Lightlark (Lightlark, #1)

Em sincronia com os outros, Isla removeu a coroa da cabe?a e usou a ponta mais afiada para fazer um corte profundo em sua palma.

Ela n?o vacilou. Poppy ficaria orgulhosa.

Antes de oferecer o sangue para as chamas, havia outra parte da cerim?nia que ela havia praticado. O sangue de cada governante tinha propriedades especiais, em acordo com suas habilidades. Do sangue selvagem deveriam desabrochar flores.

Isla estava preparada, pétalas escondidas entre os dedos. Quando o sangue finalmente escorreu de sua m?o, ela segurava uma rosa em miniatura.

O sangue de Cleo endureceu como gelo antes de ser queimado pelo fogo. O sangue de Grim tornou-se escuro como tinta. O sangue de Azul ficou suspenso no ar, separando-se, antes de finalmente cair. O sangue de Celeste explodiu em uma confus?o de faíscas. O sangue de Oro ardeu brilhantemente antes mesmo de chegar às chamas.

O fogo ficou carmim, manchado com o sangue deles, e depois desapareceu.

Agora, eles estavam presos às regras. Quebrá-las tinha consequências. Para Isla, Celeste, Grim, Cleo e Azul, significava perder o direito ao prêmio do Centenário: o poder inigualável que o oráculo dissera ser o presente que o responsável por quebrar todas as maldi??es receberia. Oro, como rei e anfitri?o do Centenário, estava ligado às regras com sua vida.

Foi por isso que Oro tinha salvado Isla? Ele tinha essa responsabilidade? N?o estava claro como as mortes acidentais contribuíam para a profecia.

O que estava claro era que o rei de Lightlark tinha um plano. E, aparentemente, envolvia manter Isla viva.

Pelo menos até o momento em que a quisesse morta.





CAPíTULO CINCO


GRIM





Na manh? seguinte, quando a criada de Isla bateu a sua porta, ela estava pronta.

Armas n?o eram permitidas, mas era possível levar um baú com pertences. Ela aplicou tintura nos olhos verdes, em arcos pretos perfeitos. Os cílios já eram longos e volumosos, mas ela os curvou ainda mais. Passou um bálsamo nos lábios carnudos que iluminaram seu tom natural. Sua pele, mesmo naturalmente bronzeada, ainda parecia pálida demais para seu gosto, pelo longo tempo passado dentro de um quarto.

Isso seria facilmente resolvido. Agora que ela estava livre para explorar, n?o tinha inten??o de ficar trancada em lugar nenhum.

Os poucos vestidos em seu baú mais pareciam uma cole??o de fitas costuradas. Transparentes, diminutos e t?o suaves que pareciam líquido. No reino Selvagem, na constante reclus?o de seus aposentos, ela conseguia se safar disso usando roupas largas e macias. Mas agora estava no Centenário, e Poppy tinha escolhido esses vestidos por uma raz?o.

Uma raz?o que fez Isla querer jogá-los todos na lareira mais próxima.

Naquele dia, ela escolheu um vestido no tom rosa de tulipas, decotado nas costas e feito de um tecido que grudava no seu corpo como se estivesse molhado. Era tradi??o usar a cor de sua fonte de energia. Estelares usavam prata, Solares usavam dourado, Etéreos usavam azul-claro, Umbras usavam preto e Lunares usavam branco. Como a natureza tinha muitas cores, Isla n?o estava presa a um tom, desde que n?o usasse o dos outros.

A garota Estelar se assustou quando Isla abriu a porta t?o rapidamente.

Isla n?o perdeu tempo.

— Qual seu nome?

— O meu nome? — a garota perguntou, t?o confusa que Isla n?o p?de deixar de rir.

— Acredito que você tenha um? — ela brincou, esperando que seu sorriso fizesse sua fala parecer bem-humorada, e n?o maldosa.

A garota sorriu de volta timidamente. Bom.

