A Estelar tirou um par de luvas do bolso. Eram t?o finas que pareciam translúcidas. Isla quase vomitou. Ela havia conseguido. Tinha completado sua parte do plano.
Isla abriu a boca, pronta para perguntar se Celeste tinha realmente conseguido encontrar um par de luvas em um mercado clandestino em algum lugar em Lightlark. A alternativa...
Celeste lhe lan?ou um olhar que a fez hesitar.
Franzindo a testa, Celeste vestiu lentamente as novas luvas. O som delas era como de papel e couro, enrugando enquanto deslizavam pela pele. Isla estremeceu. Depois de vestir as pe?as, a Estelar encostou com cuidado em cada marca de m?o, deixando as marcas penetrarem nas luvas. Elas absorviam a energia que o espelho encantado Estelar havia tirado de todos os governantes, para ser usada mais tarde. Era uma quantia irrelevante. N?o o suficiente para ser usada em batalha ou fazer qualquer exibi??o significativa.
Mas toda biblioteca em Lightlark tinha uma se??o restrita, um lar para as relíquias mais valiosas de cada reino. Cada uma delas era protegida por encantamentos que só permitiam a entrada de um governante e sua essência.
Usando essas luvas, Isla teria acesso a elas.
Agora, tinha tudo o que precisava para come?ar a procurar pelo desvinculador.
CAPíTULO TREZE
TORRE
Na noite seguinte, Celeste olhou para os materiais ao redor e franziu a testa.
— Isso é mesmo tudo?
— Sim.
Ou, pelo menos, era o que Isla achava que precisava para fazer o elixir.
Era o décimo quinto dia do Centenário. Estava ansiosa e queria procurar pelo desvinculador na próxima biblioteca o mais rápido possível. N?o estava na Ilha da Estrela, mas talvez elas tivessem sorte e o encontrariam na cole??o da Ilha do Céu. Se n?o, teriam que esperar até a lua cheia para uma visita à Ilha da Lua. E Isla ainda n?o tinha um plano para entrar despercebida na Ilha do Sol.
Ela tentou permanecer otimista. Poderia muito bem encontrar o desvinculador naquela noite. E ent?o poderiam usá-lo, e ambas as suas linhagens ficariam livres de todas as maldi??es. Isla receberia os poderes que lhe foram negados, os Selvagens n?o teriam mais que matar as pessoas que amavam ou consumir cora??es. Celeste e todos os Estelares viveriam além do vigésimo quinto aniversário.
O desvinculador era a chave para a liberdade das duas. Agora estavam contando com algumas poucas instru??es de tintura de cabelo para conseguir obtê-lo.
Isla segurou o peda?o de pergaminho rasgado entre elas. Ela n?o podia ter pedido a ajuda de Poppy com aquele plano alternativo, ent?o rasgou uma página de um dos livros da tutora, roubou alguns ingredientes e torceu para aquilo funcionar.
Ela leu a lista uma última vez.
— água de rosas.
Certo. Ela havia roubado um frasco da penteadeira de Poppy.
— Extrato de folha de freixo.
Ela só tinha conseguido encontrar uma folha de freixo durante uma expedi??o de última hora na floresta e esperava que fosse suficiente.
— Solo de tulipa transmutável.
Certo. Tinha roubado um pouco da cole??o de Poppy. A flor encantada só crescia na costa da nova terra Selvagem, onde sua tataravó havia plantado, direto do solo da ilha. Muitas das flores de Lightlark tinham sido transplantadas para lá depois dos acontecimentos causados pelas maldi??es, em uma tentativa de criar algum tipo de ecossistema como o da ilha.
E, desde que Isla nasceu, muitas delas já tinham morrido.
Ela virou uma parte da terra da bolsinha na panela de água que pediu para Ella, supostamente para o chá.
Por fim, precisava de um pouco da cor que queria que seu cabelo ficasse. Embora o cabelo de Azul fosse escuro, muitos Etéreos tinham cabelo da cor de seu reino. Talvez fosse moda, ou uma forma de homenagear sua fonte de poder, ou talvez fosse natural, como a cor prata do cabelo de Celeste. Ela n?o sabia.
Tudo o que sabia era que precisava passar despercebida, e aquela cor seria a mais discreta.
A receita pedia uma pétala de flor com o tom escolhido, mas n?o havia nenhuma assim no reino Selvagem. Como substituto, ela rasgara cuidadosamente a parte inferior da bainha de seu vestido roubado e jogara o tecido na po??o.
Ela borbulhou um pouco e engrossou. Isla e Celeste assistiram enquanto o líquido se transformava em uma pasta.
A Estelar espiou o pote com cuidado.
— Era para ficar assim?
— N?o sei — Isla murmurou.
Os nervos se agitaram em seu est?mago. Ela n?o estava apenas entrando escondida na ilha de outro governante; estava imitando alguém de outro reino. Nenhuma das regras do Centenário proibia isso, mas ainda assim era perigoso.
Ninguém poderia reconhecê-la. Isso colocaria ela e seus planos em perigo imediatamente.
A tinta encantada tinha que funcionar.
— Esfriou — disse Celeste, mergulhando um dedo enluvado na mistura.
Elas levaram a tigela para o banheiro, e Isla se sentou na beirada da banheira enquanto a amiga cobria seus longos cabelos castanhos com a pasta azul-clara.
Celeste trabalhou em silêncio, com dedos cuidadosos, esfregando o couro cabeludo e, em seguida, espalhando a pasta até as pontas.
— Como ficou? — Isla finalmente perguntou depois que a maior parte de seu cabelo parecia estar coberta.
Celeste n?o disse nada.
Ela se virou para olhar a express?o da amiga.
E encontrou um sorriso se formando nos cantos de seus lábios.
— O quê?
Ela enfim soltou uma risada.
— é... é que você está diferente — ela disse. — Mas está bom. A cor ficou quase igual.
— Quase?
Celeste ignorou a preocupa??o na voz de Isla.
— Ninguém vai notar sob o luar — garantiu. — E ninguém vai estar na biblioteca t?o tarde...
Isla gemeu. Tantas desculpas, tantas coisas fora de seu controle que precisavam dar certo…
A mistura era encantada, gra?as ao solo da tulipa transmutável. Sem ela, a cor n?o teria pegado t?o rápido ou de forma eficaz nos fios escuros. Ainda assim, o azul duraria apenas algumas horas.
Sua amiga tirou as luvas manchadas e segurou a m?o dela com for?a.
— Vai funcionar. Você faz isso o tempo todo.
Isla lhe lan?ou um olhar incrédulo.
— Eu entro escondida na ilha de outro reino o tempo todo?
— N?o. Mas você se infiltra nas terras novas de outros reinos o tempo todo. Vestindo roupas roubadas. Imitando o povo de outro governante. Com sua varinha estelar.
Isso lá era verdade. Mas dessa vez era diferente.
Ela estava no Centenário.
— Você se move como uma sombra — Celeste continuou. — Cria estratégias como um general. Consegue passar despercebida em qualquer lugar, eu já vi.
Sua amiga estava certa. Isla havia passado anos ganhando, de forma involuntária, as habilidades de que agora precisava para encontrar o desvinculador.
Isla lavou e penteou o cabelo, torcendo para que secasse antes de chegar ao seu destino.