Lightlark (Lightlark, #1)

— Se tiver que fazer novas, vá até a pris?o. Escolha um assassino, alguém horrível...

Celeste agarrou os ombros de Isla, quase machucando-a, trazendo-a de volta para a realidade, estabilizando-a.

— Essa é a minha parte do nosso plano — disse ela. — Concentre-se na sua.

Certo. A dela. Isla se ofereceu para procurar nas outras três bibliotecas. Uma vez que tivessem as luvas, seu papel realmente come?aria.

— Falando na minha parte... — ela come?ou. Era a vez dela de compartilhar a má notícia sobre n?o conseguir a roupa dos Solares.

As sobrancelhas de Celeste se franziram.

— Isso é estranho... — Ela apertou os lábios. — Apesar de que, na Ilha da Estrela, os nobres me contaram que coisas suspeitas vêm acontecendo desde o último Centenário. Os Solares se afastaram dos outros reinos mais do que nunca, ficam em sua própria ilha na maior parte do tempo.

— Você acha que o rei está por trás disso?

Celeste franziu a testa.

— N?o tenho certeza. Mas n?o confio nele de jeito nenhum.

Nem Isla. Mesmo que ele a tivesse salvado no primeiro dia do Centenário. Depois do duelo, estava disposta a apostar que ele também n?o confiava nela.

— N?o é só isso — disse Celeste, e Isla se preparou para mais um obstáculo. — Os Lunares também têm agido de forma estranha. Meus nobres disseram que têm guardas na ponte todos os dias. O dia todo.

Isla xingou. Como iria entrar na Ilha da Lua sem ser percebida e vasculhar a biblioteca se havia guardas na entrada?

Ela era autorizada a entrar, mas seus movimentos certamente seriam compartilhados com Cleo.

Que suspeitaria dela imediatamente.

— Você verificou? — perguntou Isla.

Celeste assentiu. Sua amiga sempre foi meticulosa.

— Fui caminhar por aquela parte da ilha e confirmei. Dois guardas, bem na frente, de olho em todo mundo.

Dois Lunares n?o impediriam o plano.

— Vou encontrar um jeito — disse Isla, ansiosa para ajudar depois de sua exibi??o no duelo.

E esperando que aquela n?o fosse apenas mais uma promessa que n?o conseguiria cumprir.





CAPíTULO NOVE


COROA





Felizmente, os governantes n?o jantavam juntos todos os dias. Algumas noites, Celeste, Azul, Cleo e Oro faziam as refei??es em suas ilhas e os outros comiam cada um em seus aposentos. Os jantares em grupo eram precedidos por um convite e eram embara?osos, especialmente para Isla, que tinha que se sentar com um prato vazio à sua frente. Desde o primeiro jantar, oito dias antes, o rei havia honrado seu pedido para comer no quarto. Os Selvagens só precisavam de um ou dois cora??es por mês para sobreviver. Ainda assim, cora??es eram fornecidos semanalmente, e logo descartados em segredo.

Os insultos constantes de Cleo também tornavam os jantares desconfortáveis. A Lunar tinha deixado bem claro sua avers?o desde aquela primeira refei??o, quando seu comentário foi revidado. Isla se arrependera desde ent?o, principalmente quando os olhos de Celeste encontravam os dela, um lembrete de por que era importante ficar fora do radar.

Despercebida. Irrelevante.

Isla estava prestes a entrar no sal?o para um desses jantares quando parou de repente.

Havia muitas vozes lá dentro. Dezenas.

As portas foram abertas para ela, revelando uma sala cheia de nobres de todos os reinos de Lightlark. Muitos se viraram para encarar Isla, medo e curiosidade disputando uma batalha em suas fei??es. Eles a observaram com aten??o, t?o críticos quanto um joalheiro em busca de defeitos em um diamante.

De uma vez, cada uma das li??es de Poppy invadiram sua cabe?a.

Costas retas.

Queixo para cima.

Ombros para baixo.

Olhe para a frente, n?o dê aten??o a eles.

M?os relaxadas ao lado do corpo.

Era uma demonstra??o, é claro. Quem a planejou havia decidido convidar apenas os nobres de Lightlark.

Nenhum convite a precedeu. Surpresas eram frequentes durante o Centenário. Você deve estar preparada para tudo, Terra avisara.

As demonstra??es eram oportunidades para os governantes avaliarem uns aos outros. Para decidir quem era fraco. Para, quem sabe, ganhar o poder de escolher a dupla com quem trabalhariam durante o restante do Centenário na tentativa de decifrar as profecias.

Isla quebrou a cabe?a tentando descobrir que tipo de teste era aquele. Suas tutoras tinham uma lista de demonstra??es de Centenários anteriores, algumas mais elaboradas que outras. Miss?es. Desafios para domar uma fera. Até mesmo ca?as ao tesouro. Testes de for?a física, de estratégia ou de lógica.

N?o havia pistas ao redor. Tudo o que via eram mesas postas com ta?as de vinho e pratos de cristal.

Realmente parecia um jantar. Ela tentou reprimir a ansiedade. Talvez fosse apenas uma refei??o e os nobres, simples convidados.

Eles tinham visto Isla durante o primeiro teste, de longe. E ela, evidentemente, chamou a aten??o. Alguns olharam por tempo demais para as partes mais justas de seu vestido. Outros a observavam como se Isla estivesse prestes a arrancar as próprias roupas ou explodir em chamas. Alguns recuaram, olhos fixos na boca e nos dedos dela, como se esperassem ver garras.

Ela era uma sedutora. Um monstro que sobrevive dos cora??es de presas facilmente atraídas.

Aquelas pessoas achavam que a conheciam.

Mas n?o sabiam de nada.

Alguns dos convidados engasgaram quando Grim apareceu ao seu lado do nada, tornando-se visível. A express?o dele n?o mudou.

As pessoas que n?o estavam olhando para ela antes certamente estavam olhando agora. A sedutora e o governante das trevas. Uma dupla vencedora.

— Grim — ela cumprimentou sem emo??o, evitando encontrar seu olhar. Lembrando que n?o sabia nada sobre ele ou o que queria.

— Devoradora de Cora??es — ele sussurrou, para que apenas ela pudesse ouvir.

Seu olhar ficou mais atento, estudando cada centímetro do novo vestido carmim dela. As al?as finas. O pequeno peda?o de seda que era o corpete. A cintura, onde o vestido ficava bem apertado antes de cair em mais camadas de tecido agarradas ao corpo. Luvas até os cotovelos, da mesma cor e tecido do vestido, algo que raramente usava, mas que cal?ou naquele dia, mesmo que apenas para cobrir um pouco mais o corpo.

Ele a olhava de forma descarada, impaciente, como se fosse importante guardar na memória cada centímetro de pele. Ela nunca tinha sido examinada com tal minúcia.

Grim queria envergonhá-la?

Ou seduzir a sedutora?

Seus olhos escuros pareceram ficar ainda mais sombrios quando encontraram os dela, e ele disse:

— N?o tenho certeza do que gosto mais. A forma como você segura uma espada... ou a forma como seu vestido te segura.

Se olhares matassem, o Umbra estaria morto e Isla teria quebrado a primeira regra do Centenário. Os lábios de Grim formaram um sorriso dissimulado em resposta a seu olhar.

Isla deu um passo na dire??o dele, sentindo-se corajosa. Ainda n?o tinha certeza do que Grim pretendia, mas sabia que ele gostava quando ela revidava.

— E eu n?o sei do que gosto mais. De relembrar a imagem da minha espada contra a sua garganta... ou de pensar em como seu cora??o ficaria no meu prato.

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