Lightlark (Lightlark, #1)

As paredes estavam cobertas de pinturas e retratos de líderes Solares.

Ela viu o que só podia ser o antecessor de Oro, seu irm?o, o rei Egan. Ele governou por séculos antes de se sacrificar na noite das maldi??es. Isla reconheceu o mesmo cabelo dourado, as sobrancelhas com o mesmo desenho.

O rei Egan, no entanto, tinha olhos vívidos, um vislumbre de alegria.

Diferente do irm?o.

Isla se perguntava se Oro sempre tinha sido desse jeito... ou se quinhentos anos de maldi??es tinham cobrado seu pre?o.

O Sal?o de Vidro era jateado, a luz do sol embargada e suavizada, uma prote??o para os Solares. Ela se perguntou se Oro alguma vez se preocupou em abrir as cortinas das janelas à noite, sabendo que esquecer de fechá-las significaria a morte pela manh?.

Ent?o se lembrou de quando ele a salvou. Ele estivera na varanda logo depois do p?r do sol, como se estivesse sedento por estar a poucos centímetros e minutos da luz.

Uma maldi??o cruel.

Todas as maldi??es eram muito cruéis.

Celeste já estava lá, conversando com um grupo de nobres Estelares. A capa de sua amiga era magnífica, feita especialmente para sua demonstra??o. De alguma forma, um alfaiate do reino Estelar havia conseguido tecer uma seda t?o fina, t?o translúcida, que parecia vidro. Levemente prateado, com estrelas costuradas nas bordas, cristalinas e brilhantes.

Isla teve que se segurar para n?o sorrir para a amiga, para n?o prestar aten??o nela.

O rei também estava lá, cercado por nobres, conselheiros e ilhéus ricos que usavam pulseiras e colares dourados, t?o enfeitados que pareciam estátuas de ouro feitas pelo seu rei.

Cleo entrou, acompanhada por sua comitiva, que a seguia como guardas.

Azul ria com um grupo, interagindo com eles mais como um amigo do que como um líder falando com seus súditos.

Isla estava sozinha, sem ninguém para rodeá-la. Até Ella a deixou, esperando nos cantos com os outros servi?ais.

Grim também estava só. Ele apareceu do outro lado da sala, fazendo os nobres mais próximos correrem como baratas.

Seus olhos escuros encontraram os dela, e ela viu certa compreens?o neles.

Ambos estavam sozinhos.

Foi por isso que ele a ajudou?

Porque ele sabia como era?

N?o. Ele era um inimigo, ela precisava se lembrar disso.

— Bem-vindos — disse Celeste.

Ela estava de pé ao lado de um objeto alto e encoberto. Parecia uma estátua escondida por um len?ol.

N?o era.

— Minha demonstra??o é uma prova de medo. Quem vencer seu maior medo primeiro será o vencedor.

Uma ampulheta prateada estava do outro lado da sala, contando os segundos.

As demonstra??es eram planejadas com cuidado. Algumas eram escolhidas para mostrar a superioridade do governante anfitri?o, outras para demonstrar a fraqueza de um oponente em particular… e havia aquelas que eram como a de Celeste, com um propósito mais misterioso.

Com a m?o coberta por uma luva prateada, Celeste puxou o len?ol que brilhava, revelando um imponente espelho.

Era uma antiga relíquia Estelar que a governante havia trazido de seu reino. Isla havia observado o objeto por mais de um ano, como um espectro no canto do quarto de Celeste. Só podia ser usado por alguém uma única vez, ent?o Isla n?o teve como praticar. Mas tinha quase certeza de qual seria seu maior medo.

— Quem gostaria de come?ar? — perguntou Celeste.

O medo talvez fosse a maior fraqueza de um governante. O que mais se temia poderia condenar um reino inteiro. Era um bom teste.

Mas n?o foi por isso que Celeste escolheu esse desafio.

O rei deu um passo à frente. No momento em que encostou a palma da m?o no espelho, o vidro se ondulou como água agitada em uma ta?a.

De repente, parou. Assim como o rei.

Durante alguns minutos, Oro partiu em uma jornada que nenhum deles podia ver. Ele apenas olhava fixamente para o espelho, a m?o ainda na superfície, sobrancelhas se franzindo algumas vezes, formando uma express?o séria.

Todos tinham um medo. Isla se perguntou o que o rei temia. Segundo Celeste, o espelho prendia a pessoa até ela conseguir superar seu maior medo. Alguém poderia ficar preso ali dentro para sempre. Muitos morreram usando a relíquia.

Oro se endireitou, o feiti?o foi quebrado. A m?o do rei foi libertada.

Ele havia vencido.

Em apenas três minutos.

Isla engoliu em seco. O rei esteve vivo por mais de quinhentos anos.

E se ela mantivesse a multid?o esperando ali por horas? O que isso diria sobre ela e suas habilidades? Sobre o quanto merecia sobreviver ao Centenário?

E se ela nunca vencesse seu medo, e o espelho a mantivesse presa ali?

Isla sabia o quanto o uso daquela relíquia era importante para o plano delas. Mas, de repente, desejou que sua amiga tivesse escolhido uma prova diferente.

Azul era o próximo. Ele levou cinco minutos. Mais do que o rei, mas por pouco.

Quando ele se afastou do espelho, Isla notou que seu sorriso estava um pouco mais desanimado do que o normal. Algo em sua express?o parecia assombrado.

O que ele tinha visto?

Qual medo tinha sido for?ado a enfrentar?

As palmas das m?os de Isla come?aram a suar. Ela as enxugou na capa e respirou fundo. Recomponha-se.

No momento em que Cleo colocou a m?o pálida no espelho, Isla soube que as coisas seriam diferentes. O vidro n?o ondulou tanto. Seus olhos se fecharam e ela congelou completamente, transformada em gelo.

N?o levou dois minutos para seus olhos reabrirem.

Arquejos ressoaram entre a multid?o. Cleo havia derrotado rei, e por por uma diferen?a de mais de um minuto.

Isla sentiu os dentes trincarem. A Lunar devia ser cruel ou completamente destemida. Ambas qualidades perigosas em um inimigo.

Grim terminou seu teste em pouco menos de três minutos.

Celeste completou o dela em cinco.

Depois foi a vez de Isla.

O sal?o ficou em silêncio enquanto ela se dirigia para o imponente objeto. O barulho de seus saltos ecoou pelo piso. Seus joelhos tremeram embaixo do vestido, e ela estava grata por seu comprimento.

Mais cedo do que gostaria, Isla se viu levantando a m?o. Seus dedos tremeram ligeiramente antes de tocarem o espelho.

Ele se mexeu, mudou.

Ent?o algo a puxou através do vidro.





CAPíTULO DOZE


DESPEDA?ADA





Isla foi absorvida pelo espelho para um mundo de cristal.

Nos muitos meses que ela havia passado pensando nesta demonstra??o, tinha decretado seu maior medo: n?o conseguir salvar seu reino.

Ela havia se preparado para ver um campo de Selvagens mortos. Florestas queimadas. Poppy e Terra mortas a seus pés.

Agora que ela estava no teste, n?o havia corpos, chamas nem animais selvagens moribundos.

Apenas um quarto. O quarto dela, no reino Selvagem.

Estava exatamente como ela o deixou. Limpo. Arrumado. A parede com as espadas brilhava de um lado, como se a saudassem.

Ela esperava sentir uma onda de alívio por estar de volta. Por estar em um lugar t?o familiar depois de duas semanas cercada por estranhos e em uma terra governada por segredos.

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