Lá dentro, o luar caiu sobre ela mais uma vez. Os andares acima gemeram, como se despertassem de um sono. Paredes de madeira rangeram em algum lugar. Ruídos normais de palácios antigos, Isla disse a si mesma. Algo estalou contra o vidro acima. Apenas um galho caído. Ainda assim, ela rapidamente percorreu seu caminho pelos corredores e quartos, parando apenas na parede dos fundos.
Ela havia visto, no início do dia, com Grim. E sabia que tinha que voltar.
Isla reconheceu a espiral na parede como uma porta. Era do mesmo formato daquela oculta em seus aposentos, sob um painel quebrado no armário. O mesmo lugar em que ela havia encontrado a varinha estelar, escondida entre as coisas de sua m?e.
Se os Selvagens tinham uma porta secreta, o que quer que estivesse dentro devia ser importante o suficiente para ser escondido. E ainda devia estar intacto, ao contrário do resto do palácio.
Ela sentia que o que estivesse ali dentro poderia ajudá-la, que aquele lugar guardava algo de que ela precisava.
Isla tinha que entrar.
Ela empurrou a porta espiral com todas as for?as, esperando que se abrisse com o esfor?o necessário, assim como a de seu quarto.
Mas ela n?o cedeu.
Isla estudou a parede e localizou uma lacuna. Um espa?o para uma chave. N?o… era muito longo para uma chave. A menos que fosse uma bem grande.
Ela procurou algo que combinasse com o design intrincado, um padr?o estranho como uma cordilheira em miniatura. Um casti?al pequeno parecia ter mais ou menos o tamanho certo. Ela tentou encaixá-lo no buraco, mas n?o entrou. N?o passou nem perto. Tentou obter algumas vinhas e moldar algo similar, mas quando girou como se fosse uma chave as vinhas quebraram.
Ela trincou os dentes. Se havia uma maneira de abrir a porta, tinha que estar em algum lugar ali dentro.
Isla subiu uma escada em caracol coberta de folhas mortas que estalaram como uma sinfonia sob seus pés. Vagou por corredor após corredor, sala após sala, feixes de luar como seu único guia. Minutos mais tarde, tinha nos bra?os uma por??o de objetos que poderiam caber no buraco. Um velho pente abandonado. Uma ta?a de champanhe fina. Um vaso solitário, para uma única flor. Uma harpa em miniatura.
Ela colocou objeto após objeto lá dentro, tentando usá-los como chaves, até a aurora espreitar através do palácio, banhando a entrada de vidro de violeta, mas nenhum deles funcionou.
A porta permaneceu fechada.
CAPíTULO VINTE E NOVE
O MOSTEIRO
Isla estava mais convencida do que nunca de que o cofre dos Selvagens guardava algo que ela poderia usar para encontrar o desvinculador. Ou ajudá-la de alguma outra maneira decisiva.
E se havia alguém na ilha que saberia o segredo para abrir aquela porta, era Juniper.
Ela entrou no bar no dia seguinte. Estava vazio, exceto por um homem sentado no canto de trás, chapéu sobre o rosto, como se estivesse cochilando, esperando a turma mais animada da noite.
— Minha Selvagem favorita — Juniper disse atrás do balc?o. Ele torceu as m?os. — A que devo o prazer?
Isla precisava fazer isso rápido. Com sorte, ninguém a tinha visto entrar no pub, e ela queria que permanecesse assim.
— Nobres Lunares tentaram me assassinar.
Pronto. Esse era o segredo dela.
A cabe?a de Juniper pulou para trás, como se essa notícia surpreendesse até ele.
— Que informa??o você procura?
Ela se inclinou para mais perto.
— O antigo palácio na Ilha Selvagem. O que você sabe sobre ele?
Ele apertou os lábios.
— Na verdade, n?o muito. Algo específico que você queira saber?
— Há algo escondido lá dentro? Se sim, você saberia como encontrá-lo?
