Isla passou o dia seguinte com o bra?o envolto em gelo. Ella tinha buscado um balde na cozinha e o enchia com frequência, sem fazer perguntas. As queimaduras ainda doíam, mas n?o tanto. Ela alternava a aplica??o do gelo com seus elixires Selvagens. Quanto mais rápido a pele cicatrizasse completamente, menos ela sentiria como se uma camada de si mesma tivesse sido arrancada.
Mais tarde, as dores persistentes — e talvez os pensamentos igualmente irritantes sobre o Umbra — a deixaram inquieta. Em vez de tentar encontrar o sono que n?o viria, ela vagou pelos corredores, em sua típica bisbilhotice.
Foi aí que ela notou a como??o em torno da ala do castelo que abrigava a arena. Eles estavam se preparando para uma demonstra??o. Dezenas de ilhéus ao redor, gritando ordens. Isla tentou chegar o mais perto possível para obter uma dica do que seria a prova. Mas tinha gente demais. E em pouco tempo seu bra?o voltou a queimar de dor, pedindo por gelo.
Seus esfor?os n?o foram infrutíferos, no entanto. A grande maioria daqueles vagando pelos corredores usava branco. Lunares.
Ela n?o deveria ter ficado surpresa quando Ella bateu à porta do quarto vinte e quatro horas depois, na calada da noite.
Sua pele ainda queimava, mas n?o como antes. Isla tinha se esfor?ado ao máximo para acelerar o processo de cicatriza??o depois de ver os sinais de um teste sendo organizado, dobrando a aplica??o das pomadas e tomando outros elixires via oral. Ainda assim, pensou que teria mais tempo. Apenas alguém t?o cruel quanto Cleo planejaria sua demonstra??o para a meia-noite.
— Um teste de desejo — declarou a governante Lunar, as m?os pressionadas em ora??o.
Ela estava no centro da arena, que havia sido transformada em um labirinto de vias navegáveis. Cada um dos governantes estava em um dos pontos do perímetro. Quando mergulhassem nas pistas, n?o poderiam mais ver uns aos outros, gra?as às paredes de gelo que compunham os limites do labirinto.
N?o houve aviso. Nem tempo para trocar de roupa. Foi assim que Isla acabou no globo de neve congelante em que o estádio havia se transformado vestindo nada além de uma regata e shorts minúsculos. Com certeza ia acabar congelando na água. Os demais governantes n?o estavam em suas capas típicas e vestidos elaborados, mas também n?o estavam em roupas de dormir. De alguma forma, tinham conseguido vestir roupas que funcionariam bem na água. Algo em seus poderes permitia que fizessem isso? Ou haviam insistido no tempo para se trocarem, enquanto Isla seguia Ella às cegas pelo castelo?
— Um verdadeiro governante deve negar os desejos egoístas de seu cora??o, pelo bem de seu reino. Você será guiado pelo labirinto pelo seu próprio cora??o. Isso te levará ao que mais deseja. O vencedor, porém, será decidido n?o por seu desejo, mas por quem for capaz de alcan?á-lo primeiro. Pois, pior do que desejar algo acima do bem de seu reino, é n?o ter certeza do que se quer.
O rei estava a poucos metros de distancia de Isla, olhando para a água como se ela o tivesse ofendido. Ele n?o estava vestindo pijamas delicados. Usava cal?as douradas e uma camisa, com mangas que havia cuidadosamente dobrado até os pulsos.
Uma parte da pele da sua m?o estava levemente inchada, uma urticária se formando.
— Raiz de gisel, é bem desagradável — ela disse baixinho, quase para si mesma.
Ele ficou tenso. Olhou para ela como se notasse pela primeira vez que Isla estava ao lado dele.
— Você sabe o que é isso?
Ela deu de ombros.
— é claro. Folha com cinco pontas? Manchas verdes? Bot?es amarelos?
Oro assentiu lentamente.
— Raiz de gisel. Venenoso. Causa urticária e pesadelos.
Ele piscou para ela, confuso.
