos governantes ficou em silêncio, claramente se perguntando a mesma coisa que Azul havia verbalizado de forma t?o prestativa.

Finalmente, o rei falou:

— Desde o último Centenário, a ilha vem enfraquecendo em ritmo constante. Anci?os morreram. Constru??es que estavam de pé há milhares de anos est?o agora em ruínas. Nossas criaturas mais antigas desapareceram. — Ele agarrou as laterais do trono com tanta for?a que os nós dos dedos ficaram brancos. — As maldi??es. Séculos de governantes vivendo longe da ilha. Nosso povo indo embora aos milhares. Tudo isso cobrou seu pre?o de Lightlark. De mim.

Isla pensou em seu próprio reino. As mesmas coisas tinham acontecido por lá. Eram sinais de que pouca energia estava sendo injetada na terra e habilidades n?o estavam sendo utilizadas de forma suficiente.

Oro se levantou do trono. Encarou cada um deles, olhos vazios como sempre.

— Temo que este Centenário n?o seja simplesmente uma chance de quebrar nossas maldi??es. Temo que seja nossa última chance.

A sala estava em silêncio.

Um poder crescente — se vindo da raiva ou medo ou cautela, Isla n?o sabia — preencheu a sala.

Azul falou novamente:

— Como você sabe que está morrendo?

Com isso, o rei puxou uma manga. Acima do cotovelo, sua pele dourada tinha come?ado a ficar cinza. Quase azul.

— Está se espalhando — ele disse. — Mais rápido do que eu esperava. — Sua mandíbula travou. — Parte do meu poder e do meu papel tem sido manter a ilha quente e cheia de luz por séculos, mesmo durante a tempestade sem fim. — Ele franziu a testa. — Esse poder enfraqueceu. A última década foi a mais fria da história. Está matando plantas e animais. Tenho tentado diminuir esse impacto... mas logo n?o serei capaz de impedir a mudan?a.

Era por isso que ele tinha ordenado que todas as lareiras permanecessem acesas. Por isso havia tantas tochas por todo o Continente e fogo em quase cada quarto do castelo. Estavam mascarando a fraqueza do rei.

Ele desceu as escadas, colocando-se no mesmo nível que eles.

— Espero que agora vocês percebam por que é mais importante que nunca desvendar e cumprir a profecia.

O rei apontou para a parede. Palavras come?aram a ser esculpidas ao longo da pedra com grandes letras de fogo. O enigma do oráculo, aquele que Isla tinha estudado anos antes. A chave para quebrar as maldi??es.

Somente unidos as maldi??es podem desfazer

Somente depois que um dos seis vencer,

Quando o crime original

For cometido novamente

E uma linha de poder ao fim chegar

Somente ent?o poder?o a história alterar.

— “Somente unidos as maldi??es podem desfazer” — leu Oro. — Por isso nos dividimos em equipes, para cumprir a profecia. E tentar decifrá-la. Um lembrete da primeira regra. Um governante é proibido de assassinar seu parceiro.

Isla n?o estava realmente preocupada com a profecia. O plano dela e de Celeste n?o exigia isso.

Ainda assim, ela fingiu ler as palavras na parede enquanto repassava ideias na cabe?a. Talvez pudesse ajustar sua po??o de elixir para tingir roupas... Talvez conseguisse tingir de dourado um de seus próprios vestidos.

N?o, nunca daria certo. Além disso, ela mal tinha elixir suficiente para mais uma tentativa de pintar o cabelo, muito menos uma pe?a inteira de tecido.

Ela poderia roubar um Solar no mercado e pegar suas roupas?

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