Juniper franziu a testa. Parecia que ele n?o estava acostumado a n?o ter informa??es sobre as coisas. Isla teve que admitir que era um tiro no escuro. Os Selvagens n?o viviam em Lightlark havia centenas de anos, e ela duvidava de que a maioria dos ilhéus nem sequer sabia que o palácio ainda estava de pé, considerando seu estado de abandono.
— Pe?o desculpas, Governante, nunca ouvi falar de algo escondido no palácio Selvagem. A meu ver, qualquer coisa de valor deve ter sido saqueada há muito tempo.
Isla assentiu bruscamente. Ela sabia que as chances de alguém saber sobre o cofre eram poucas. Seu segredo teria que ser usado outra vez, para outro tipo de informa??o. Ela estava prestes a sair, mas Juniper continuou: — Contudo, sei algo sobre o Palácio de Espelhos.
Ela se sentou novamente. Juniper usara o nome do castelo, o mesmo que Grim tinha lhe contado.
— O que é?
— O Palácio de Espelhos é o único lugar na ilha onde todos os poderes, exceto os dos Selvagens, s?o reprimidos. Apenas as suas habilidades funcionam lá dentro.
O quê?
Apenas um encantamento poderoso poderia fazer algo assim. Ela nem mesmo sabia que uma habilidade como essa existia. O que estava no cofre devia ser o responsável.
N?o era a informa??o que procurava, mas foi o suficiente para deixar Isla desesperada para saber o que havia atrás da porta.
E fazê-la ter certeza de que, o que quer que fosse, poderia ajudá-la agora.
Isla voltou para a pra?a com mais perguntas do que respostas. Uma tempestade estava no horizonte. O céu acima estava cheio de nuvens escuras como uma matilha de lobos circulando, pelo cinza e tudo. Eles pareciam imitar sua mente perturbada.
— Como acha que esse vestido ficaria na chuva?
Grim. Ele estava encostado do lado de fora do bar, esperando por ela.
Ela piscou.
— Está me seguindo?
Indo de evitá-la completamente a segui-la… n?o fazia sentido. O que havia mudado?
O que ele estava procurando?
Grim levantou a sobrancelha.
— N?o. Eu estava aqui por motivos pessoais, e senti você.
— Me sentiu?
Motivos pessoais?
Ele assentiu.
— Suas emo??es, elas têm um tom… uma cor, quase. Eu sabia que você estava por perto.
Ela n?o sabia como se sentia em rela??o a isso. Queria saber que cor tinha, mas n?o perguntou. Em vez disso, levantou o queixo e disse: — Seu esquisito.
Isla virou-se para sair do mercado, e Grim caminhou com ela.
— Sabe, se você está pedindo informa??es a Juniper, recomendo tomar precau??es. Eu posso fazê-lo esquecer sua conversa, se quiser. Ou simplesmente amea?á-lo para que n?o diga nada.
Ela o encarou ao mesmo tempo que considerava aceitar a oferta. Juniper a ajudou, mas era impossível confiar em um dono de bar que negociava segredos.
Ela realmente esperava que Juniper soubesse como abrir o cofre no Palácio de Espelhos. Era evidente que exigia uma chave, uma que ela n?o tinha tempo de procurar.
Encontrar o desvinculador precisava ser seu foco.
No entanto, Isla tinha aquela certeza de que o conteúdo do cofre poderia ajudá-la a localizá-lo.
N?o conseguia explicar… mas a porta a atraía, falava com ela. Dizia em sua linguagem silenciosa que Isla precisava abri-la.
Se ao menos ela tivesse tempo e recursos para fazer isso acontecer…
— Você está decepcionada, Isla.
Ela piscou, e lá estava Grim, parado em seu caminho, observando-a. O castelo aparecia muito à frente, alto em seu penhasco como um gigante agachado.
Ela rangeu os dentes e parou.
— Eu te disse para n?o me analisar.
— E eu disse que n?o consigo evitar.
Ela cruzou os bra?os, a boca já aberta em resposta…