O que estava tramando?
Incitados pelo rei, algumas palmas soaram na multid?o, ent?o se espalharam como fogo de palha até que todos estavam gritando, comemorando sua vitória, a menor entre os dois vil?es que superara o oponente.
Ainda confusa, Isla seguiu até a lateral da arena, mas o que encontrou foi Celeste com uma express?o preocupada. Sua amiga n?o podia dizer nada, n?o na frente dos outros, mas Isla sabia que tinha se destacado demais. Seu trabalho era embromar, passar despercebida a maior parte do tempo, para que pudessem ficar juntas.
Agora, os ilhéus e governantes com certeza estavam prestando aten??o em Isla.
Cleo e Oro, vencedores de suas duplas, duelaram em seguida. A Lunar fez uma exibi??o impressionante, mas, em menos de um minuto, o rei saiu vitorioso. Antes disso, porém, Cleo conseguiu rasgar seu bra?o. A pele se abriu. Sangue manchou a arena, quase fervendo no ch?o. Ele n?o tentou se curar antes do próximo duelo.
Parte de Isla se perguntou como a Lunar ousava ferir o rei. Uma energia nervosa parecia circular pela arena, talvez alguns dos ilhéus estivessem pensando o mesmo que ela.
Oro nem se incomodou em deixar o ringue. Ele se levantou, a espada cravada no ch?o diante dele, as m?os apoiadas no cabo. Ainda sangrando. Encarando Isla. Sua última adversária.
Seus olhos estavam vazios. Sem emo??o.
Ela n?o se esquivou de seu olhar sem vida quando voltou para a arena. Daquela vez n?o houve aplausos para ela. A fidelidade da multid?o havia mudado t?o rápida e previsivelmente quanto a maré.
Um sino, em algum lugar.
Ent?o uma espada, cortando o ar diante dela. Isla conseguiu erguer sua arma a tempo, por pouco, mas a for?a do primeiro golpe do rei ecoou em seus ossos, sentida até mesmo nos dentes.
Um gemido lhe escapou dos lábios enquanto ela intensificava seus movimentos, cavando, absorvendo o impacto, protegendo-se contra as investidas do rei.
Ele continuou avan?ando, e o pé de Isla escorregou, atrapalhando sua postura. Ele estava tentando for?á-la a fazer um movimento, a se deixar vulnerável.
Será que achava que ela era tola?
Isla colocou a outra m?o no cabo da espada, ent?o for?ou o golpe com toda a for?a que tinha.
Ele respondeu como era esperado, pressionando de volta na mesma medida...
E ela girou no último momento, fazendo-o cambalear para a frente.
Isla era mais rápida, sabia disso. Era o que tinha a seu favor.
Mas Oro era mais forte. Mesmo ferido.
A espada do rei encontrou a dela antes que ela pudesse se recuperar por completo, e Isla lutou para acompanhar, principalmente na defesa, bloqueando golpe após golpe, cada ataque mais ensurdecedor que o outro. Ele conhecia sua for?a. A estratégia dele era cansá-la, acabar com sua energia em vez de atacar. Até os bra?os de Isla cederem.
Ela quase sorriu.
Oro n?o sabia que, quando Isla tinha doze anos, Terra a deixou pendurada no galho de uma árvore, quinze metros acima do solo, por cinco horas.
Caia e você quebrará as pernas, ela disse. Elas v?o se curar, mas você n?o terá permiss?o para fazer o passeio nas novas terras se estiver ferida.
Ela havia esperado pela primeira viagem por suas terras por anos.
A primeira hora n?o foi t?o ruim. Ela já vinha treinando por um tempo àquela altura. Seus bra?os eram fortes.
Depois de três horas, estava gritando.
Depois de quatro, perdeu a voz.
Após cinco, um de seus ombros deslocou.
Ela nunca soltou o galho.
Mas n?o recebeu permiss?o para ir na viagem. Puni??o por ter gritado.
Você recebe a dor como um remédio, Terra disse em resposta às suas lágrimas. Você engole com um sorriso.
Ent?o colocou o ombro de Isla de volta no lugar sem medica??o. Outra li??o.
O rei n?o seria capaz de cansá-la.
Ainda assim, era bom que ele pensasse assim. Ela diminuiu a velocidade dos movimentos ligeiramente, dobrou o punho apenas um grau. Inclinou a espada como se estivesse tentando descansar um lado do corpo.
Ele avan?ou mais rápido em resposta, sentindo seu enfraquecimento.
Ela deu um passo para trás. Depois outro, com um leve trope?o.
Ele fez seu ousado movimento final.
E Isla liberou a for?a que tinha guardado.
O rei foi pego de surpresa pela sanha de seu golpe. A lamina tremeu com o impacto. Ela avan?ou, aproveitando sua chance, mirando em todos os lugares. Ele ent?o foi for?ado a recuar, desviando de seus golpes, as sobrancelhas se juntando em concentra??o.
Ela ia ganhar.
Sua lamina se transformou em uma serpente, como se aquela em sua coroa ganhasse vida, atacando para matar, com presas e tudo. De novo, de novo, de novo, ela atacou, quase acertando o cora??o do rei. Quase encostando em seu pesco?o.
Ela saltou para a frente, pronta para o golpe final…
E hesitou.
Celeste era um lembrete prateado nas arquibancadas, logo atrás do rei. Ela n?o deveria ganhar. N?o era parte do plano.
Você n?o quer ser livre?, perguntou uma voz em sua cabe?a. Isso era mais importante do que seu orgulho. Do que vencer. Do que qualquer coisa.
No último momento, Isla mirou mais abaixo, em um lugar do qual Oro poderia desviar com facilidade. Quando ele o fez, ela afrouxou o aperto no cabo da espada.
Ent?o, quando a espada dele a atingiu, sua lamina saiu voando pela arena.
Aplausos explodiram, n?o apenas de Solares, mas de todos os reinos de Lightlark ficando de pé. Honrando seu rei.
Mas Oro apenas observou Isla, estreitando os olhos.
Ele sabia.
De alguma forma, ele sabia que Isla tinha permitido que ele vencesse.
A ponta da espada dele, ent?o, subiu sem entusiasmo pela barriga de Isla até o cora??o. Ent?o se afastou. Mas o olhar do rei era implacável, observando-a com aten??o demais.
Isla encolheu-se sob sua aten??o, curvando-se, fazendo uma reverência, reconhecendo a derrota.
Ela voltou para os assentos quando Oro foi coroado o vencedor da demonstra??o.
Seus olhos n?o encontraram os dele novamente. Mas ela podia sentir o olhar dele nela, n?o mais sem vida, mas t?o impiedoso quanto o fogo.
CAPíTULO OITO
CELESTE
Na primeira vez em que Isla conheceu Celeste, ela sentiu alívio. Tinha passado a vida toda aprendendo sobre os outros governantes dos reinos. Quatro deles eram terrivelmente velhos e habilidosos, já vivos quando as maldi??es foram lan?adas, herdeiros originais dos que se sacrificaram pela profecia. Isla n?o era páreo para eles, n?o importava quanto tempo e quanto esfor?o ela dedicasse aos seus treinos. Eles eram os protagonistas dos seus pesadelos, cada um matando-a mil vezes antes mesmo da chegada do convite para o Centenário.
A Estelar era um mistério. Jovem como Isla e em desvantagem, pois n?o tinha Terra ou Poppy, ninguém antigo e sábio para guiá-la, gra?as à maldi??o de seu reino.
Ainda assim, os Estelares eram poderosos.