Lightlark (Lightlark, #1)

— Vou admitir — disse ele, um sorriso perverso puxando o canto da boca, dando um passo na dire??o de Isla. — N?o foi assim que imaginei que você gostaria de passar nosso tempo juntos em seus aposentos.

Ela fez uma careta e o encarou. Nenhum dos dois queria discutir. Ambos confrontados pelas emo??es em ebuli??o que, ela sabia, ele também sentia.

Grim estava tentando distraí-la.

— Você fez chacota da minha demonstra??o, dem?nio — ela retrucou, para n?o esquecer o motivo de sua raiva. — Eu te falei sobre o teste. Te dei tempo para se preparar.

A dor inexplicável deve ter aparecido em sua express?o, porque os olhos de Grim ficaram mais suaves.

— Devoradora de Cora??es — disse ele, a voz surpreendentemente gentil. — Pensei que você já tinha entendido, mas vou deixar claro. N?o tenho interesse em ganhar o Centenário. Ou em formar alian?as. Ou em entrar nesse jogo.

Houve silêncio enquanto as palavras dele invadiam sua mente.

Grim poderia estar mentindo.

Mas Isla sempre se importou mais com a??es do que com palavras. Elas refletiam motiva??es com muito mais precis?o. E as palavras de Grim combinavam com seus atos. Ele n?o havia tentado se aliar a outros governantes. N?o tinha levado nenhuma das demonstra??es a sério.

Ela sentiu seu rosto se contorcer em confus?o.

— Ent?o por que está aqui? — questionou, finalmente expressando a única dúvida que tinha sobre ele. Aquela que martelava repetidamente em sua cabe?a toda vez que ele se aproximava. Toda vez que ela desejava uma aproxima??o. O Umbra n?o respondeu, ent?o Isla deu um passo na sua dire??o, preenchendo o espa?o entre os dois. Todo mundo queria alguma coisa. Todos tinham interesses. Ela estava tentando e falhando em descobrir os dele desde o início do Centenário. Seu olhar fixou-se no de Grim, exigindo uma resposta. — O que você quer?

Ele a encarou, e ela poderia jurar que uma express?o triste surgiu. Mas, um momento depois, o sorriso perverso estava de volta.

— Acho que deixei claro o que quero — disse ele, passando um dedo pelo bra?o que havia sido queimado.

Isla se preparou para a dor, mas ela nunca veio. Era como se, de alguma forma, ele a estivesse mascarando. A pele de Grim estava fria ao toque. Suave. Gelo contra o ardor.

Ainda assim, ela se afastou.

— Você n?o veio ao Centenário por minha causa — ela disse, recusando-se a permitir que Grim se safasse com a falta de resposta.

— N?o — ele disse, apenas. — N?o vim.

— Ent?o por quê?

Ele franziu a testa.

— Você sabe como Lightlark foi criada, Devoradora de Cora??es?

As m?os de Isla se fecharam em punhos. Ela só podia imaginar que ele estava evitando sua pergunta, mas preferia que Grim continuasse falando em vez de simplesmente desaparecer, ent?o deixou. Talvez conseguisse informa??es úteis mesmo assim.

— Foi criada pelo ancestral de Oro, o primeiro Original, Horus Rey.

— Isso é mentira. A ilha foi criada por duas pessoas. N?o apenas Horus, mas também Cronan Malvere.

Isla franziu a testa.

— Meu ancestral — completou ele.

Isla só tinha aprendido que Horus Rey formara Lightlark sozinho, milhares de anos antes. Os Umbras nem eram bem-vindos na ilha, nem mesmo tinham uma ilha para si.

— Lightlark ficou mais poderosa do que qualquer um dos fundadores poderia ter antecipado. Isso tornou os dois homens gananciosos. Virou amigo contra amigo. Terminou em um duelo, e quando Cronan perdeu, toda Umbra fugiu para formar sua própria terra, uma n?o t?o forte quanto Lightlark.

Seus olhos escuros encontraram os de Isla. E, mesmo que quisesse, ela n?o conseguia desviar o olhar.

— O poder de Umbra construiu este lugar tanto quanto o dos Solares. Meu pai acreditava que era hora de recuperarmos o controle de uma terra que também era nossa.

Tinha sido essa a raz?o para a guerra entre Umbra e Lightlark.

N?o era surpresa, ent?o, que Grim n?o tivesse sido convidado para nenhum dos Centenários anteriores. Isla se perguntou como Oro poderia hospedar a pessoa que havia invadido sua casa e matado seus parentes. O rei devia estar realmente desesperado para acabar com as maldi??es.

Por quê? O que ele estava escondendo?

— E o que você acha? — Isla perguntou, a voz pouco mais que um sussurro e ainda assim parecendo muito alta.

Grim trincou os dentes.

— Eu disse ao meu pai para assinar o tratado. Tínhamos perdido muita gente. Estávamos prestes a perder tudo se n?o concordássemos com a paz. Como parte do acordo, fui enviado para viver em Lightlark. Um lembrete de que, se os Umbras saíssem da linha, poderiam matar o único herdeiro do reino. Passei vinte anos aqui, até...

Até. Ele n?o completou, mas Isla conhecia bem a próxima parte.

Até que as maldi??es foram lan?adas, e todos os governantes do reino morreram em sacrifício durante uma noite terrível. Até que o poder foi transferido para os herdeiros pela última vez. Até que os novos governantes e a maioria de seus súditos fugiram da ilha e da tempestade que se aproximava, prestes a engoli-la.

Isla temia sua próxima pergunta. Mas tinha que ser feita.

— Grim, você lan?ou as maldi??es?

Ele olhou para ela, realmente olhou para ela.

— Se eu tivesse feito isso, você falaria comigo novamente?

Ela recuou, tensa. Suas narinas se dilataram. A resposta dela foi imediata:

— N?o. As maldi??es mataram incontáveis pessoas do meu povo. Nos transformaram em monstros. — Sua voz engrossou. — é por causa delas que meus pais est?o mortos.

Algo parecido com tristeza surgiu nos olhos de Grim.

— As maldi??es mataram minha família também. — Ele baixou a cabe?a, mas n?o parou de olhar para ela. — N?o, Isla, eu n?o lancei essas maldi??es.

Ela sabia que era tolice acreditar em qualquer um dos outros governantes. Mas a dor de Grim era real, como a dela.

— Ent?o por que está aqui? — ela exigiu saber. — Para se vingar? Para tentar invadir Lightlark novamente? — Outro pensamento se formou em sua mente, e ela empalideceu. — Para garantir que as maldi??es n?o sejam quebradas?

Grim ergueu uma sobrancelha.

— Por que você está aqui, Devoradora de Cora??es? O que está procurando?

Seu corpo ficou imóvel. Mentiras encheram sua boca, prontas para serem ditas, mas Grim sorriu. Ele tinha sentido seu nervosismo. Sua hesita??o. Ele saberia que ela n?o dizia a verdade.

Isla n?o desviou o olhar, mas permaneceu calada.

Umbra apenas balan?ou a cabe?a.

— Sabe — disse ele, percorrendo o caminho em dire??o à parede pela qual tinha chegado —, você faz perguntas demais, Devoradora de Cora??es. — Ele a analisou da cabe?a aos pés antes de franzir a testa para o bra?o machucado de Isla, como se pudesse sentir a dor que ainda causava. — Para alguém com tantos segredos.





CAPíTULO DEZESSETE


CONGELADOS





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