— é claro. Ella, senhora. — A garota balan?ou a cabe?a. — Quero dizer, Isla.

Isla baixou a cabe?a, do jeito que tinha visto as pessoas fazerem quando estavam prestes a trocar confidências. Ela havia ouvido muitos segredos sussurrados em becos, ou nos arredores de uma aldeia, gra?as a sua varinha estelar. Com o tempo, aprendeu a se disfar?ar e a se misturar na multid?o t?o perfeitamente que ninguém poderia adivinhar que ela n?o era dali.

— Ella, notei que você anda mancando — disse.

A garota pareceu surpresa. Deu um passo trêmulo para longe, e Isla se perguntou se deveria ter esperado mais... ou se tinha sido muito direta. A m?o da Estelar foi instintivamente para a perna.

— Meu... meu osso — Ella disse, enfim. — Quebrei há algum tempo e nunca me curei direito.

Isla franziu a testa.

— N?o há curandeiros Lunares aqui que possam ajudar?

As habilidades deles eram lendárias. Além de controlarem a água, tinham o poder da cura.

— Por um pre?o — disse Ella, sorrindo levemente. — Quando ajudam, nesses últimos tempos. — Isla se perguntou o que ela queria dizer, mas, antes que pudesse falar, a garota acrescentou: — E também... n?o me falta muito antes de completar vinte e cinco anos. N?o... n?o...

Valeria a pena. Isla estremeceu. Mesmo tendo Celeste como melhor amiga, às vezes ela se esquecia da crueldade dessa maldi??o. Nenhum Estelar tinha passado dos vinte e cinco em centenas de anos.

— Bem — disse Isla, enfiando a m?o no bolso do vestido. — Isto deve ajudar. — Ela entregou o tubo de pasta, com um elixir de cura dos Selvagens feito com plantas especialmente cultivadas. A mesma po??o que curou o corte em sua palma na cerim?nia do dia anterior.

Ella apenas olhou para o tubo em sua m?o até que finalmente Isla enrolou os dedos dela ao redor do recipiente e gentilmente afastou-se, sinalizando para que ela ficasse com o remédio.

— Agora — Isla disse animada. — Preciso que fa?a algo por mim.

Com os meios para obter refei??es regulares resolvidos, Isla partiu para o mercado. Em suas m?os, o convite do alfaiate que Ella trouxera. Antes de participar de qualquer uma das seis demonstra??es, ela precisava de roupas novas. Havia apenas uma certa quantidade de roupas que poderia levar na bagagem, de modo que, a cada Centenário, os governantes eram presenteados com um guarda-roupa personalizado.

Hoje era a vez de Isla.

Ela ouviu Poppy em seu ouvido.

Seus vestidos s?o sua armadura, suas joias s?o suas armas. Elas eram as ferramentas de uma sedutora.

Era o papel para o qual Poppy a tinha treinado, o primeiro passo do plano de sua tutora — um plano que Isla n?o tinha inten??o de seguir. Ela n?o tinha poderes, mas isso n?o significava que era impotente.

Ela podia se misturar. Ouvir. Se esconder. Criar estratégias. Todas as habilidades necessárias para o plano dela e de Celeste.

A criada insistiu em escoltar Isla até a pra?a no centro do Continente, onde ficava o alfaiate. A anci? Selvagem havia mencionado isso em suas histórias, como um lugar encantador que floresce à noite, como uma flor voltada para o sol.

Isla preferiu ir sozinha. Isso lhe daria uma boa oportunidade de explorar esta parte da ilha e observar os ilhéus, despercebida pelo maior tempo possível.

Com três palavras, esse plano foi por água abaixo.

— Você acordou cedo — disse Grim.

Isla engoliu em seco e se virou, subitamente muito consciente de como o tecido do seu vestido era apertado.

Apenas para encontrá-lo a centímetros de distancia.

Isla trope?ou para trás. Levou tempo demais para encontrar sua voz.

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