Lightlark (Lightlark, #1)

As palavras de Cleo ressoaram em sua mente. Seu cora??o deveria guiá-la. Por que estava t?o indeciso?

O tempo congelou enquanto ela nadava.

Passaram-se alguns segundos?

Ou minutos?

Ou mais?

Pare com isso, uma voz ressoou em sua mente.

Ela queria liberdade, isso era certo.

Mas isso era realmente tudo o que queria?

Um apito soou em algum lugar, tirando-a de seus pensamentos. O primeiro governante havia chegado ao fim do labirinto.

Isla estava muito atrás. Era hora de fazer uma escolha.

De seguir seu cora??o.

Ela escolheu uma dire??o e nadou, revigorada, o peito cheio de gelo, nuvens brancas saindo da boca cada vez que ela engolia ar.

Seu cabelo havia se repartido em mechas grossas e congeladas; as roupas n?o ajudavam a mantê-la aquecida. A pele estava muito dura, os músculos lutando para flexionar na temperatura implacável da água.

Só mais um pouco, ela implorou ao corpo, sabendo que já tinha passado por coisas piores. Havia treinado para isso.

Seus pulm?es come?aram a se fechar primeiro, engasgando com a água que de alguma forma havia entrado em sua boca.

Outra curva.

O labirinto parecia estar se fechando ao redor dela; cada vez que ela subia para respirar, a multid?o ficava mais indistinta. Seus aplausos, mais distantes.

Ela ainda estava se movendo? N?o conseguia mais sentir os bra?os.

Tudo ficou mais frio. Seus pulm?es vacilaram.

Os olhos lutavam para se abrirem de novo, e tudo o que ela via era luz, cada vez mais distante.

Ela estava afundando.

Se uma demonstra??o a matasse, ela se perguntava se parte da profecia seria cumprida. Talvez a governante Lunar tivesse escolhido esta prova sabendo que talvez um dos governantes mais fracos morresse sem que ela tivesse que quebrar regra alguma. Se fosse o caso, pelo menos Celeste viveria.

Mas seu povo n?o.

Terra e Poppy n?o.

Isso n?o era a morte. Essa morte era muito tranquila. Muito parecida com pegar no sono.

Ela queria tudo o que a vida tinha para oferecer. A longa vida de um governante com poderes, explorando toda a ilha de Lightlark, uma vida inteira de amizade com Celeste, talvez até... amor. Algo pelo qual ela havia julgado os outros. Incluindo a própria m?e. Algo que ela sempre tinha visto como imprudente. Ela queria, queria tanto as coisas egoístas, além de apenas salvar seu reino e quebrar as maldi??es...

Lentamente, seus dedos abriram dos punhos. Um gemido escapou do fundo da garganta, e Isla lutou contra a vontade de manter os olhos fechados, for?ando seus membros a voltar à vida.

Ela cortou a água congelante como se fosse a única coisa que a impedia de alcan?ar tudo que guardava no cora??o.

Sua vis?o ia e vinha, mas ela sentiu o fim do labirinto. Agarrou a placa de gelo brilhante e se arrastou para fora da água com toda a for?a que ainda lhe restava.

Isla n?o viu o que estava escrito na placa, n?o ouviu a multid?o. Tudo o que sentiu foi algo quente cobrindo seu corpo. Ella. A Estelar colocou uma toalha em suas costas.

Estava tremendo, sua vis?o indo e vindo.

— Por favor, leve-me ao meu quarto — ela conseguiu pedir.

Isla devia a Ella muito mais do que creme para dor, pensou enquanto sua criada a conduzia rapidamente para fora da arena, usando os aplausos da multid?o e a coroa??o de Cleo como vencedora como cobertura. A Lunar obviamente tinha escolhido aquele teste para mostrar sua superioridade.

Ela estaria mais preocupada com o fato de que Cleo agora estava empatada com o rei — talvez próxima de escolher as duplas —, se n?o se sentisse t?o fraca.

