Lightlark (Lightlark, #1)



No quinto dia do Centenário, o convite para a primeira demonstra??o chegou. O papel estava carbonizado, preto, chamuscado. Apenas algumas palavras eram visíveis, gravadas no papel com uma faca.

Esteja pronto para o duelo.

Isla n?o p?de deixar de sorrir. Grim tinha, sim, lhe dado uma ajuda.

Mas por quê?

O horário do evento estava rabiscado na parte inferior: seria dali a uma hora. Em vez de ter que correr para conseguir uma arma, Isla já havia comprado a espada perfeita. Uma que era leve o suficiente para empunhar sem esfor?o, mas afiada e firme para um golpe certeiro. Tinha levado horas escolhendo na loja de armas Estelares. A metalurgia do reino era realmente inigualável... embora ansiasse pela familiaridade de uma de suas próprias laminas.

As roupas do alfaiate haviam chegado no dia anterior; o homem trabalhava a uma velocidade extraordinária. O compromisso com seu ofício só fez Isla se sentir pior por tê-lo roubado.

Ao encontrar o desvinculador, estarei salvando o alfaiate e seu reino, Isla convenceu-se, para neutralizar a culpa.

Um dos vestidos era no mesmo tom azul-escuro de safiras, com cristais em forma de cacos nas laterais. Outro era de um roxo em um tom de lavanda com o corpete decotado e cal?as bem justas. Para finalizar, uma capa brilhante presa ao redor da cintura, criando a ilus?o de uma saia. Tinha outro, verde-esmeralda, justo e leve, e transparente o suficiente para fazê-la corar. E um deles, ela descobriu, tinha bolsos.

Para esta demonstra??o, Isla usou a armadura. Ella a ajudou prendendo suas muitas partes, grunhindo enquanto erguia as pe?as de metal.

Era uma segunda pele. Terra se certificou disso.

Quantas vezes ela havia sido abandonada no meio da floresta, ou no epicentro de uma tempestade na floresta tropical, carregando mais de vinte quilos de cota de malha e de armadura? A volta para casa levava mais de um dia sem água, sem comida, com os uivos dos lobos e o tamborilar das panteras em seu encal?o.

Os últimos metros eram sempre percorridos se arrastando de volta para o quarto, as unhas cravadas em raízes e terra.

Em compara??o, o tecido Estelar bem-feito e as finas camadas de metal quase n?o pesavam. Tinham sido moldadas em partes que valorizavam sua figura ao mesmo tempo que a protegiam: ombreiras de metal, pe?as de cota de malha, botas com placas de ferro que iam até a coxa, um peitoral esculpido.

— Pronto — disse Ella, exausta depois de colocar a última parte do traje.

— Obrigada — disse Isla antes de dar uma garfada no prato de legumes grelhados e gr?os que Ella trouxera para o almo?o. Em troca do elixir de cura, a garota Estelar trazia refei??es normais para Isla, acreditando serem tira-gostos dos cora??es que ela planejava jogar fora em segredo do alto da varanda. — Por tudo.

Ella inclinou a cabe?a e gentilmente tocou na própria perna. Agora ela andava quase sem dificuldade, e sua testa n?o estava em constante tens?o devido à dor.

— Eu que agrade?o — disse ela.

O duelo aconteceu em uma arena na ala mais distante do castelo, uma que costumava ser aberta aos elementos, mas que fora coberta por uma cúpula depois das maldi??es. Isso fazia os aplausos da multid?o ecoarem e se misturarem, formando uma única voz de escárnio saindo de mil bocas. Os governantes controlavam muitas variáveis de suas provas, como o que elas testariam, onde aconteceriam, se haveria algum aviso prévio e quem era autorizado a testemunhá-las. Grim convidou os ilhéus, que se sentaram separados por reino, preenchendo todos os assentos em fileiras alinhadas por dezenas de tochas acesas. Estelares vestindo sua cor prata brilhante, Etéreos em seu azul vivo, Luares em seu branco imaculado, Solares em seu dourado polido.

As demonstra??es eram um espetáculo, ela sabia disso. Usadas para testar diferentes habilidades, manipular simpatia, feitas para decidir quem merecia morrer.

Ou, no mínimo, quem escolheria as equipes nas quais iriam se dividir. O que, de uma forma ou de outra, mudaria o curso do Centenário ao criar alian?as à for?a.

Cada teste era também um risco. Embora assassinatos n?o fossem permitidos até o quinquagésimo dia, a própria ancestral de Isla havia perdido a m?o em uma dessas demonstra??es. Isso enfraqueceu de forma significativa sua capacidade de usar os poderes, e ela foi for?ada a engravidar depois que o Centenário terminou, para ter um melhor representante no próximo.

A voz de Grim ressoou entre os aplausos, silenciando a arena.

— Bem-vindos à minha demonstra??o — disse ele, de algum lugar. Isla n?o sabia dizer de onde; era como se sua voz estivesse vindo de todos os lugares ao mesmo tempo. — Vocês s?o todos muito amea?adores com seus intermináveis poderes... mas como v?o se sair sem eles?

Ele anunciou a primeira dupla: Oro contra Azul.

A espada do rei era feita de ouro maci?o, para combinar com sua inestimável armadura. Isla se perguntou se o duelo acabaria envergonhando o rei na frente de seu povo, e o pensamento quase a fez sorrir. Ela nunca tinha ouvido falar sobre as habilidades de luta do rei durante seus anos de aulas, o que poderia significar que Oro dependia fortemente do fogo.

A arma de Azul estava coberta de joias preciosas, safiras e diamantes. Ele n?o usava armadura; grande parte do peito estava exposta. Mas em compensa??o estava com o anel que Isla lhe dera. Ele era t?o bom que n?o precisava de prote??o?

As análises de Isla estavam ambas erradas.

O duelo terminou em segundos. O rei atacou t?o rápido que ela quase n?o viu. Em um momento, a ponta de sua espada estava cravada no cascalho da arena; no seguinte, estava encostada na garganta do Etéreo.

Azul apenas sorriu graciosamente e fez uma reverência, reconhecendo a derrota.

Os Solares ficaram de pé, rugindo em aprova??o, balan?ando longos tecidos dourados no ar.

Celeste e Cleo eram as próximas.

As unhas manicuradas de Isla cravaram na palma das m?os, vendo a amiga entrar na arena. A Lunar sorria de forma sagaz, como uma serpente. Ela também n?o usava armadura, mas havia optado por cal?as. Sua arma era longa e fina como um quebrador de gelo.

Celeste segurou sua espada com firmeza. Isla tinha escolhido uma lamina mais leve para a amiga, fácil de ser manipulada por alguém que n?o tinha tanto treinamento. Seu cabelo prateado estava tran?ado, preso com firmeza à cabe?a.

Ao som do sino, Cleo atacou.

— Nervosa, Devoradora de Cora??es?

A voz de Grim estava em seu ouvido. Ela n?o se atreveu a tirar os olhos da a??o. Cleo errou o bra?o de Celeste por centímetros, e sua amiga havia acabado de contra-atacar sem sucesso.

— N?o me chame assim — ela disse baixinho, estremecendo quando Celeste trope?ou e quase caiu direto na lamina de Cleo.

Era como se pudesse ouvir o sorriso nas palavras de Grim quando ele disse:

— é esse o agradecimento que recebo por tê-la ajudado?

Alex Aster's books