— Tudo bem, os pesadelos podem ter sido apenas uma tática das minhas tutoras para me manter longe. — Raiz de gisel crescia na floresta do lado de fora das vidra?as soltas de sua janela. Depois que Poppy e Terra as selaram, avisaram Isla sobre a planta, caso ela encontrasse outro jeito de sair do quarto. — é melhor tratar isso com um elixir de leite, extrato de tomate, mel, casca de salgueiro, cinzas em pasta e amoras esmagadas.
Os lábios de Oro se apertaram antes que ele dissesse:
— Obrigado.
Como se fosse muito difícil.
Ela estreitou os olhos.
— Raiz de gisel só cresce nas profundezas da floresta, onde as árvores ficam bem perto umas das outras. Pelos reinos, o que você estava fazendo em um lugar como esse?
Seu tom dizia: Você n?o sabe como isso é perigoso?
Oro a encarou com um olhar estranho. Isla retribuiu.
Sem aviso, um sino soou.
E Isla foi for?ada a pular em sua raia.
A água era como mil agulhas perfurando sua pele. A princípio, o frio foi quase bem-vindo em seu bra?o machucado. Mas rapidamente se agu?ou, tornando-se demais, fazendo doer. Ela ficou imediatamente ofegante, o peito um bloco de gelo, as pontas dos dedos das m?os e dos pés já dormentes.
Centenas de ilhéus a cumprimentaram acima, gritando, saboreando sua fraqueza, zombando dela, torcendo por seus governantes.
Continue, uma voz em sua cabe?a disse, embora seu corpo gritasse para que saísse da água. Ela com certeza estava em desvantagem, vindo de um lugar como o reino Selvagem, que nunca viu um inverno.
Mas tinha sido testada nos elementos antes.
Terra sabia que alguns dos testes poderiam envolver condi??es climáticas adversas. Quando Isla tinha dezessete anos, foi deixada com os olhos vendados no meio da floresta, durante um furac?o.
No momento em que ela rasgou o tecido dos olhos, suas tutoras estavam muito longe. As árvores eram dobradas em formas grotescas pelo vento, sujeira e folhas grudavam em sua pele, e insetos já tinham come?ado a picar seus tornozelos.
As florestas eram mortais para aqueles que n?o podiam controlá-las. Por isso a escolha do rei de se aventurar nelas era t?o surpreendente.
Isla levou três dias para chegar em casa. Naquela época, bebeu água suja e sentou-se tremendo sob um dossel feito às pressas com folhas de palmeira, a febre como um sino em sua cabe?a, tocando sem parar. Sabendo que ia morrer se ficasse, se obrigou a andar, lembrando-se de suas aulas de sobrevivência. Ca?ava comida com arcos e flechas feitos à m?o, usando a adaga que sempre mantinha amarrada à coxa.
Em meio à neblina, cortou os dedos, e o sangue manchou suas armas, atraindo ainda mais insetos, que se deleitavam em sua carne como se ela já estivesse morta.
Quando desmaiou do lado de fora do castelo dos Selvagens, Isla estava t?o doente que os melhores curandeiros levaram semanas para deixá-la saudável novamente.
Eu poderia ter morrido foram as primeiras palavras que saíram de sua boca quando conseguiu voltar a falar.
Terra apenas sorriu. A única maneira de n?o temer a morte é conhecendo-a.
Isla sabia como era morrer. E n?o era isso. Ent?o continuou, avan?ando apesar das agulhas que a atravessavam até os ossos, o corpo inteiro tomado pelo frio.
à frente, havia uma bifurca??o no labirinto. Isla se perguntou qual caminho tomar quando sentiu um leve pux?o em uma dire??o.
Depois, um pux?o em outra.
Ela parou, inclinando a cabe?a para respirar fundo.
Uma dire??o era como voltar para casa. Poppy e Terra. Seu povo.
A outra parecia mais.
Ela n?o conseguia entender o que isso significava, mas os sentimentos eram poderosos. Intoxicantes. Espantosos.