Lightlark (Lightlark, #1)

— Certo — disse Isla, olhando para o reflexo, sentindo-se estranha em uma cor que nunca havia tido permiss?o para usar. — Até agora, já fui uma ladra e uma mentirosa. — Ela suspirou. — Hora de me tornar uma impostora.

Isla levou quarenta e cinco minutos para chegar à ponte da Ilha do Céu. No passado, Lightlark era uma só. Ent?o, milhares de anos atrás, foi separada em peda?os, para que cada reino pudesse ter a sua ilha. Todas estavam ligadas ao Continente por cordas e madeiras que n?o pareciam nada estáveis. O vento assobiava através dos grandes v?os entre cada placa de madeira. As cordas que as uniam estavam finas e gastas. A coisa toda balan?ava para a frente e para trás como um pêndulo. Isla olhou para baixo, vendo, a uns sessenta metros sob seus pés, a água se agitando como uma sopa pronta para fervê-la.

— N?o — ela disse apenas, a palavra escapando de seus lábios para a noite vazia.

Ela já tinha lido sobre essas pontes encantadas. Embora tradicionalmente fosse permitido a todos visitarem todas as ilhas, alguns reinos eram famosos por restringirem o acesso durante conflitos políticos. Se Azul ou o governo Etéreo com base em Lightlark decidissem que pessoas de fora do reino n?o tinham autoriza??o para passar, a ponte desabaria, derrubando Isla centenas de metros abaixo.

Era improvável, mas n?o impossível. Se ela caísse, ninguém ouviria seus gritos. Pior, mesmo se alguém escutasse, n?o sobraria nada dela para salvar.

Seu reino inteiro morreria em um instante, só porque ela era tola o suficiente para cair de uma ponte.

Era um risco muito grande.

Isla deu um passo para trás.

Esbarrando direto em alguém.

Ela se acalmou, for?ando-se a n?o gritar, ent?o se virou, as m?os estendidas em um pedido de desculpas.

Um homem Etéreo alto e sardento estava ali, olhos semicerrados, um grande copo de bebida na m?o.

— Atravessando? — ele perguntou alegremente, olhando para ela como se nada estivesse errado.

Ele n?o questionou o cabelo dela.

N?o olhou para suas roupas ou rosto com suspeita.

De repente seu olhar se estreitou, e Isla congelou, se perguntando se ele estava prestes a gritar para toda a Lightlark que Isla Crown, governante dos Selvagens, estava tentando entrar na Ilha do Céu.

Aí ela se lembrou de que ele estava olhando de forma esquisita para ela n?o por estar tentando decifrar sua identidade, mas porque Isla estava encarando-o boquiaberta por vários segundos sem responder.

— Sim, claro — ela conseguiu dizer, for?ando um sorriso.

Ele sorriu de volta. Seus olhos se voltaram para a ponte atrás dela, como se dissesse: E aí, vai atravessar ou n?o?

Agora ela n?o tinha escolha. Isla deu um passo, sentindo pelo menos um vislumbre de conforto já que, caso ela despencasse centenas de metros, alguém saberia seu destino imediatamente.

O pé encontrou uma placa firme.

Alívio tomou conta de suas pernas.

O restante do caminho foi instável e preenchido por pelo menos mais meia dúzia de sensa??es de embrulhar o est?mago, mas ela chegou ao outro lado inteira.

E, quando chegou, foi pega de surpresa pelo mundo em que havia entrado.

A Ilha do Céu era uma cidade flutuante. Peda?os gigantes de rocha pairavam no ar, conectados por pontes como contas em uma pulseira. Cachoeiras derramavam água de cadeias de montanhas levitantes, suas bases triangulares e raízes muito abaixo delas, quase alcan?ando o ch?o. No maior peda?o flutuante ficava um palácio com pináculos que se erguiam t?o alto nas nuvens que deviam arranhar o próprio céu.

A área abaixo da cidade flutuante era muito inferior. Isla sentiu-se como se caminhasse pelo fundo do mar, olhando maravilhada para a superfície. Poppy tinha ensinado a ela que os Etéreos já tinham sido capazes de voar… até que a maldi??o os prendeu para sempre ao ch?o.

A única pessoa que ainda conseguia voar era Oro. Por ser um Original, ele tinha todos os poderes dos reinos Lightlark, mas n?o suas maldi??es. Apenas as dos Solares o afetavam, uma vez que sua família havia reivindicado o reino como deles muito tempo antes.

A segunda cidade, construída abaixo da primeira, cobria cada centímetro de uma montanha. No seu cume erguia-se uma torre alta o suficiente para alcan?ar a base da rocha flutuante mais próxima. Isla perguntou-se se era assim que se entrava na cidade voadora, e quem tinha permiss?o de fazer isso. Na base da montanha ficava um mercado que cheirava a hortel? e cerveja.

Principalmente cerveja.

Alguém saiu trope?ando do bar mais adiante na rua, o rosto corado, por pouco n?o caindo em uma po?a de v?mito.

Os Etéreos eram conhecidos pela sua natureza expansiva. Isla queria em parte correr para o bar mais próximo e tomar sua primeira bebida, já que sabia que o álcool dava coragem às pessoas.

Mas n?o podia arriscar a distra??o ou um efeito adverso. N?o naquela noite.

Celeste tinha descoberto a localiza??o da biblioteca através do seu criado, um menino Etéreo de pele clara e voz t?o suave que era até difícil ouvi-lo. Aparentemente, o prédio costumava ficar no alto, mas tinha sido realocado em uma torre no mais novo castelo da Ilha do Céu, aos pés da grande montanha.

Isla havia considerado qual seria a melhor forma de entrar despercebida no palácio, mas aparentemente os Etéreos n?o eram t?o pretensiosos ou paranoicos quanto os outros reinos. As portas do castelo estavam abertas, acolhendo todo o povo, dos nobres aos ilhéus. N?o havia guardas.

T?o tarde da noite, havia apenas alguns visitantes circulando pelos sal?es. Um casal, caminhando de m?os dadas, compartilhava uma bebida espumante. Um grupo de adolescentes jogava bola usando apenas os poderes para conduzir o vento. As pessoas do reino n?o eram diferentes de seu líder. Alegres. Felizes.

Era um pouco angustiante, mais de duas semanas do início do Centenário. Eles n?o estavam ansiosos? Sabiam de algo que ela n?o sabia? Será que Azul tinha um plano para o Centenário que compartilhou com seu povo?

Isla virou-se para o lado leste do palácio e observou com aten??o. Estava surpreendentemente bem conservado, considerando que era a casa de um governante que só aparecia durante alguns meses a cada século. Tinha apenas uma fra??o do tamanho do castelo no Continente e era pintado de azul-claro, como um ovo de pássaro gigante. Seus tetos foram projetados para lembrar o céu enorme e infinito, e eram extraordinariamente altos. Vento assobiava pelos corredores e por várias janelas abertas.

Livre. Arejado. Leve.

N?o foi difícil encontrar a torre. Era uma entre poucas, com portas de vidro destrancadas, que revelavam seu interior.

Livros. Andares em círculo repletos deles, dando voltas e voltas, em uma espiral que conduzia a uma claraboia arredondada. O lugar estava completamente vazio. Celeste estava certa, ninguém parecia interessado em ler a uma hora daquelas.

Agora Isla só precisava encontrar a se??o restrita.

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