Lightlark (Lightlark, #1)

Alguns passos soavam pelo corredor, seguidos por ordens. Guardas, patrulhando certos corredores.

Havia tantos. Muito, muito mais do que ela vira em outras partes da ilha. Agora que pensava sobre isso, n?o havia guardas na Ilha do Céu. Também n?o havia muitos no Continente, exceto os que acendiam as tochas na pra?a.

O que Cleo estava fazendo?

Isla esperava que a biblioteca n?o fosse t?o monitorada. Afinal, para entrar na se??o restrita ela precisava do toque de Cleo. Mas quanto mais ela se aprofundava no palácio, mais ela escutava. Sussurros através das paredes. O gorgolejo de água sendo manipulada. O agudo crepitante da água sendo transformada em gelo.

Ela estava perto das masmorras? Ou os guardas estavam simplesmente treinando?

Para quê?

Um vulto de algo branco surgiu ao seu lado, e ela disparou para o c?modo mais próximo que conseguiu encontrar.

Vazio. Apenas quatro paredes de pedra que congelavam até os ossos enquanto Isla se encolhia, esperando que o transeunte n?o a tivesse visto.

Por alguns momentos, houve apenas silêncio.

Ent?o, ela ouviu vozes.

— Você estava patrulhando este corredor? — Um homem.

— N?o. — Uma mulher.

— Lazlo?

A mulher grunhiu que n?o.

— Por quê?

Um segundo.

— Eu vi alguém.

— Aqui?

Isla congelou. Tinha sido vista.

O homem e a mulher estavam andando pelo corredor agora; ela podia ouvir claramente as botas no mármore, estalando como o tilintar de porcelana.

Cada passo deixava os guardas mais perto dela.

— Como alguém passaria pela legi?o? — disse a mulher.

Legi?o?

Cleo estava construindo um exército.

Por quê?

O que ela estava planejando?

Isla n?o teve muito tempo para pensar.

Porque, um momento depois, a porta do quarto em que ela estava escondida se abriu.





CAPíTULO DEZENOVE


DEBAIXO D’áGUA





Os guardas n?o tiveram tempo para pegar suas laminas de gelo ou manipular a água que carregavam nos frascos presos aos cintos.

Antes que pudessem gritar por socorro, Isla os atingiu em seis lugares diferentes, pontos especiais que Terra a ensinou a atacar.

Seus músculos bambearam.

Um bom golpe na parte de trás da cabe?a de cada um, e eles caíram no ch?o, desmaiados. Nem uma gota de sangue.

Terra ficaria orgulhosa.

Quando parou, estava ofegante. A escalada, a luta; tinham exigido muita energia. Isla realmente n?o deveria estar fora da cama, muito menos no território de outro governante.

Tarde demais. Ela já estava aqui, e as coisas já estavam come?ando a sair do controle.

O mais silenciosamente que p?de, com toda a for?a que conseguiu reunir, Isla os arrastou para dentro do quarto, fechou a porta atrás deles e disparou pelo corredor.

Ou eles acordariam e pediriam ajuda, ou alguém perceberia que tinham sumido e pediria ajuda, ou alguém estava prestes a detê-la e ent?o pediria ajuda.

Estava claro que o tempo de ser uma sombra havia acabado.

Agora ela só precisava entrar na biblioteca. Com toda a velocidade que suas pernas enfraquecidas eram capazes de alcan?ar.

O próximo corredor estava vazio, mas o seguinte tinha quatro guardas, encostados na parede, queixo erguido, espada de gelo no peito como os quebra-nozes que ela vira uma vez no mercado. Ao som de seus passos, eles vieram à vida, virando-se na sua dire??o.

Hora de ir, pensou, fazendo outra curva e torcendo para que estivesse seguindo na dire??o certa.

O som de botas ecoava alto atrás dela, os ruídos crescendo à medida que mais guardas se juntavam à persegui??o. Isla correu o mais rápido que p?de, vestido branco girando atrás dela como uma nuvem de vapor. Seu peito produzia sons preocupantes com cada inspira??o. Seus ossos e músculos doíam.

Os corredores eram intermináveis. Isla pensou ter feito uma curva errada. Logo seria pega.

Talvez ela estivesse se afastando. Talvez tivesse ficado desorientada em sua tentativa de fugir dos guardas. Talvez...

Ent?o ela ouviu.

O mar, mais alto do que antes, ecoando como um trov?o. Uma besta fazendo as paredes do castelo tremerem com seu cerco firme.

A biblioteca tinha que estar por ali.

Ela partiu na dire??o do som do mar, seguindo sua for?a, estremecendo com a dor pulsante no bra?o, no peito e na cabe?a, como se os três estivessem tendo uma conversa. Quanto mais ela se aprofundava no castelo, mais os candelabros do teto balan?avam, cristais pálidos tinindo. Mais obras de arte estremeciam em seus ganchos. A maldi??o Lunar era implacável.

Quantos outros ciclos seriam necessários para o castelo simplesmente ser derrubado do penhasco, na boca do oceano à espera? Quando o mar seria recompensado por seus esfor?os e conseguiria reaver todo o palácio e seus habitantes de uma só vez?

N?o naquela noite, ela esperava, enquanto corria e corria e corria, mais rápido que os guardas, o mais rápido que conseguia sem desmaiar.

Até que ela quase bateu em uma parede.

Um beco sem saída.

N?o havia mais corredores. N?o havia mais curvas. Nem portas.

Apenas uma parede.

Ela se curvou, com as m?os nos joelhos, e come?ou a tossir, o frio no peito subindo pela garganta. Suas pernas vacilaram.

Os passos atrás dela se transformaram em uma debandada, e estavam se aproximando. Mais alguns segundos e estaria cercada.

O oceano fez outro ataque contra o palácio, furioso. Ela esperava, t?o perto do exterior, sentir o golpe nos ossos, o mar atingindo diretamente a pedra na frente dela.

Mas, enquanto se preparava para o impacto, a onda bateu, e a parede n?o tremeu tanto quanto deveria.

O que significava que havia mais alguma coisa atrás dela.

Enquanto os guardas faziam a curva, Isla vestiu as luvas de Celeste depressa e encostou nos tijolos.

As pedras come?aram a girar, um quebra-cabe?a se desmontando, mostrando uma porta.

Ela abriu. E Isla passou por ela, depois a bateu, esperando que ela desaparecesse novamente.

Os guardas eram uma enxurrada de sons do outro lado, alertando outros de sua equipe. A legi?o, talvez.

— Intrusa! — ela ouviu. — Na biblioteca!

Ela estava presa lá dentro. Encurralada.

Mas pelo menos agora sabia que tinha encontrado.

Isla se virou e viu uma biblioteca-geleira. Perfeito. Como se ela já n?o estivesse com frio o suficiente. Todos os livros estavam presos em paredes de gelo. Placas infinitas formavam fileiras, uma sala inteira de pergaminhos congelados.

Ela deveria ter suspeitado que Cleo teria restringido o acesso à biblioteca inteira, em vez de a uma se??o específica.

Um estrondo soou do lado de fora enquanto os guardas tentavam derrubar a parede.

N?o há tempo a perder. Ela disparou, correndo pelas fileiras gélidas, quase escorregando no piso de mármore coberto de gelo. Seus pés patinavam enquanto fazia a curva.

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