Lightlark (Lightlark, #1)

E ficou cara a cara com uma onda monstruosa. Ela atingiu o conjunto de portas de vidro com tal for?a que pareceu sacudir o castelo até seus alicerces. Se Isla n?o tivesse agarrado uma prateleira coberta de gelo, teria caído no ch?o.

As portas levavam a uma varanda branca curva, agora inundada com espuma do mar tal qual uma boca raivosa, resquícios da onda que recuava, reunindo for?as para atacar mais uma vez. Era impressionante que as portas de vidro n?o tivessem se quebrado. Elas deviam ser refor?adas com algum encantamento.

Encantamento.

Onde estavam as relíquias? Tudo o que ela via eram livros.

— Ela está lá dentro!

— Tragam a governante!

Governante? Isla engoliu em seco. Cleo deveria estar dormindo no Castelo do Continente. Era tradi??o passar a maior parte do tempo lá, especialmente durante os primeiros vinte e cinco dias.

Ela precisava se apressar. Seus olhos se esfor?aram para absorver cada centímetro da biblioteca. Havia apenas um andar.

Nada. Apenas livros dentro do gelo, até onde podia ver.

Ela devia ter deixado algo passar.

Isla se virou, pronta para dar uma olhada nas prateleiras da frente, quando outra onda esmagadora a fez cair para a frente.

Desta vez, ela caiu no ch?o.

Houve um terrível som estalado quando sua cabe?a bateu no piso.

Por um momento, viu apenas um branco ofuscante. Ela piscou, for?ando sua vis?o a se acertar, dizendo ao corpo que n?o havia tempo a perder ou ceder à dor.

Sua bochecha estava quase grudada no ch?o. A cabe?a girou enquanto ela levantava o rosto, e o mundo oscilou antes de se endireitar.

Seus bra?os tremeram quando Isla tentou se levantar.

Foi aí que ela viu.

O ch?o estava coberto de gelo. O calor do corpo dela aqueceu a superfície o suficiente para degelar a cobertura fosca, revelando uma segunda biblioteca abaixo.

água. Dezenas de relíquias estavam mergulhadas em água, acorrentadas, flutuando abaixo do piso.

Uma capa, o tecido movendo-se de forma antinatural, girando de um lado para o outro.

Uma flecha com uma ponta de floco de neve.

Adagas de cristal.

Livros com fechaduras.

Chaves t?o compridas quanto os bra?os de Isla.

Nada de desvinculador.

Nada que se assemelhasse a uma grande agulha de vidro.

A decep??o rapidamente se transformou em raiva enquanto ela se levantava com as pernas trêmulas, trope?ando para o lado, tentando se firmar em um bloco de gelo.

Algo quente escorria por sua bochecha.

Lágrimas?

Ela estava chorando e nem se deu conta disso?

Ergueu a m?o trêmula, que voltou carmim.

N?o. Sangue.

Isla deu um passo à frente e quase desmaiou.

Seu outro pé fez men??o de se mover, mas o joelho cedeu.

Primeiro, seu bra?o dolorido e queimado. Depois, as consequências da demonstra??o de Cleo. Agora, o ferimento na cabe?a.

Era demais.

Isla jurou que quebraria a maldi??o, mesmo que isso significasse se quebrar.

Talvez ela devesse ter formulado sua promessa de forma um pouco diferente.

Batidas ecoaram pela sala, mas n?o estavam vindo da varanda ou do mar. N?o, elas vinham da parede pela qual Isla havia entrado.

— Toda a legi?o está aqui — gritou uma voz do outro lado. — A governante está a caminho. Você está encurralada. N?o tem para onde correr. Está sem saída.

Isla sorriu.

Ele estava certo. N?o havia para onde correr.

Mas sem saída?

Nisso, ele estava errado.

— Ainda bem que nunca planejei sair do jeito que entrei — ela disse para si mesma. Cada parte de seu corpo doeu quando ela esticou o bra?o bom e puxou a varinha estelar de seu esconderijo nas costas.

Isla n?o sabia como usá-la com precis?o para pequenas distancias ou lugares em que nunca tinha estado antes. Mas seu quarto no castelo do Continente n?o era nenhuma dessas coisas.

A parede foi derrubada assim que ela partiu.





CAPíTULO VINTE


CHá





Por dois dias inteiros, Isla dormiu. Ela só acordou para comer e tomar sopas, ent?o pegou no sono novamente. Teve sonhos estranhos. Grim estava em alguns deles. Flashes dele. Dela. Deles.

No vigésimo terceiro dia, quando Ella chegou com as novidades no chá da tarde, Isla soube que era hora de se levantar. De se libertar da dor e da fraqueza como a cobra em sua coroa trocando de pele.

O desvinculador n?o estava nas bibliotecas da Ilha da Estrela, da Ilha do Céu nem da Ilha da Lua. Sobrava apenas um lugar.

A Ilha do Sol.

A terra do próprio rei. Fazia sentido que uma relíquia t?o poderosa quanto o desvinculador estivesse guardada lá.

Mas Isla n?o tinha como conseguir roupas douradas. Quase n?o tinha mais nenhuma tinta de cabelo.

E havia mais problemas do que nunca.

Cleo sabia que alguém tinha atacado seus guardas, entrado na biblioteca e saído sem deixar rastros.

Ela devia ter suspeitado de Isla imediatamente. Desde aquele primeiro jantar, Cleo esteve de olho nela. A descri??o física que os guardas atacados iriam fornecer apenas confirmaria suas suspeitas.

Cleo n?o tinha provas de que era ela. Mas sabia.

Tinha que saber.

A ferida na cabe?a de Isla havia se curado gra?as ao seu elixir Selvagem. O cabelo n?o estava mais branco e ela havia queimado sua roupa Lunar na lareira.

Ainda assim, Isla sentiu que a verdade sobre seu paradeiro três noites atrás estava escrita em seu corpo inteiro quando entrou no sal?o de chá.

Devia ter sido lindo no passado. Agora as inúmeras janelas em arcos gigantes estavam cobertas com tecidos grossos, como espelhos em uma casa velha. Como o quarto dela em casa. O teto, abobadado e feito de vidro, tinha sido pintado, impedindo a luz do sol de entrar.

A única luz vinha de centenas de esferas de fogo que flutuavam no alto, do mesmo tipo que as que o rei havia exibido em sua demonstra??o. Colunas de mármore se alinhavam na sala como os guardas fariam, se Oro os permitisse entrar. No entanto, o rei n?o precisava de guardas. Nem mesmo contra os governantes dos reinos. Ele era mais poderoso do que todos eles juntos.

Isla sentiu esse poder ecoando pela sala quando Oro entrou.

Cleo entrou em seguida, os olhos imediatamente fixos nos de Isla. Sua express?o n?o revelou nada.

Mas as palmas das m?os de Isla come?aram a suar. Ela se obrigou a sustentar o olhar da Lunar até que um servi?al a guiou para seu assento.

A governante Lunar sabia. Isla sentiu em seu amago.

Cleo era uma inimiga perigosa. Uma que estava montando um exército. Para quê? Algum dos outros governantes sabia que, com a legi?o e os supostos navios, os Lunares pareciam prontos para uma guerra?

Uma vez que todos os governantes estavam sentados, servi?ais do castelo come?aram a sair de um grande conjunto de portas, carregando bandejas reluzentes de porcelana. Eles circundaram a mesa uma vez, depois pararam de repente, os movimentos perfeitamente coreografados. Atrás de cada cadeira havia um Etéreo, um Lunar e um Estelar.

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