Lightlark (Lightlark, #1)

Outra pessoa apareceu, passando facilmente por eles, como se atravessar portais fosse t?o cotidiano quanto a chegada da maré. Ela se virou para Isla. Sua express?o fechada parecia vir t?o facilmente quanto os sorrisos da maioria das pessoas.

— Ent?o este é o novo bichinho de estima??o?

Uma brasa se acendeu no peito de Isla. Os demais reinos viam as mulheres guerreiras como sedutoras e selvagens, predadoras que atraíam amantes para depois se deleitarem com seus cora??es.

E Isla n?o podia culpá-los, na verdade. Porque isso era quase real.

Mas os Selvagens eram muito mais do que isso. Já tinham sido, pelo menos. E ainda poderiam voltar a ser.

Embora parte dela quisesse dizer algo do qual provavelmente se arrependeria, Isla sabia que a governante queria que ela revidasse. Ela desafiava o monstro a sair de Isla e mostrar ao resto deles que a Selvagem n?o era nada além de uma fera sanguinária. Em vez disso, Isla fez uma leve reverência para ela.

— é uma honra conhecê-la, Cleo — disse, abaixando a cabe?a em um cumprimento formal. Cleo era a mais velha entre eles, ainda mais que o rei de Lightlark, que também governava os Solares. Sua idade estava em desacordo com seu rosto jovem e perfeitamente sem rugas. Mesmo que a maioria dos governantes fosse centenas de anos mais velhos que Isla, era quase impossível perceber a diferen?a entre eles. Quase.

Em vez de proferir outro insulto, Cleo simplesmente levantou o queixo e, com um esgar, observou seu vestido verde de cima a baixo, como se Isla estivesse nua na ilha. Comparada com as roupas dos Lunares, era como se estivesse.

O vestido branco de Cleo tinha mangas compridas, brancas e leitosas como raios de luar, uma gola que chegava até o queixo e uma capa que cobria três quartos do seu corpo. A pele que Isla conseguia ver era t?o pálida que suas veias brilhavam, linhas azuis em uma placa de mármore branco. Ela era vários tons mais clara do que Isla e muito mais alta. Seus tra?os eram longos e angulosos nas ma??s do rosto e queixo, esculpidos como um diamante.

Uma última vez, a insígnia brilhou e uma garota deu um passo à frente, com um breve trope?o. Ela era como o prateado das estrelas, desde o cabelo longo e reto até o vestido cintilante e as luvas, que iam até os cotovelos. Sorriu timidamente para eles, o rosto em forma de cora??o se abrindo, ent?o disse, confiante:

— Acho que sou a última a chegar.

Cleo canalizou sua antipatia diretamente para a garota. A governante Estelar, assim como Isla, era nova. A maldi??o dos Estelares era das mais cruéis. Ninguém em seu reino vivia além dos vinte e cinco anos.

Isla deu um passo à frente e ofereceu sua m?o.

— Celeste, n?o é?

A Estelar sorriu de forma calorosa.

— Olá, Isla.

— Encantado — disse Grim, oferecendo uma reverência que parecia zombar da que Azul havia feito momentos antes.

O Etéreo franziu a testa por apenas um instante antes de oferecer a Celeste seus próprios dedos, agora brilhando com o diamante de Isla.

— Mais sangue novo. Estou com um bom pressentimento sobre este Centenário.

Cleo ergueu uma sobrancelha para ele.

— Espero que sim — disse ela, acenando para a Estelar. — Ela n?o estará aqui para o próximo.

O rosto de Celeste ficou sombrio. E a Lunar simplesmente se virou, a capa branca flutuando de leve atrás dela.

— N?o se sinta t?o especial — disse Azul com uma piscadela. — Ela é desagradável assim com todos.

Os governantes seguiram para o palácio, e o cora??o de Isla disparou de ansiedade. Ela estava t?o concentrada nos outros governantes que n?o tinha realmente observado seu entorno. No restante do século, a ilha ficava envolta em uma tempestade, mas agora as nuvens haviam se dissipado.

Lightlark era brilhante e cheia de penhascos brancos como ossos, a luz do sol recobrindo a ilha em camadas enevoadas de dourado. Uma das fontes originais, seu ch?o ainda vibrava com poder, cantando um canto de sereias para Isla. Ela podia sentir a for?a a cada passo, cada respira??o. Ela sorveu a paisagem ávida, como se fosse o vinho que nunca teve permiss?o de provar. Igualmente viciante e perigosa.

As li??es de Poppy passaram por sua cabe?a, fatos no papel que agora eram reais e sólidos diante dela.

Milhares de anos atrás, a ilha havia sido cortada em vários peda?os, para que cada reino pudesse reivindicar uma parte. Os Umbras deixaram a ilha logo depois para formarem sua própria terra. Os Selvagens partiram após as maldi??es. As partes que ficaram eram a Ilha da Estrela para os Estelares, Ilha do Céu para os Etéreos, Ilha da Lua para os Lunares e Ilha do Sol para os Solares. E havia o Continente, onde todos os reinos tradicionalmente se reuniam. Era a base do Centenário.

Historicamente, também era o lar da realeza de Lightlark.

O castelo do Continente apareceu nas proximidades, encarapitado no alto de um penhasco como uma joia de coroa, projetando-se precariamente para o mar. Grande o suficiente para ser sua própria cidade. O que era bom, considerando que seu principal habitante n?o podia deixar o palácio.

N?o durante o dia, pelo menos.

Isla devia estar encarando, porque Celeste suspirou ao seu lado.

— Você acha que ele está nos observando? — ela perguntou baixinho.

Ele. O governante dos Solares e rei de Lightlark. O último que ainda restava dos Originais, com sangue de cada um dos quatro reinos que ainda tinham presen?a na ilha. Ele podia usar todos os quatro poderes Lightlark.

E, segundo diziam, era insuportável.

Em Lightlark e além, o amor tinha um pre?o. Se apaixonar profunda e verdadeiramente significava formar um vínculo que dava à pessoa amada acesso completo às suas habilidades. Ela podia fazer o que quisesse com seus poderes. Usá-los, rejeitá-los. Até roubá-los.

Sabendo bem a quantidade de pessoas que queria ter acesso ao seu infinito fluxo de poder, o governante de Lightlark n?o confiava em ninguém. Era paranoico. Frio. Isla temia conhecê-lo. Especialmente por conta do primeiro passo do plano de Poppy e Terra.

Ela olhou para o castelo e resistiu ao desejo de recuar. Em vez disso, rompeu sua máscara de sedu??o e fez um gesto obsceno para o palácio.

O jogo tinha oficialmente come?ado.

— Espero que sim.

Multid?es os esperavam na entrada do castelo. Estelares. Lunares. Etéreos.

Na noite das maldi??es, quinhentos anos antes, todos os seis governantes pereceram. Seus poderes e responsabilidades foram transferidos para os herdeiros, e todos eles, exceto o novo rei, fugiram da instabilidade da ilha para criar novas terras, a centenas de quil?metros da ilha e uns dos outros.

Alguns súditos permaneceram em Lightlark.

Certa vez, Isla perguntou à anci? Selvagem por que alguém ficaria na constante tempestade amaldi?oada.

O poder está no sangue e nos ossos da ilha, ela dissera. Lightlark prolonga nossas vidas, nos dá acesso a um poder muito maior do que temos. E, mais do que isso, para muitos... Lightlark é um lar.

Nenhum Selvagem permaneceu. Ela n?o receberia ajuda de seu povo ali.

Estava sozinha.

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