Lightlark (Lightlark, #1)

Interessante. Estar perto de Grim era como ser um para-raios menor em uma tempestade: toda a ira se dirigia a ele.

Embora ele fosse um dos governantes mais poderosos e ela n?o tivesse nenhum poder, aos olhos dos ilhéus, ambos eram vil?es. Isla sabia como isso era importante. Embora os governantes pudessem, se bem-sucedidos, decidir qual deles morreria para cumprir parte da profecia, as opini?es e a??es dos ilhéus podiam mudar o curso do Centenário. Sua ajuda, ou a falta dela, poderia significar a diferen?a entre a vida e a morte, especialmente para Isla, que n?o tinha ninguém do seu próprio povo na ilha. As pessoas comuns também costumavam ser convidadas para assistir a todas as seis demonstra??es.

Grim n?o parecia notar a maneira como todos o olhavam. Ou, se notava, n?o parecia se importar, disposto a interpretar o papel de vil?o.

Apesar de que, talvez, ele n?o estivesse interpretando.

— Dois de tudo — disse ele pregui?osamente, puxando um punhado de moedas. Sem se preocupar em contá-las, ele as colocou no balc?o e n?o esperou por uma resposta, nem sequer olhou o homem nos olhos enquanto se sentava.

A cadeira era ridiculamente pequena para ele. Seus joelhos bateram no tampo da mesa. Isla deslizou lentamente para a cadeira à sua frente.

— é muito chocolate.

Ele deu de ombros.

— Você disse que poderia comer seu peso disso. Estou levando ao pé da letra.

Logo, o dono da loja colocou uma bandeja de prata imensa na mesa. Fez uma rápida reverência para Isla, outra para Grim, depois foi se juntar ao restante dos funcionários na sala dos fundos.

Isla ergueu uma sobrancelha.

— Você ateou fogo na pra?a da última vez em que esteve aqui?

O joelho de Grim bateu no dela, fazendo Isla puxar as pernas para trás t?o rápido que ele sorriu.

— Vamos apenas dizer que os ilhéus têm boa memória. — Antes que ela pudesse pedir esclarecimentos, ele pegou uma trufa entre dois dedos enormes. — Experimente esta primeiro.

Ela pegou o chocolate, tímida. Mastigou. E seus olhos se arregalaram.

— Divino, n?o é?

Isla afundou na cadeira, a cabe?a pendendo para trás. Ela n?o deveria estar perdendo tempo precioso em uma degusta??o de chocolate, mas conhecer o Umbra, talvez fazer com que ele confiasse nela, poderia ser útil. Ela fechou os olhos com o sabor do caramelo em sua língua.

— Me acorde quando tudo isso acabar.

Uma risada. Com os olhos ainda fechados, ela sentiu algo áspero contra seus lábios.

— Abra.

Ela obedeceu, e Grim deixou cair outra trufa na língua dela. Esta tinha um recheio de creme de frutas e uma casca dura por fora.

Isla experimentou cada um doce que ele lhe ofereceu. Barras de chocolate, bombons mentolados, uma barra de manteiga de banana. Tudo, exceto a pralina de chocolate com pimenta.

— N?o é t?o picante — disse Grim, jogando um na própria boca. Ele encolheu os ombros. — Uma pitada de calor, nada mais.

— Eu gosto da minha língua funcionando, obrigada.

Grim entrela?ou seus longos dedos e descansou o queixo entre eles.

— Ent?o você devora cora??es e sangue, mas n?o um chocolate apimentado?

Uma piada, mas perigosamente próxima da verdade.

— Está bem — disse ela, murmurando algo mais sob sua respira??o que o fez sorrir maliciosamente.

Isla colocou o chocolate na boca e se arrependeu imediatamente. Seus olhos lacrimejaram, a boca ardeu e sua língua inchou na hora. Ela cuspiu, esquecendo todos os modos, sem nem mesmo se importar que o dono da loja estivesse olhando para eles pela janela da cozinha. Suas narinas se dilataram.

— Você — ela disse entre goles profundos de água que pioraram ainda mais a dor.

Grim riu e riu e riu, aquela covinha estúpida radiante no rosto. Ele tentou dizer alguma coisa, ent?o riu um pouco mais, e n?o parou nem mesmo quando se levantou, nem mesmo quando usou suas habilidades Umbra para atravessar um balc?o como se n?o fosse nada e se servir de uma jarra de leite. Nem mesmo quando colocou um copo na frente de Isla e disse: — Beba.

Ela lhe dirigiu um olhar mortal enquanto engolia longos goles, t?o desesperadamente que o leite escorria pelo queixo e pela frente do vestido dela. Vil?o, com certeza.

— Dem?nio — ela disse de forma maldosa.

Ele levantou uma sobrancelha.

— N?o exatamente. — Ele franziu a testa para o vestido de Isla. — Vamos ter que trocar isso. Você está indo para o alfaiate agora?

— E como você sabe?

Ele só respondeu quando estavam fora da loja.

— Também me ofereceram um horário com o alfaiate de Lightlark.

— Acho que seu guarda-roupa n?o dá margem para muita diversidade.

Grim franziu a testa para sua camisa preta, cal?a preta, botas pretas e capa preta.

— Eu disse a eles que consigo me vestir sozinho.

As ruas estavam cheias de dezenas de tochas cravadas na pedra, queimando, embora o dia estivesse quente e o sol brilhasse. Guardas Solares pareciam estar encarregados de mantê-las acesas, com as chamas que saiam de suas palmas.

Chegaram a uma loja com janelas de vidro cristalino, cada vidra?a cortada em formato de esmeralda. Dentro havia um arco-íris com cores dos Selvagens: tecidos, fitas, linhas e pilhas de alfinetes.

Tudo para ela.

— Aproveite — Grim disse de forma zombeteira, e ent?o se foi.

Desapareceu. Estava lá num instante e no outro, n?o mais. Isla sentiu um arrepio na coluna.

Como seria ter um poder como a invisibilidade?

Isla entrou na loja.

Um sino tocou, anunciando sua presen?a. Um jovem Estelar, com alfinetes presos em uma almofada no pulso, congelou. Isla esperou que seus olhos se arregalassem por repulsa ou medo.

Mas o alfaiate fez simplesmente uma graciosa reverência.

— Isla, governante dos Selvagens. Prazer. O que aconteceu com seu vestido? — Antes que ela pudesse responder, ele levantou a m?o. — N?o se preocupe, só uso seda de aranha gigante na minha loja... N?o mancha, é forte como a?o, e o caimento é incomparável. — Ele fez sinal para que ela subisse na plataforma. — Cores preferidas?

As respostas que saíram de sua boca poderiam muito bem ter saído da de Poppy, a centenas de quil?metros de distancia, no reino dos Selvagens. Isla tinha sido instruída para saber exatamente o que dizer.

— Verde. Vermelho. Roxos e rosas, de vez em quando.

— Ajuste preferido?

— Justo.

— Comprimento?

— Longo.

Ele a examinou.

— Qu?o apegada você é a este vestido?

Ela olhou para baixo e deu de ombros.

— N?o muito.

Alex Aster's books