A criada era pequena, mas tinha mais for?a do que aparentava, segurando Isla enquanto elas seguiam lentamente pelo castelo vazio. A água fazia po?as sem fim por onde elas passavam. O resto estava congelado. Seus pulm?es doíam, dois baldes de gelo no peito.

— Vou preparar um banho — disse Ella quando finalmente chegaram ao quarto. — E buscar chá.

Ela saiu correndo do quarto.

Isla perdeu a consciência algumas vezes. Seu corpo tinha ficado dormente.

Sua cabe?a estava cansada da prova.

Ela precisava encontrar o desvinculador.

Por muito tempo, seus desejos haviam sido negados. Reprimidos. Os avisos das tutoras estavam sempre em sua mente, dizendo que sua vida n?o pertencia só a ela, ensinando que querer qualquer coisa além de salvar seu reino era egoísmo.

Agora, Isla n?o podia mais mentir para si mesma.

Ela queria muitas, muitas coisas.

E estava disposta a fazer coisas terríveis para consegui-las.

N?o só para si. Seus desejos a fizeram entender seu povo mais que nunca. Eles mereciam ter o que queriam. Assim como o povo de Celeste, incluindo Ella.

Eu prometo, talvez tenha dito em voz alta, ou talvez as palavras nunca tenham alcan?ado os lábios. Ella a ajudou a tomar banho, e a água quente escaldou sua pele congelada, fazendo-a gritar, atordoada demais para esconder a dor. Eu vou encontrar o desvinculador. Vou quebrar as maldi??es.

Mesmo que isso signifique me quebrar.





CAPíTULO DEZOITO


CASTELO





Isla acordou sentindo-se à beira da morte. Havia um frio implacável no centro de seu peito. O dia todo, ficou na cama, bebendo caldos. Ella cuidou que o fogo n?o se apagasse. Continuava trazendo chá. Preparando banhos quentes. à noite, Isla se sentia apenas ligeiramente melhor.

Celeste arriscou uma visita, trazendo uma receita especial de sopa típica que ela conseguiu na Ilha da Estrela.

— Eu vou no seu lugar — disse Celeste assim que a viu.

E Isla soube que também devia estar parecendo à beira da morte. Um gemido escapou quando fez for?a para sair da cama. Balan?ou a cabe?a.

Era o vigésimo dia do Centenário. Hoje era a lua cheia. Sua única chance de entrar escondida na Ilha da Lua.

— Sem ofensas, Cel — ela disse —, mas você n?o sabe se mover como eu.

A amiga suspirou.

— é verdade. Mas...

Isla balan?ou a cabe?a novamente, interrompendo a Estelar.

— Se você for pega, acabou. N?o podemos arriscar.

Celeste franziu a testa.

— Podemos arriscar você? — ela perguntou incisivamente.

Isla fez um gesto despreocupado, dispensando as dúvidas da amiga. Alongou o corpo enquanto preparava a tintura de cabelo novamente.

— Estou bem — mentiu. Celeste sabia que era mentira.

Mas ela também sabia t?o bem quanto Isla que n?o tinham outra escolha.

Tudo o que ela queria estava em sua mente enquanto ela tentava ignorar a dor no bra?o, o frio a cada respira??o, a necessidade de descanso.

Nada disso tinha importancia comparado à necessidade de encontrar o desvinculador.

Juniper podia ser o dono de bar mais ou menos confiável da ilha, Isla ainda n?o tinha certeza. Mas sua informa??o estava correta.

N?o havia guardas na ponte naquela noite.

A maldi??o Lunar significava que, a cada lua cheia, o mar procurava sangue Lunar. Navios eram quebrados ao meio por ondas de trinta metros; garotas eram jogadas de penhascos por marés monstruosas. O mar os engolia, depois se aquietava.

Naquela noite, estava voraz.

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