Grim a encarou.
— Decidiu mudar de reino, Devoradora de Cora??es? — ele perguntou, estendendo a m?o e segurando uma mecha do cabelo tingido. — Se é esse o caso, devia considerar Umbra. Nós n?o podemos competir com os Etéreos quando se trata de doces ou bebidas criativas, mas se libertinagem é o que você procura... — Seu olhar sombrio brilhou, se divertindo com a situa??o. — Somos mais famosos por explorarmos o prazer minuciosamente.
O que ele estava insinuando? Suas m?os ainda estavam na cintura dela, seus dedos longos percorrendo as costelas de Isla. Ela inspirou, trêmula.
Ent?o o empurrou, de cara fechada.
— N?o estou interessada.
Mas Grim apenas sorriu enquanto dava um passo para trás.
é claro. O dem?nio podia sentir suas emo??es, o calor se acumulando em seu ventre enquanto ela pensava em seu toque surpreendentemente gentil, na forma como seus lábios se curvavam enquanto ele falava a palavra prazer...
N?o. O que havia de errado com ela? Isla sempre julgou os Selvagens imprudentes quando come?avam a ter sentimentos por alguém. Arriscava o relacionamento terminar em morte.
As a??es de Isla colocavam todo o seu reino em risco.
Ela queria liberdade. Queria quebrar as maldi??es dela e de seu povo. Era isso.
Isso era tudo.
— Obrigada — completou simplesmente.
Ent?o saiu correndo do sal?o o mais rápido que p?de.
CAPíTULO CATORZE
AZUL
O convite de Isla chegou na manh? seguinte. Sua demonstra??o era a próxima.
Durante toda a noite, o Umbra tinha assombrado seus sonhos. O breve encontro dos dois a tinha afetado mais do que queria admitir.
Grim tinha tornado Isla invisível apenas porque ela pediu. Ele n?o tinha motivo para ajudá-la. Se n?o fosse por ele, Cleo teria descoberto sua artimanha, e todos os planos teriam sido arruinados em uma noite desastrosa.
Ela sabia que iria se arrepender disso. Se Celeste descobrisse, repensaria seriamente sua amizade.
Era tolice, um perigo, mas Isla partiu em busca de Grim.
Ela já conhecia os hábitos de todos os governantes por ter bisbilhotado com regularidade durante os últimos dezesseis dias. Azul estava sempre com seu povo e passava uma quantidade surpreendente de tempo caminhando ao longo do litoral. Cléo estava sempre cercada por nobres que parecia manter ao alcance da m?o e visitava sua ilha muito mais do que os outros governantes. Oro saía do castelo quase todos as noites, mas Isla ainda n?o havia reunido coragem para segui-lo.
Os movimentos de Grim eram uma incógnita, já que ele ficava invisível com frequência, viajando de um lugar para outro sem ser notado. Algumas vezes, porém, ela o pegou entrando em um bar no mercado no meio da tarde. Foi para lá que ela se dirigiu.
Ela estava quase na pra?a quando escutou seu nome.
Isla se virou e encontrou outro governante ali.
Azul.
Isla se assustou. Será que ele sabia que ela havia visitado sua ilha na noite anterior? Alguém tinha percebido sua presen?a?
Grim teria dito a ele? Eles n?o pareciam ser amigos, mas alian?as eram fáceis de esconder durante o Centenário. Isla e Celeste eram a prova disso.
Se n?o estivesse distraída, o teria ouvido se aproximar. N?o teria se assustado com a voz dele.
Isla abriu um sorriso bem ensaiado.
— Que surpresa agradável — disse, soando de tal forma genuína que se perguntou quando tinha se tornado uma mentirosa t?o boa.
— Digo o mesmo — ele falou, copiando a express?o dela. — O que te traz a esta parte do Continente, governante?
Isla fez o possível para n?o deixar sua voz tremer tanto quanto suas m?os. Ela torceu os dedos atrás das costas.
— O castelo estava ficando um pouco entediante. Pensei em dar um passeio por aí.
O sorriso de Azul cresceu, mas n?o alcan?ou seus olhos. Eles permaneceram frios como as pedras preciosas que acumulava. Era possível que Isla n?o tivesse sido t?o discreta na Ilha do Céu como pensava?
Ou talvez ele estivesse apenas sendo cauteloso. E por que n?o seria? Ela também desconfiava dele.
— Se é o Continente que você gostaria de ver... permita-me levá-la para uma de suas maiores maravilhas.
Ela n?o queria ir a lugar nenhum com um governante que podia ou n?o saber que ela havia se disfar?ado como alguém de seu povo na noite anterior. Aquele encontro fortuito era coincidência demais.
Ele devia saber.
Mas recusar sua oferta o deixaria ainda mais desconfiado.
— Que generoso de sua parte.
Os dois partiram em dire??o à serra que contornava o Continente. A rocha era marrom e vermelha em alguns lugares, marmorizada em outros.
— Está gostando da ilha? — ele perguntou gentilmente, como se o Centenário fosse uma espécie de férias, e n?o a única chance que Isla tinha de sobreviver.
Claro, ele n?o poderia saber disso. Um governante Selvagem deveria ser quase imortal.
— Ela tem seus encantos... embora eu ainda tenha muito a explorar.
Ela havia aprendido que era melhor deixar os outros falarem quando ela mesma tinha muito a esconder. A maioria das pessoas gostava de falar sobre si mesma, de qualquer maneira.
— E como está sendo seu quinto Centenário?
Ele riu sem humor. Algo naquela risada era estranho, pensou Isla. Um amargor, talvez.
— Está sendo... interessante. — Ele contraiu os lábios. — O primeiro Centenário, tenho certeza de que você já ouviu falar, foi um pesadelo. Quase pior do que a guerra... Com o segundo vieram as regras e alguma ordem. Tínhamos planos. Estratégias. Mas nada de alian?as. Ninguém confiava em ninguém, entende, depois do que aconteceu no primeiro. E era por um bom motivo.
Sua voz falhou, e Isla viu algo brilhar em seus olhos.
Seria dor?
— O terceiro foi melhor. Foi a primeira vez que nos dividimos em equipes. Acreditávamos que estávamos muito perto de quebrar as maldi??es, de descobrir todas as partes da profecia. Erramos, é claro. Na quarta, parecia que a maioria havia perdido a esperan?a. Cleo nem compareceu... Você sabia disso?
Isla assentiu, embora definitivamente n?o soubesse.
Qualquer governante que n?o comparecesse n?o era elegível para o grande prêmio e sua maldi??o n?o seria quebrada com a do restante, caso alguém encontrasse uma solu??o. Por que Cleo faria algo assim?
Mas, mais importante, por que ela voltou?
O medo dan?ou em seus ossos, e Isla teve a sensa??o de que havia algo que todos os outros sabiam e ela, n?o.
— Mesmo sem ela, nós realmente achamos que poderíamos conseguir. — Ele balan?ou a cabe?a. — As maldi??es destruíram tanta coisa. Mas uma das piores consequências foi separar ainda mais nossos reinos. Antes estávamos muito próximos de uma unifica??o.
Isla sabia disso por causa das aulas de história de Poppy. Ela estava contente em conversar sobre qualquer coisa que n?o envolvesse ela entrando furtivamente na biblioteca da Ilha do Céu.